Nessa próxima segunda feira se comemora o dia do professor. Muitos professores não poderão nem mesmo descansar nesse dia, pois o mesmo conta há bastante tempo, como dia letivo e ele deverá dar aula normalmente.
Não quero fazer aqui um post de queixumes. Amo minha profissão e sinto muito orgulho dela. Mas quero deixar um pequeno alerta, aliás, não sou eu quem o faz:
“Prestes a comemorar o Dia Internacional do Professor, nesta sexta-feira, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançou um alerta, apontando que a profissão em vários países emergentes está sob “forte ameaça” diante dos salários baixos.” 1.
O texto acima foi retirado de uma matéria do Jornal da Tarde de três de outubro de 2012, cujo título era: Professor brasileiro é dos mais mal pagos do mundo.
Segundo a matéria os baixos salários servem como um desestímulo à profissão, fazendo com que profissionais despreparados acabem sendo os responsáveis pela formação de toda uma nação.
A matéria se refere principalmente ao ensino fundamental, onde o salário é por período. No ensino médio e no ensino superior a maioria das escolas paga por hora-aula. O baixo valor dessa hora-aula praticamente obriga os professores a ministrarem uma quantidade enorme de aulas semanais, o que compromete a qualidade da preparação dessas mesmas aulas, e o aperfeiçoamento desse profissional.
Não acho que seja necessário falar da importância do professor para o desenvolvimento de um país, seja esse desenvolvimento econômico, tecnológico ou social. Como poderemos ter bons profissionais se o responsável por sua formação não está bem preparado?
Além dos baixos salários brasileiros e também por causa deles, a profissão não é valorizada nem pela maioria dos alunos, nem pela maioria dos pais dos alunos. Não falo em colocar o professor num pedestal, nem em tratá-lo como o único dono do saber. Mas em reconhecer que o ensino não se dá através de uma relação entre iguais, como diz Hannah Arendt, uma das maiores pensadoras do século XX em seu artigo: A crise na educação:
“Ora, na educação esta ambiguidade relativamente à atual perda de autoridade não pode existir. As crianças não podem recusar a autoridade dos educadores, como se estivessem oprimidas por uma maioria adulta — ainda que, efetivamente, a prática educacional moderna tenha tentado, de forma absurda, lidar com as crianças como se tratasse de uma minoria oprimida que necessita de ser libertada. Dizer que os adultos abandonaram a autoridade só pode, portanto significar uma coisa: que os adultos se recusam a assumir a responsabilidade pelo mundo em que colocaram as crianças. 2”.
Segundo Hannah Arendt o professor é possuidor de uma autoridade assegurada pelo conhecimento teórico que possui, dessa forma não se trata de uma relação entre iguais, não se trata de democracia. A autoridade (e não autoritarismo) é uma condição necessária para que o ensino aconteça.
A confusão entre autoridade e autoritarismo, a falta de respaldo por parte da instituição escolar, a desmoralização por conta dos baixos salários, o despreparo do professor, o clientelismo que tomou conta de quase todas as escolas particulares, são alguns dos motivos que fazem com que o professor seja desrespeitado em sala de aula, tornando o aprendizado e a educação algo impossível de acontecer, nessa situação.
Como reverter essa situação? Como fazer para que o professor volte a ter o respeito e a admiração que ele merece?
1 – CHADE, JAMIL. Professor brasileiro é dos mais mal pagos do mundo – Jornal da Tarde, 03 de outubro de 2012. Capturado em http://blogs.estadao.com.br/jt-cidades/professor-brasileiro-e-dos-mais-mal-pagos-do-mundo/ – Acesso dia 10/10/2012
2 – Arendt, Hanna – A crise na educação – Disponível em: http://rede.unifreire.org/pedagogia-noturno/arquivos/hanna-arendt-a-crise-na-educacao.pdf – acesso em 10/10/2012
Tags: educação brasileira, ensino; dia do professor; educação, Hanna Arendt
outubro 10, 2012 às 7:51 pm |
Oii Prof…mais uma vez parabéns pela bela forma de escrever…..enfim…acredito que as políticas públicas relativas a todo o setor educacional devam ser revistas e grandes investimentos realizados no setor afim de priorizar o ensino e valorizar a educaçao…..a valorização do profissional em questão viria como consequência….bjks!!
