Archive for the ‘Ecologia’ Category

Quando o cientista presta um desserviço

maio 12, 2012
Quem costuma entrar semanalmente aqui no Décima Segunda Dimensão sabe que sou um defensor do pensamento cético e da importância do saber científico. Não poderia ser diferente, uma vez que escolhi a profissão de professor de uma área científica. No entanto procuro sempre me policiar para não passar uma visão errada de como a ciência trabalha. Busco deixar claro que a ciência não é a dona da verdade, que ciência trabalha com modelos e não com verdades absolutas. Que não há um porta voz da ciência, que para algumas teorias ou hipóteses pode haver um grande consenso, mas que isso não é uma regra geral, há inúmeras teorias que são conflitantes e inúmeros debates na ciência.

É assim que a ciência funciona, pelo debate, pelo eterno questionamento, pela dúvida. Dúvida que se estende até mesmo às teorias já consolidadas. Mesmo depois de quase trezentos anos do domínio de Newton na mecânica, sua teoria foi derrubada pela Relatividade de Einstein. A única certeza que temos na ciência é que suas verdades são provisórias. Mas isso não faz com que tudo seja relativo, isso não significa que não possamos emitir opiniões e de afirmarmos como as coisas funcionam, ou não proíbe que previsões sejam feitas (e muitas inclusive se verificam).

Na semana passada um cientista da área de climatologia apareceu no programa do Jô Soares e fez afirmações bem polêmicas. Como acabei de afirmar nos parágrafos acima, a polêmica é um dos ingredientes que movem a ciência, junto com a curiosidade é a responsável pelas grandes descobertas. Mas não concordo com o modo como esse cientista fez essas afirmações.

Ao ser apresentado como especialista em climatologia e professor da USP, sua autoridade não tem como ser questionada no programa, por isso acredito que ele deveria ter agido com mais responsabilidade.

Mas o que foi que essa pessoa afirmou que me indignou tanto?

Na verdade não foram suas afirmações. Não foi o fato de ele afirmar que não há aquecimento global, não existe efeito estufa, não existe camada de ozônio, que se a floresta Amazônica for destruída completamente se recupera em vinte anos, e que as ações do homem são todas insignificantes e contidas a uma mudança local, sem impacto no planeta como um todo. Acho importante que existam pesquisadores que façam o contraponto, que pesquisem e apontem erros naquilo que quase todos estão certos. A unanimidade é burra já dizia Nelson Rodrigues. O problema, como já disse, foi a forma COMO ele fez essas afirmações.

Ao fazer essas afirmações, o dito professor não deixou margem a dúvidas. Fez parecer que há uma grande conspiração para enganar todas as pessoas do planeta, sobre as previsões climatológicas. Eco-92, IPCC, Rio +20 essas reuniões todas de cientistas e especialistas não passam de conspiração para que novos produtos sejam inventados e para que se mantenha o consumo desenfreado.

Com ironia e sem apresentar trabalhos técnicos atuais ele simplesmente disse que os “cientistas sérios” não acreditam nessas previsões alarmistas. Mas ele não disse quem são os cientistas sérios, acusou os outros de “cientistas chapa-branca” financiados por governantes desses países que querem manter a produção desenfreada.

Dessa forma a impressão que ele passou, e pude constatar isso através de alunos que assistiram ao programa, foi que somos um bando de otários preocupados com a ação do homem sobre a natureza, sendo que essa ação seria muito pequena. Estamos sendo enganados ao defender um desenvolvimento sustentável, que cause menos impacto ao meio ambiente.

Como se tratava de uma entrevista em um programa que é mais de humor do que informativo devemos dar um desconto à atitude do cientista. Jô Soares é mestre em interromper o entrevistador e de não deixá-lo concluir um assunto, emendando uma pergunta na outra e ridicularizando muitas vezes a explicação. Nem que para isso ele finja desinformação (eu duvido que o Jô Soares não saiba que a Amazônia não é o “pulmão do mundo”). Mas enfim, muita coisa foi dita e muitos assuntos foram misturados de tal forma que ficou tudo muito confuso.

Deixe-me dar um exemplo de duas coisas diferentes que no programa se misturaram: O aquecimento global e o efeito estufa. Há uma enorme confusão entre esses dois conceitos.

