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Quando a Ciência faz falta

julho 10, 2019
Resultado de imagem para o mundo assombrado pelos demonios

Um livro clássico de um dos maiores divulgadores da Ciência: Carl Sagan – Uma defesa apaixonada da Ciência e um alerta contra os riscos do analfabetismo científico 

Ontem (09/07/2019) eu recebi um vídeo do Iberê Thenório, youtuber que apresenta o famoso programa “Manual do Mundo” que, aliás, eu recomendo com veemência principalmente para as crianças. Nesse vídeo Iberê dá 15 dicas para não morrer de frio em casa: https://www.youtube.com/watch?v=nd_3GVsZmMw

Algumas das dicas são bastante óbvias, mas o interessante é que antes de fornecê-las ele conta um caso que aconteceu com ele, chamando a atenção para o perigoso fato de usar algo que entra em combustão para se aquecer, quando estamos em um lugar fechado. O risco de se morrer por asfixia é muito grande. Ainda no vídeo ele argumenta que isso não é tão improvável como podemos imaginar, citando várias manchetes de casos onde fatalidades ocorreram.

Infelizmente no dia de hoje acabo de ver no telejornal mais uma notícia trágica provocada pelo mesmo motivo: um casal e um bebê morrem em Guarulhos, provavelmente por asfixia, devido a queima de carvão em uma churrasqueira colocada no quarto:https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/07/10/casal-e-crianca-sao-encontrados-mortos-dentro-de-casa-com-churrasqueira-acesa-em-guarulhos.ghtml.

A perícia ainda não foi feita, mas o mais provável, segundo a reportagem, é que eles tenham sido asfixiados pela fumaça do carvão.

Peço perdão por ficar tanto tempo sem escrever e por voltar justamente com uma notícia tão trágica, já comecei diversos posts e acabo nunca terminando de forma satisfatória e assim o blog foi ficando totalmente desatualizado. Mas essa notícia, logo após aquele vídeo, ficou “gritando em minha cabeça” e me fez sentar aqui e tentar concluir um post sobre uma contradição muito grande que estamos vivendo como sociedade.

A internet permite a divulgação de notícias de uma forma inédita e poderíamos achar que com a massificação de seu uso uma grande revolução na divulgação de conhecimento aconteceria. Sem dúvidas não podemos negar que isso está acontecendo, ainda que eu não ache que seja uma revolução, mas ao mesmo tempo uma onda gigantesca de notícias falsas se espalha e o pior: uma corrente de desinformação que nega dados e fatos científicos torna-se cada vez mais comum e cresce de forma assustadora.

Não vou falar aqui sobre “fake News” nem sobre teorias da conspiração (já fiz vários posts sobre isso mas estão entre aqueles que não cheguei a terminar). Minha preocupação hoje é com algo mais básico, mais simples, e mais triste: O desconhecimento de noções básicas de Ciência.

É inegável que aprendemos noções básicas de sobrevivência e mesmo o senso comum nos ensina muita coisa. Nas aulas da licenciatura aprendemos que não devemos considerar os alunos como tábula rasa e sempre incentivá-los a nos trazer os conhecimentos prévios.

Não sei dizer se dentro do conjunto de noções básicas que aprendemos está “não produzir fogo dentro de um ambiente fechado”, mas me lembro de coisas como: “Não tome banho logo depois de comer”, “não misture leite com manga”, não coloque plantas no quarto onde se dorme”. Esses alertas são todos falsos ou exagerados e cada um deles possui uma explicação de como surgiram ou hipóteses para o seu surgimento.

É muito comum o uso do fogo para nos aquecer, principalmente à noite. Fogueiras em acampamentos e lareiras são utilizadas desde que nossos antepassados descobriram como dominar o fogo. Talvez por isso as pessoas não se deem conta do perigo que isso pode trazer quando levamos o fogo para um ambiente fechado.