outubro 11, 2012 às 3:29 am |
OI Jéssica, excelente comentário. A questão como podemos pressionar para que essa mudança possa ocorrer? O voto é uma forma, mas muito difícil e pouco eficaz. O prouni está sendo um paliativo, permitindo que uma grande massa de pessoas tenham acesso a estudo um pouco mais qualificado do que a maioria do ensino básico e fundamental. Mas a solução vai acontecer quando a mudança ocorrer na base. beijo
outubro 11, 2012 às 9:56 pm |
Será que o professor é total responsável por uma educação? Se a criança é tratada como autoridade em casa, por que iria se por em uma outra posição na escola? Eu como aluno já ouvi varias vezes outros alunos dizendo “Eu que pago o salário desse cara!” Falta de respeito total, mas será que ele inventou essa frase, ou apenas reproduziu?
Basta-se apenas olhar na quantidade de lixo na rua, a incrivel competencia de orgãos publicos compostos pela população como a policia, foruns, hospitais e o transporte publico. Afinal como Lincon disse: “…e que o governo do povo, pelo povo e para o povo jamais desapareça da face da terra.” É fácil acusar o governo incompetente ( pois ele é!), o dificil é se colocar no mesmo patamar afinal fomos nós, talvez não eu e você mas nós, quem devemos fazer a diferença.
É nitida a diferença do ensino da escola publica e particular no Brasil. Mas qual é a diferença? Salários maiores, muito simples, no Brasil temos exelentes escolas particulares diferença está no salário. O respeito e o reconhecimento virão se não pela adimiração e vontade de aprender de alguns, virá pela condição socio-economica em que os professores se encontrariam.
Claro que não precisa deixar todo professor milionário, mas fala serio os professores ganham muito mal, minha mãe é professora, meu padrasto já foi professor, meu pai é professor e minha madrasta tbm. Não é facil a vida deles não.
outubro 12, 2012 às 4:03 am |
Concordo com quase tudo Nicholas, apenas um detalhe. As escolas particulares pagam muito mal no Brasil, a maioria pior ou igual as escolas publicas. São poucas as escolas particulares que pagam bem. você pode conferir isso pelo ranking do Simpro , sindicato das escolas particulares. Inclusive muitas delas não respeitam direitos trabalhistas. Geralmente pensamos em escola particular como ensino de excelencia, mas são poucas as esoclas assim, e a maioria em são paulo. Pelos interiores e periferia a historia é bem diferente. abraço
jacó
outubro 15, 2012 às 10:53 pm |
Acho que uma saída para essa situação pelo menos no ensino médio e fundamento diga-se a “base” , seria com que os professores ganhassem no minimo o semelhante ao salario de um profissional do setor privado, por exemplo: um professor de matemática deveria ter um salario equivalente ao de um engenheiro, um professor de química um salario equivalente ao de um químico e assim por diante, alem de acabar com esse sistema de progressão continuada, mudar o período letivo que hoje é anual para semestral e se o aluno não atingir a nota média em uma determinada matéria, ele refaz a matéria, dar a oportunidade do aluno poder escolher as matérias que ele deseja cursar a partir do ensino médio, faria com que o aluno talvez tivesse maior interesse igual acontece em outros países.
outubro 17, 2012 às 5:11 pm |
Pois é Hairan, concordo com você. O problema que o setor privado tem retorno financeiro e o público não, ensino não gera dinheiro vivo. Gera algo muito maior. enquanto a lógica for o capital a solução fica dificil. abraço
outubro 18, 2012 às 8:43 pm |
Discordo, como não tem retorno? O setor publico é o que mais tem retorno! ou melhor, só tem retorno!
Com o tanto de impostos que pagamos não da para aceitar que não paguem melhor os professores por falta de retorno… então quer dizer que temos que dar um retorno financeiro para os políticos para que eles comecem a investir em educação? isso é inadmissível, o que deveria acontecer é a população reivindicar seus direitos, mas infelizmente o povo é acomodado (me incluo nisso mais do que ninguém rs) e ninguém vai atras.
outubro 19, 2012 às 3:11 am |
Então hairan, claro que não devemos dar retorno financeiro aos políticos. Mas dificilmente um político investe em saneamento básico, pq esgoto não aparece, fica embaixo do asfalto. Não investe em saúde pq na hora da doença ninguem pensa em voto. não investe em educação porque um povo mais educado não vai eleger esse tipo de político. Quanto a população, não consegue se livrar do cabresto que lhe colocam, um cabresto chamado individualidade, consumo, ilusão.