Efeito estufa existe sim, e é graças a ele que temos uma temperatura média no planeta que permite a existência de formas de vida como a nossa. Nosso planeta possui uma atmosfera formada basicamente de nitrogênio e oxigênio, 70% de nitrogênio e 29% de oxigênio. Os outros 1% restantes são formados por diversos gases, o vapor de água, o metano, o dióxido de carbono (CO2), o enxofre, entre outros. O vapor de água, o metano e o dióxido de carbono são os principais gases estufa da atmosfera. Eles permitem a entrada da luz solar e dificultam a saída do infravermelho, radiação emitida pelos corpos que foram aquecidos por essa luz solar. Esse fenômeno acontece em uma escala bem menor no interior de um carro que está com os vidros fechados sob o Sol. Se não fosse o efeito estufa nosso planeta seria como a Lua, que durante o dia pode atingir 70oC e a noite −20oC (a presença de água em nosso planeta também é importante para diminuir essa flutuação térmica).

Chamamos de aquecimento global a elevação da temperatura média do planeta. Esse aumento de temperatura pode ser provocado por vários motivos e ao longo da história evolutiva de nosso planeta há períodos de aquecimento global e períodos de resfriamento global.

Não há dúvida sobre esses dois conceitos. Há diversas maneiras de se estimar qual era a temperatura do nosso planeta em eras passadas, e esses períodos de aquecimento e resfriamento podem ser comprovados. A grande discórdia ocorre sobre qual seria o impacto da ação do ser humano no clima do planeta como um todo, o chamado aquecimento global antropogênico.

Concordo que há um exagero nas consequências de um possível aquecimento global. Um catastrofismo exacerbado que procura através do medo, despertar a consciência ecológica das pessoas. Esse tratamento ocorre principalmente na mídia em geral. Sempre com matérias sensacionalistas, grandes inundações, secas, tempestades, furacões. Nos filmes então, melhor nem começar a falar sobre isso.

Meu amigo e professor de geografia do Colégio Oswald, Amadeu, me indicou um documentário feito pela BBC: A grande farsa do aquecimento global (The Great Global Warming Swindle) produzido por Martin Durkin e exibido pela produtora britânica  Channel 4.

Como o próprio Amadeu havia me adiantado há visões bem conservadoras e neoliberalistas no documentário. Ele é totalmente parcial, e denuncia uma espécie de complô para tornar o aquecimento global um fato inquestionável, defendido por toda comunidade científica. O filme entrevista diversos cientistas que se opõem a essa visão e afirmam serem perseguidos por essas opiniões. Ele apresenta dados históricos para explicar de onde essa idéia surgiu e argumenta que não há evidências científicas que comprovem um aquecimento global provocado pela ação do ser humano, afirmando que a transformação do CO2 em vilão é um absurdo. A provável causa do aquecimento (em outras eras e também no século XX) seria o Sol (aumento das explosões solares). O interessante é que eles condenam a transformação do CO2 em vilão e fazem a mesma coisa com o Sol.

Mas é importante assistir ao documentário justamente para se criar a dúvida, para manter-se alerta, para aprender a ser cético. Uma afirmação interessante feita é a justificativa da grande adesão de vários cientistas à defesa da visão catastrófica do aquecimento global antropogênico. O motivo seria o fato disso render dinheiro na forma de financiamento de suas pesquisas. Isto é muito sério, pois é evidente que pode distorcer os resultados ou pelo menos criar um viés em quem faz a pesquisa (se estou sendo pago para combater o aquecimento global é importante mostrar o perigo que ele pode trazer). Na verdade essa prática na ciência é muito comum. Vários projetos científicos começaram com interesses militares. A ciência está cheia de exemplos de imposturas1.

Mas diferentemente da entrevista do programa brasileiro, o documentário possibilita, ainda que de forma tendenciosa, a compreensão de como a ciência trabalha:

a) Existem dados que são obtidos de experimentos (normalmente já direcionados para certa investigação).

b) Esses dados são interpretados a partir de modelos criados.

c) Essas interpretações são divulgadas (ou não! Como o documentário denuncia).

d) Essas interpretações são compreendidas (ou não) pela sociedade.

Portanto, fica claro que as afirmações feitas pelos cientistas não são verdades absolutas. São afirmações baseadas em modelos. Na entrevista do programa do Jô, o cientista entrevistado combateu o alarmismo sobre o aquecimento global antropogênico, utilizando a mesma tática que ele criticava. Usando sua “voz de autoridade” fazia afirmações contundentes de que tudo era besteira, e de que nenhum cientista sério levava aquilo tudo em consideração.

A impressão que eu tive é que ele estava mais preocupado em gozar seus quinze minutos de fama do que em esclarecer, e é por esse motivo que não menciono o nome dele aqui.

