Camundongos paralisados após lesão da medula espinhal recuperaram a mobilidade de suas patas traseiras seis semanas após o tratamento! Que bom seria se a notícia fosse com seres humanos e não com ratos, mas foi um enorme avanço nas promessas tão mencionadas dos estudos com células tronco, e a nanotecnologia está tendo um papel importante.
Cientistas da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, criaram longos fios que podem ser associados a células tronco, criando fios celulares vivos, que ao serem inseridos através de uma seringa no tecido podem regenerá-lo, podendo reparar o tecido do coração, da medula espinhal e servindo de matéria prima para os músculos artificiais.
O estudo foi publicado nessa semana na revista Nature Materials e é mais um exemplo de como a nanotecnologia vai e está mudando nossas vidas. Talvez uma revolução comparada a que surgiu com o advento dos computadores portáteis.
Os nanos fios ao serem misturados com água salgada formam um gel e passam a assumir uma dimensão macroscópica. Os filamentos podem ser fabricados em diversos diâmetros e as células troncos preenchem ou se integram a eles, e passam a se desenvolver na estrutura filamentosa.
“Injetando as moléculas que nós projetamos para se auto-organizarem em nanoestruturas no tecido espinhal, conseguimos recuperar rapidamente os neurônios danificados,” disse Stupp, um dos pesquisadores.
“Os nanofios são a chave não apenas para prevenir a formação de tecido cicatricial prejudicial, que inibe a cura da medula espinhal, mas também para estimular o corpo na regeneração de células perdidas ou danificadas,” explica o mesmo cientista.
Este estudo mostra como a religião pode atrasar ou até mesmo impedir o avanço da ciência em áreas cruciais como a medicina. Não faz muito tempo (2008) que o Superior Tribunal Federal (STF) decidiu pela permissão de estudos com células troncos no Brasil, o que fez com que nosso país se tornasse o primeiro da América Latina a permitir esse estudo. O artigo 5º da Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005) libera no país a pesquisa com células-tronco de embriões obtidos por fertilização in vitro e congelados há mais de três anos. Apesar de ser de 2005, a lei não permitiu as pesquisas imediatas, pois dois meses após sua publicação o procurador geral da republica entrou com uma ação direta no STF alegando inconstitucionalidade. O procurador representava diversas entidades religiosas.
O principal argumento é que as células tronco seriam seres vivos, um ser humano. Não entrando nesse mérito, o absurdo da proibição é que as células in vitro não utilizadas na fertilização são descartadas, então por que não serem usadas para pesquisas? O lixo é um destino melhor que o tubo de ensaio?
Ainda hoje existem religiões que proíbem a transfusão de sangue, mesmo que isso signifique a morte do paciente. Pais que preferem ver o filho morto a ter que desobedecer aos ensinamentos de sua religião.
Por este motivo a ciência não pode estar atrelada somente à tecnologia, mas também à educação. Estamos quase zerando o analfabetismo em nosso país, mas ainda estamos muito longe de zerarmos o analfabetismo científico. A ignorância nessa área é tremenda e não se restringe as classes economicamente desfavorecidas. Mas isso é assunto para um outro post, o analfabetismo científico. Aguardem.
Bibliografia:
A self-assembly pathway to aligned monodomain gels
Shuming Zhang, Megan A. Greenfield, Alvaro Mata, Liam C. Palmer, Ronit Bitton, Jason R. Mantei, Conrado Aparicio, Monica Olvera de la Cruz, Samuel I. Stupp
Nature Materials
July 2010
Vol.: 9, Pages: 594-601
DOI: 10.1038/nmat2778
http://www.nature.com/nmat/journal/v9/n7/full/nmat2778.html
http://ciencia.hsw.uol.com.br/celulas-tronco6.htm
Tags: células tronco;nanotecnologia, Ciência e Tecnologia, neurociência
julho 31, 2010 às 1:42 am |
Realmente, a sensação de estar à beira de uma revolução é assustadora haha. As mudanças sociais e científicas que o bom (e até mau) uso das novas tecnologias são muito profundas e talvez imprevisíveis.
Gostei do último tópico do texto, a questão do analfabetismo científico, que é talvez a maior questão relacionada à educação no Brasil e no mundo. Isso por conta de tal falta de contato não se solucionar com o ensino burocrático e institucionalizado dos, literalmente, produtos da história da ciência, mas sim com o ensino e (talvez poeticamente) compartilhamento da forma de pensar que é a Ciência. Espero o próximo texto!
Mas não acho que a crença religiosa entre no mérito dessa questão, diferentemente das pseudociências, exoterismos etc. Isso por conta da definitiva falta de alcance do pensamento científico (enquanto comprovação experimental) em relação as crenças divinas e suas implicações.
Abraço!
julho 31, 2010 às 6:43 pm |
Abordei a religião porque foram as entidades religiosas que se manifestaram contra o uso das células tronco. E a religião tb tem um longo histórico comprometedor. Mas aguardemos o novo post em breve espero.