Archive for the ‘Cinema e Tecnologia’ Category

Dark – A opinião de um professor de Física – Parte 2

julho 30, 2020

Aviso: Não contém Spoiler

Na primeira parte deste post procurei focar minha opinião com respeito a viagem no tempo e seus paradoxos abordando-os através do olhar da Física. No entanto não forneci minha opinião sobre o que eu acho da série.

Nessa segunda parte procurarei fazer uma crítica da série mas deixando claro de que se trata de uma opinião pessoal e relembrando que não tenho competência na área artística, nem muito menos no que se refere ao cinema e a TV. Trata-se apenas de considerações pessoais de um apaixonado por ficção científica e procurei fazer isso antes de ler os diversos sites que “explicam” ou comentam sobre a série, dessa forma espero não estar muito contaminado.

Quando comecei a assistir à primeira temporada não me empolguei muito com Dark. Isso porque quando assisto a uma série gosto de ter pelo menos um(a) personagem com o qual eu me identifique, aquele(a) por quem você vai torcer ou sentir que ele(a) poderia “ser seu(sua) amigo(a)”. Não senti que Dark tenha isso, talvez nos episódios finais da terceira temporada apenas.

Também não é uma série muito dinâmica, cheia de ações e emoções, ao contrário trata-se de uma série, como o próprio nome já sugere, sombria e até meio depressiva. Que passa em um ritmo um pouco mais lento do que as séries de aventura ou ficção científica costumam ser.

Mas evidentemente que a série é intrigante e não se torna cansativa, apesar de dar um pouco de sono por conta da fotografia escura, mas que tem a ver com o clima de mistério que se pretende. Além da fotografia escura não podemos esquecer da chuva quase incessante ao longo de todas temporadas, motivo até de comentários engraçados como esse feito na foto de Louis Hofmann no Instagran de Netflix (e respondido por eles).

Para quem como eu está tão acostumado com o padrão hollywoodiano é muito bom ver uma série alemã. Claro que o fato da produção ser da Netflix, uma companhia americana, talvez invalide esse meu apontamento. Ainda assim só a questão da língua já traz uma boa novidade e o fato dos criadores, da série Jantje Friese e Baran bo Odar serem alemães ( Baran nasceu na Suíça, mas tem nacionalidade alemã) também é um argumento a favor desse ritmo um pouco diferente.

Dark é muito bem construída para ser uma série de sucesso. Não é apenas a riqueza da sua complexidade e trama difícil. Isso alias poderia afugentar o grande público. O mero fato de ter suspense e ficção científica e abordar viagens no tempo não é suficiente para prender a atenção. Esse tema está sendo amplamente usado em diferentes obras e muitas vezes é um desastre.

Percebe-se o cuidado com o qual ela foi realizada desde a abertura (cujo entendimento ficará melhor explicado após a terceira temporada) e cuja música é primorosa (me lembra o tema de abertura da série Vikings): “Goodbye”, do projeto Apparat do músico alemão Sascha Ring com participação do Soap & Skin. A trilha sonora é bem cuidada e a sonoplastia para causar suspense me lembra bastante outra série de enorme sucesso: Lost, transmitida de 2004 a 2010 produzida pela ABC Studios e transmitida pela Walt Disney Studios.

Podemos fazer outras comparações de Dark e Lost, pois ambas souberam prender a atenção do público introduzindo um mistério atrás do outro antes de começar a solucioná-los. E aí está um ponto a favor de Dark em relação a Lost. A antiga série que se passa em uma ilha misteriosa deixou a desejar por prometer e não solucionar a maioria dos mistérios, enquanto que em Dark não há exatamente um mistério mas sim uma trama muito bem feita a partir do entrelaçamento das árvores genealógicas. Lost também usa vários conceitos de Física, inclusive viagens no tempo e foi mestre em abusar do recurso de retrospectivas pessoais, através dos flashbacks, flashforwards e flash-sideways. Dessa forma além da história que se desenvolvia na ilha, histórias paralelas surgiam no passado (ou no futuro) dos personagens.