Levantar polêmicas e ir contra o senso comum são maneiras de se ter o nome divulgado, de ser comentado. Em agosto de 2008 “Um grupo de cientistas apresentou uma denúncia perante o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em Estrasburgo, para que seja paralisado o teste do Grande Colisor de Hádrons (LHC), da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern), diante do risco de que um buraco negro seja gerado.”2. Há grupos de médicos, jornalistas e ativistas que afirmam que a AIDS não é uma doença contagiosa e/ou que não há relação entre o vírus HIV e a AIDS. É comum também a afirmação em diversos sites de que o homem nunca tenha ido a Lua, que tudo não passou de uma farsa.

O entrevistado do programa  não me pareceu um ativista pró-teoria da conspiração, mas como cientista e professor, principalmente sendo de uma escola pública, ele tem deveres para com a sociedade e deveria tomar mais cuidado ao fazer suas afirmações. Suas convicções pessoais não podem prevalecer sobre sua responsabilidade para com a verdade científica. Se não há provas contundentes sobre a ação do homem no clima do planeta, também não há provas de que essa ação seja irrisória. E mesmo que essas ações não sejam suficientes para uma proporção global, sabemos muito bem que localmente elas já estão causando muitos males. Ou será que ele duvida também do mal que a poluição das grandes cidades faz ao ser humano?

A única ressalva que ele fez foi dizer que, ao negar que a ação humana seja tão destrutiva como se propaga, ele não está dando licença para que as árvores sejam derrubadas. Acho que foi muito pouco. Ele estava falando na maior rede de televisão do país. É obvio que suas declarações podem ser usadas para justificar um maior desmatamento, o descontrole de emissão de poluentes.

Sim, o capitalismo fez com a ecologia aquilo que ele faz com tudo, transformou em mercadoria. Sim, sustentabilidade virou moda. Muito discurso e pouca ação. Banco sustentável? Parece piada.

Ainda assim prefiro a ecologia como mercadoria do que sua não existência. Se os créditos de carbono são uma mentira eu não sei, mas acho importante que florestas sejam preservadas e que árvores sejam plantadas.

Referências:

1- A Impostura Científica Em Dez Lições – Michel De Pracontal – Editora: UNESP

2 – Site do Terra Notícias  – http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI3142721-EI238,00.html – acesso em 12 de maio de 2012

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Um “remédio” para o aquecimento global.

setembro 25, 2010

 

Na semana passada assisti a um programa no Discovery Channel “Ideias para salvar o planeta – Salvação no mar” em que dois cientistas testavam com sucesso uma ideia para atenuar o aquecimento global. John Lathan, físico inglês aposentado, especialista em nuvens e Stephen  Salter, professor emérito de engenharia da Edimburg University, propõem pulverizar as nuvens com água do mar, aumentando assim a reflexão da luz solar em cerca de 10%, reduzindo, dessa maneira, a temperatura do planeta.

A ideia é até bem simples, utilizando-se de navios controlados por controle remoto e movidos a algum tipo de energia não poluente (um barco a vela, por exemplo) seriam aspergidas gotículas de água e sal, que através das correntes de convecção (correntes de ar quente) seriam elevadas até a altitude de 300m onde formariam nuvens baixas. Segundo os cientistas este tipo de nuvem conhecida pelo nome de estrato-cúmulus cobrem cerca de 25% dos oceanos. Aumentando-se a área e tornando as nuvens mais brancas, elas passarão a irradiar, de volta para o espaço, uma parte da radiação solar.

A proposta mostrou-se viável, e não apenas em teoria, segundo o programa uma tentativa foi realizada na costa Oeste da Africa do Sul, e uma grande nuvem foi formada a cerca de 300m onde antes havia apenas um céu limpo. Medidas realizadas em um avião confirmaram a presença das gotículas de água e sal.

Fazendo uma pesquisa rápida, descobri uma matéria publicada na revista Scientific American Brasil de dezembro de 2008, nela são apresentadas algumas ideias para tentar conter o aquecimento global. No que está sendo chamado de geoengenharia, espera-se poder reverter a previsão de aumento da temperatura global da Terra, e a ideia de Lathan e Sarter é comentada com mais detalhes. Mas outras propostas são apresentadas pela revista, como a liberação de milhões de toneladas de dióxido de enxofre por ano na estratosfera, até a incrível ideia, de instalar uma espécie de guarda sol gigante no espaço que atenuasse a radiação solar.

As medidas propostas são bem ousadas e controversas, além de caríssimas. De todas, a que parece mais razoável, é a de clarear as nuvens com partículas de sal, mas segundo os próprios autores da proposta seriam necessários cerca de 1500 navios movidos a energia limpa, a um custo de 3 a 5 bilhões de dólares para compensar a duplicação do CO2 que será lançado na atmosfera.