O que eu realmente gostaria de refletir com vocês é sobre o seguinte, entre todos os experimentos simples que fazemos ou mencionamos na escola, um dos mais famosos é o de cobrir uma vela acesa com um copo. Não importa se estou falando com uma classe de crianças de 10 anos, de adolescentes ou de adultos, o comentário, antes mesmo que eu faça a pergunta é quase sempre unânime: a vela vai se apagar. E a grande maioria da sala sabe corretamente o por que dela se apagar: falta oxigênio.

A chama da vela, como qualquer combustão exige: combustível, calor e oxigênio para se manter. Estando em um ambiente fechado o oxigênio vai sendo consumido.

Essa experiência deveria soar como um alerta para que as pessoas não fizessem fogo ou queimassem coisas em ambientes fechados, mas infelizmente essa transferência de conhecimento parece não acontecer.

Essa separação entre o que aprendemos em Ciências e sua aplicação no mundo real vem sendo discutida na educação há bastante tempo, e até já evoluímos um pouco. A internet, principalmente com programas como o Manual do Mundo e outros, contribui bastante para essa divulgação. Porém essa corrente contrária, que joga contra, que dissimula teorias da conspiração, que propaga pseudociências e notícias sensacionalistas parece ser muito maior.

Qual seria o motivo de darmos mais importância ao sensacionalismo mentiroso do que as notícias realmente importantes? Por que a Ciência atrai menos do que o “reality show” ou notícias de fofoca?

Uma possível explicação seja o fato de que a Ciência não é tão simples, e que os cientistas também não se contenham em “meias verdades”. Queremos sempre explicar os detalhes, e deixar claro que não são verdades absolutas. Voltando ao caso citado da asfixia: A explicação para a morte de pessoas em um quarto fechado não se deve a “queima de todo o oxigênio do quarto” como poderíamos achar a partir do experimento do copo. A questão é mais complicada.

A queima de um combustível orgânico como carvão, vela, gasolina ou álcool sempre libera dióxido de carbono e água. Mas quando a combustão é incompleta outro gás é também liberado, o monóxido de carbono. Esse gás é o responsável pela asfixia. Uma vez inalado ele se une a hemoglobina a qual é responsável pelo transporte de oxigênio para as células. Ao se ligar ao monóxido de carbono não ocorrerá a ligação com o oxigênio da nossa respiração, ocorrendo assim a asfixia.

A busca por respostas simples e fáceis ao invés de uma extensa explicação pode ser o motivo dessa fuga pelo interesse da Ciência? Ou será a necessidade do fantástico, do misterioso do sensacional? Ou apenas preguiça de ter que pensar um pouco mais?

A psicologia social talvez tenha essas respostas. Eu não as tenho e me preocupa muito o fato de que vários alunos de engenharia agem também dessa maneira preguiçosa. Engenharia, Medicina, Computação são áreas que dependem totalmente da Ciência. Como pode um aluno desses cursos não se interessar por Ciência? Como podem não valorizar a raiz de suas profissões?

Nossa sociedade precisa de poesia, arte, esportes, economia, saúde, educação, música,  história, nutrição, sexo, entretenimento, filosofia e tantos outros saberes. A Ciência é só mais um desses saberes. Mas cada uma dessas coisas é que nos faz diferente dos outros animais. Cada área do conhecimento faz parte de nossa cultura. Cada uma delas faz falta. Não deveria ser preciso escrever sobre isso. Não deveria ser necessário lutar para garantir que TODOS tenhamos acesso a cada uma delas.

A Ciência faz parte de nossa cultura. Negá-la faz de você menos humano. Como indivíduo,  Ignorá-la pode ser perigoso. Como sociedade, menosprezá-la será um desastre.

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Um texto muito interessante

janeiro 28, 2013

Eliane Brum é uma jornalista que escreve muito bem e costuma questionar o “poder” que é dado à ciência e aos cientistas. Mais uma vez ela aborda um caso bem curioso, cientistas condenados a seis anos de prisão por homicídio culposo (sem intenção de matar) por não terem conseguido prever a ocorrência de um terrremoto na itália. O texto é longo, mas muito interessante.

 

O terrremoto que abalou a ciência

(Caso não seja direcionado para o site, copie o link em seu navegador):

http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/10/o-terremoto-que-abalou-ciencia.html