Dark usa a mesma estratégia, mas as histórias não são exatamente paralelas, são intrincadas histórias de vida de seus personagens que se cruzam e se misturam. Passado, presente e futuro estão interconectados não apenas com seus personagens mas também com os objetos e a história da própria cidade onde eles vivem. Estamos acostumados a ver o passado influenciando o futuro, mas em Dark o futuro interfere no presente e até no passado como em um conto de Jorge Luis Borges, escritor argentino mestre em brincar com o tempo e com o infinito.

Confesso que estava com medo dos criadores de Dark se perderem no enredo como acho que aconteceu com os criadores de Lost. É muito grande o número de fãs da antiga série que diz que ela deveria ter terminado na quinta temporada, como estava previsto, mas uma sexta foi acrescentada e jogou um banho de água fria em toda excelente criação anterior.

Há dez anos fiz aqui nesse blog um post sobre Lost (clique no link para ler o post): https://12dimensao.wordpress.com/2010/04/06/lostquando-a-ficcao-encontra-a-fisica/. A série não tinha ainda sido finalizada e a espectativa era grande.

Felizmente Dark não cometeu o mesmo erro, Jantje Friese e Baran bo Odar não se deixaram levar pela ganância e anunciaram que a série acaba mesmo em três temporadas. Uma continuação após a terceira me parece despropositada já que a história toda fez muito sentido no último episódio (se é que posso falar isso sobre uma história tão complexa).

Seria possível fazer comparações com outros filmes, séries e episódios de “Além da imaginação” ou “Doctor Who”, mas isso deixaria o post muito extenso e repetitivo. Vou apenas fazer mais alguns comentários sobre o filme Interestelar que também já analisei aqui no blog: https://12dimensao.wordpress.com/2015/05/03/interestelar-ha-muito-tempo-nao-viamos-um-filme-assim-2/

Interestelar não faz uma trama tão intrincada como Dark, nem brinca com os parentescos dos personagens, mas assim como em Dark, ouvi muita gente falando: “Não entendi nada”, “Por que o personagem está mais novo que sua mãe?”, “O que é aquele cubo?” etc. Mas não acho possível comparar essas duas obras. Interestelar é um filme de 2 horas e 49 minutos e não uma série de 3 temporadas. Além disso Interestelar passou pela consultoria do físico teórico Kip Thorne, premio Nobel em 2017, sendo portanto uma obra de ficção científica que tem como pano de fundo exóticas, mas precisas hipóteses científicas, e que conta com um excelente enredo dos irmãos Jonathan e Christopher Nolan, com direção de Christopher, já consagrado por outros grandes sucessos como: Memento (2000) (Aminésia); Insônia (2002); Batman Begins (2005); O grande truque(2006); Batman The Dark Knight (2006); A origem (2010), etc.

Em Dark ouvimos o narrador falar sobre algumas teorias Físicas e conceitos como a Relatividade de Einstein, entrelaçamento quântico, gato de Schorodinger, Teoria dos muitos mundos. Mas a série usa esses conceitos de forma livre, sem muito compromisso com a fidelidade científica. Matéria escura, bóson de Higgs, radioatividade são mencionados totalmente fora do contexto físico, uma espécie de “licença poética”.

Já interestelar abusa da ficção apresentando tecnologias que não existem, como a criogenia de seres humanos, naves espaciais supertecnológicas e a manipulação da gravidade, mas isso tudo está baseado em hipóteses científicas que já existem ou que possam vir a existir algum dia.

Comparações a parte, Dark conquistou minha admiração. Meu interesse pela série foi aumentando a cada temporada e mesmo não sendo uma das mais querida considero uma grande obra de ficção científica e uma excelente trama, que dá um nó em nossas cabaças.

Caso você queira entender melhor a complicada árvore genealógica de Dark consulte o site: https://dark.netflix.io/pt . Ele permite que você diga em que episódio está para não receber spoilers.

Na parte 3 deste post pretendo falar mais um pouco sobre conceitos físicos já que na terceira temporada novos conceitos surgiram. Aguardo os comentários e dúvidas..

Publicidade

Black Mirror – a mais imperdível das séries

janeiro 26, 2017

blackmirrortitlecard

Leitores queridos, mil desculpas por deixar o blog tanto tempo parado. Nesse ano novidades acontecerão: Trarei convidados para me ajudarem a manter o blog mais ativo.

Resolvi abrir o ano falando sobre essa série, que não posso considerar como a melhor série de todos os tempos porque seria uma tremenda injustiça com Game of Thrones.