Mas o projeto enfrenta a objeção de vários climatologistas que alertam que é muito difícil prever, através de modelos, que alterações podem ocorrer no clima. Corre-se o risco de termos regiões muito frias em um local e muito quentes em outra. A quantidade de chuvas também seria alterada, além da formação de ventos.

No meu ponto de vista acho importante que tenhamos estratégias para tentar reverter, de forma rápida, o aquecimento global ocasionado pela ação humana, ou até mesmo por ação natural como a erupção de vulcões. Isso poderia minimizar os enormes efeitos danosos ocasionados principalmente pela elevação do nível dos oceanos.

Mas por outro lado, corremos um sério perigo de criarmos um remédio apenas para o sintoma. Como um paciente que sofre de infecção e toma remédio apenas para diminuir a febre.

O aquecimento global não é mais somente uma previsão, o último Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) publicado em 2007, não deixou dúvidas de que os efeitos já estão ocorrendo e a previsão é que esses efeitos continuarão aumentando, mesmo que a emissão de gases estufa seja reduzida.  

Vários países mostraram-se preocupados com o relatório e medidas para diminuição da emissão de poluentes, principalmente de gases estufas, estão sendo debatidas e colocadas em prática.

Encontrar um remédio para reverter o aquecimento pode ser um bom paliativo,  enquanto as medidas de redução dos gases estufas não surtem efeito. Isso poderia minimizar os estragos, principalmente nos países mais pobres, como os africanos, onde estima-se que mais de um milhão de pessoas serão afetadas.

Ao mesmo tempo fico preocupado que, em posse desse remédio, a redução desses poluentes deixe de ser uma das prioridades, e assim teríamos dado um passo para frente e dois para trás.

 Impedir as pesquisas ou a aplicação tecnológica de medidas de redução da temperatura global não cabe a nós, mas impedir que voltemos a ter um descaso com a emissão desses poluentes é sim missão nossa, e devemos ficar alertas.

Para saber mais sobre essas medidas consulte a referencia abaixo.

http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/um_guarda-sol_para_refrescar_a_terra.html

Cobra, lagartos e a ostentação humana.

agosto 15, 2010

O modismo de criar bichos exóticos em casa pode custar caro à biodiversidade de alguns lugares. Na flórida, Estados Unidos, região dos Everglades (parque nacional  norte americano), grandes serpentes introduzidas no lugar pelo ser humano estão ameaçando a biodiversidade local, segundo reportagem de março desse ano da revista Scientific American Brasil número 94. Como não pertencem a esse habitat, esses predadores que podem chegar a 6 metros de comprimento e 90kg de massa, são capazes de produzir até 100 filhotes em cada ninhada, e por estarem no topo da cadeia alimentar não possuem inimigos naturais expandindo seu território a cada ano. Em 2000 duas pítons birmanesas foram capturadas no parque americano, em 2008 foram capturadas 343, mas dezenas de milhares devem estar vivendo no parque segundo os biólogos.

Além das pítons, jiboias e quatro espécies de sucuris começaram a aparecer e não estão ficando apenas na região do parque.

Em seu habitat natural, as cobras possuem predadores, no caso das píton, que vivem no sudoeste da Ásia, chacais, lagartos-monitores, doenças e parasitas limitam o crescimento da espécie. Mas no Everglades as cobras devoram até crocodilos de 1,2 m, embora prefiram pequenos mamíferos e pássaros.

Os biólogos sabem por experiência própria que a introdução de uma nova espécie em um habitat pode ocasionar um grande desequilíbrio, como aconteceu com a ilha americana de Guam, onde uma cobra-arbórea-marrom invadiu a ilha logo após a segunda guerra mundial e acabou com 10 espécies de aves nativas das 12 que havia, a maioria da população dos morcegos foi dizimada e metade de seus lagartos desapareceram.

Mais uma vez ações individuais, aparentemente inocentes, comprometem o meio ambiente e a biodiversidade. Nas grandes cidades, os pombos estão se transformando numa verdadeira praga, sendo foco de transmissão de várias doenças. Cães e gatos são tratados como entes familiares, mas quando dão cria os filhotes são, muitas vezes, abandonados em qualquer lugar.

Por que criar em casa um animal selvagem? Por que não se contentar com um cachorro, um gato, um pássaro, um peixe? Bom, se for amor aos animais, então é melhor pensar melhor nas implicações de suas ações para com eles.