Por que falar sobre séries em um blog de ciência e tecnologia?

Porque o tema de Black Mirror é justamente um olhar crítico sobre a tecnologia. É uma série que pode ser vista com calma (não há aquele risco de “não consigo parar de ver”), cada episódio é independente um do outro. Nem mesmo os atores são os mesmos. A única coisa que liga um episódio ao outro é a questão da tecnologia um pouco avançada (em alguns episódios talvez bastante avançada). Apesar de ser de ficção científica a série não é ambientada em um futuro muito distante.

A distopia está presente em praticamente todos episódios. Mais do que uma crítica, é uma espécie de alarme: “olhe onde podemos chegar”, “estamos caminhando para isso?”

Black Mirror foi criada pela TV britânica Zeppotron em 2011, por Charllie Brooker, que lançou duas temporadas, cada uma com apenas três episódios e então foi adquirida pela Netflix que produziu a terceira temporada com seis episódios.

Apesar de estar situada um pouco no futuro, com avanços tecnológicos que hoje ainda não existem, os episódios acertam em cheio em questões bem atuais e nos dramas que nossa sociedade enfrenta: superexposição, necessidade de aceitação, banalização dos direitos humanos, invasão de privacidade, os reality shows e as redes sociais.

Pensei em contar um pouco sobre alguns episódios, mas é impossível descrever o sentimento que nos toma após o término de cada episódio. Talvez por isso seja uma série pra se ver devagar, pensando sobre o que acabamos de ver, e que nos perturbou tanto. Não é uma perturbação por ser violenta ou por causar medo do sobrenatural, é uma incômoda porque nos reconhecemos naquelas atitudes, ou porque percebamos que nossa sociedade está caminhando para aquilo, uma caminhada bem preocupante.

Não é preciso dizer como o celular causou impacto em nossa sociedade. A série explora a possibilidade de outras tecnologias (algumas que até já existem) impactarem ainda mais. Muito difícil terminar de ver um episódio e não desejar discutir com alguém sobre aquilo.

Fica o convite para que você assista e volte aqui e deixe seu comentário. Diga qual episódio gostou mais. Podemos falar também sobre o quão distante está aquela tecnologia.

O episódio que eu mais tinha gostado foi justamente o primeiro que assisti: Episódio 3 da primeira temporada:  “The entire history of you”: Toda sua história. Vi fora da ordem, não há nenhuma necessidade de ver na ordem.

Mas após assistir à terceira temporada completa, meu preferido se tornou o episódio 6 desta última: “Hated in the Nation”: Odiados pela nação.

Se você gosta de um bom drama (não melodrama), gosta de tecnologia, ou não gosta de tecnologia. Então gostará de Black Mirror.

 

Quem quer ser um super herói?

agosto 8, 2012

Que garoto ou garota nunca sonhou em ser um super-herói?

Quando dou aula sobre radioatividade sempre surge a pergunta se a radiação pode gerar uma mutação que te dê super poderes.

A maioria dos super heróis possui poderes especiais, mas a tecnologia pode e ajuda alguns deles. Bruce Wayne, alter ego de Batman e Tony Stark, o homem de ferro, não possuem nenhum poder, são “seres humanos normais”, mas com muito dinheiro e muito preparo físico, alem de excelentes lutadores.

Apesar do exagero óbvio dos filmes de ação, os aparelhos utilizados por esses heróis não são apenas obra da ficção, existem versões parecidas no mundo real.

O site abaixo mostra alguns itens usados pelo homem morcego e apresenta algumas versões reais.

http://www.tecmundo.com.br/4332-a-tecnologia-dos-super-herois-batman.htm

Uma das coisas mais legais do Batman é o cabo que permite a ele subir rapidamente em um prédio, o site mostra uma versão real um pouco mais lenta e com um tamanho bem maior do que o do filme, mas que já está sendo utilizado pelo exército e pelo corpo de bombeiros em algumas cidades.

Já para se tornar o Ironman você precisaria desembolsar módicos 3,2 bilhões de reais (U$ 1,6 bilhão), só a armadura custaria em torno de 1,3 bilhões de reais.

O site abaixo fornece detalhadamente quanto custa em média cada item, incluindo aqueles carrinhos que ele usa e destrói nos filmes

http://collider.com/wp-content/uploads/cost-of-being-iron-man-infographic.jpg

Olhando esses custos talvez seja melhor investir em outras medidas para melhorar o mundo do que combater o crime, mas que eu queria dar uma voltinha naquela armadura eu queria.

PS: Gostei bastante do novo filme do Batman, segue a mesma linha dos outros dois, mas confesso que quase sai do cinema de raiva quando eles colocaram Gotham City dentro dos estados unidos, que baixaria.

 

A origem: cinema e tecnologia, imaginação e arte, subconsciente e geometria, efeitos especiais e inteligência.

agosto 18, 2010

Na semana passada assisti ao filme: “Inception” intitulado no Brasil: A origem e estrelado por Leonardo DiCaprio. O filme foi escrito, produzido e dirigido por   Christopher Nolan,  o mesmo diretor  dos novos filmes do Batman: “Batman Begins” e “O cavaleiro das trevas”. Nolan também é roteirista do excelente Memento (no Brasil: Amnésia ) de 2000.

A origem pode ser classificado como um filme de ficção científica, na mesma linha de Matrix. Inclusive a temática é parecida, a grande questão: o que estamos vivendo é a realidade? Também nesse filme, assim como em matrix, os personagens podem entrar numa espécie de mundo virtual, mas nesse caso este mundo pertence ao sonho de alguém.

Em “Mullholand Drive” (No Brasil: Cidade dos sonhos) um drama de 2002 do diretor David Lynch, ficamos perplexos com a confusão que o diretor nos coloca ao transformar o filme num verdadeiro sonho. Agora Nolan nos insere no sonho de um personagem e de dentro do sonho somos enviados a outro sonho e mais outro, como se fosse uma “matrioshka”, aquelas séries de bonecas russas que ficam umas dentro das outras.

Matrioshka - as bonecas russas

É preciso estar bem acordado para ver o filme, mas a complexidade de A Origem de Nolan não chega nem perto da de Cidade dos Sonhos de Lynch. Mesmo assim o filme vale muito a pena, por ter uma idéia inteligente, atores excelentes e imagens impressionantes. O filme ainda pode agradar aos fãs de filmes de ação pois toda a questão sobre sonhos e realidade servem como pano de fundo para um tema bem batido, o crime perfeito. Dentro disso não faltam tiros e perseguições, que a meu ver são a parte fraca do filme. Talvez por saber que os personagens estavam dentro de um sonho, fica dificil “entrar no filme” nas partes que envolvem a ação.

O que mais me agradou no filme, e que me motivou a escrever aqui no blog, é como o filme casa tão bem efeitos especiais e ficção científica. É uma pena que a maior parte dos filmes de efeitos especiais sejam sobre catastrofes, destruições do planeta, ataques de monstros ou alienígenas. A carência de roteiros inteligentes, para filmes que contenham esses efeitos, acaba levando a um preconceito de que efeitos especiais e qualidade são inversamente proporcionais. Mas Nolan já havia mostrado sua competencia em Amnésia. Um filme cujo enredo é muito simples e barato, mas que ao ser montado de tras para frente transformou-o num excelente filme. Lembro-me que ao assisti-lo no cinema pela primeria vez, fui ficando muito incomodado com a confusão inicial, mas quando o filme acabou tudo fez sentido e foi uma sensação ótima de compreensão, como se um enorme quebra cabeça tivesse sido montado em alguns segundos. Engraçado que no filme Cidade dos Sonhos de Lynch a sensação foi exatamente ao contrário, uma imagem que parecia pronta, é despedaçada a medida que o filme vai terminando e quando acaba, a sensação é que faltam peças para montar o quebra cabeça.

Mas voltando ao filme A Origem, outro detalhe que merece destaque aqui são as referencias, não citadas, ao artista gráfico M. C. Escher. Mestre da ilusão de óptica, Escher utiliza, de forma brilhante, elementos da geometria e do infinito para criar cenas impossíveis e perturbadoras, como a água que sempre desce mas que retorna ao ponto de partida ou escadas que sempre sobem. O filme explora bem isso, já que nos sonhos, nosso subconsciente pode criar cenários inusitados.

Vejam abaixo algumas obras de Escher e o video do trailer do filme.