E o óleo parou de vazar. Parou? (Parte III)

agosto 9, 2010

A petrolífera BP afirmou que finalmente conteve o vazamento de petróleo no golfo do  México. Após mais de três meses jorrando diretamente para a superfície do mar, devido a uma explosão da plataforma “Deepwater Horizon”, estima-se que cerca de 5 milhões de barris de petróleo tenham vazado,  o que equivale a aproximadamente 780 milhões de litros, contaminando mais de 4 estados americanos.

Mesmo sendo da área de exatas, e por isso ter facilidade de lidar com números, fico sem saber ao certo a dimensão desses números. 780 milhões de litros! Daria para encher o tanque de 15,6 milhões de automóveis (considerando-se um média de 50 litros cada). A frota da cidade de são Paulo é de seis milhões e oitocentos mil em junho de 2010, e no estado todo cerca de vinte milhões. Para se ter uma idéia do tamanho da mancha veja sua imagem se comparada ao mapa de São Paulo. A mancha cobriria toda a grande São Paulo, alcançando o interior e o litoral.

Apesar de o vazamento ter sido contido, a limpeza do oceano está longe de ter acabado. O governo Americano afirma que vai cobrar multas pesadas da companhia responsável, a qual afirma já ter gasto 6,1 bilhões de dólares com o vazamento.

As imagens são impressionantes e terríveis desse que foi o maior acidente ecológico com vazamento de petróleo. O maior derramamento ocorreu de forma intencional quando na guerra do golfo de 1991 as forças iraquianas despejaram no golfo pérsico cerca de 5 a 10 milhões de barris.

Mas derramamentos de óleo são uma constante em nossos mares. Hoje mesmo temos notícia de um navio panamenho que colidiu com outra embarcação no mar arábico e encontra-se virado, a guarda costeira tenta conter o vazamento de óleo. Ontem algumas praias de Búzios no Rio de Janeiro amanheceram com manchas de óleo, ainda não se sabe a origem do vazamento.

A continuar assim a expressão “uma gota d água no oceano” vai perder o sentido. 

 

E o óleo continua vazando

junho 2, 2010

Já faz 40 dias desde o acidente com a plataforma de petróleo Deepwater Horizon e o vazamento de petróleo no golfo do México ainda não foi contido. Em 5 de maio postei um artigo aqui https://12dimensao.wordpress.com/2010/05/05/o-oleo-esta-vazando/ comentando sobre esse desastre ecológico, que hoje já é o mais grave derramamento de óleo da história e o pior acidente ecológico nos Estados Unidos.

Na quinta feira (27/05)  a companhia responsável pela plataforma British Petroleum (BP), havia anunciado que uma tentativa inédita parecia ter dado certo, a injeção de lama e posterior cobertura com cimento. Mas a própria companhia anunciou no sábado dia (26/05) que o plano não deu certo e agora tentarão deter o vazamento usando outra técnica, serrar o cano e cobrir com uma cúpula.

Até agora já foram derramados no mar cerca de 80 milhões de litros de óleo, que estão contaminando as praias da Louisiana e matando peixes e aves.

Imagem de satélite da mancha de óleo no golfo do méxico

Na edição de sábado do New York Times há uma denúncia de que em junho de 2009 a própria companhia já havia sido alertada pelos seus técnicos de que o revestimento de metal utilizado poderia não agüentar sob a forte pressão. Mas a companhia ignorou o aviso.

Segundo o governo americano e a própria empresa não há mais esperança de uma contenção imediata do vazamento. A melhor estimativa parece ficar para agosto.

Parece inacreditável que tenhamos uma tecnologia incrível para perfurar em profundezas absurdas, e até em camadas como o pré-sal, mas não temos tecnologia para conter um vazamento. Imagine se uma torneira de sua casa arrebentasse e durante 40 dias a água vazasse sem parar. Desesperador não? Agora imagine se dessa torneira saísse óleo e não água. Bem pior.

Não podemos pensar nesse acidente como um problema americano. É o oceano que está sendo contaminado. E não foi um navio que vazou, não é uma quantidade fixa derramada. Trata-se de um poço inteiro vindo à tona.

O que podemos fazer além de torcer para que esse problema seja logo resolvido? É muito frustrante olhar para as imagens que mostram esse óleo sendo derramado. O ouro preto saindo pelo ralo. Mas não podemos esquecer que, em termos ecológicos, a emissão desse poluente no mar é apenas uma questão de desvio de rota. Após ser queimado, esse óleo iria contaminar o ambiente do mesmo jeito, claro que não de forma concentrada como agora, não teríamos animais sendo mortos dessa maneira, mas respirando aos poucos a poluição de forma diluída. Dá o que pensar.

O óleo está vazando

maio 5, 2010

Prometi a vários alunos que, neste fim de semana que passou, iria escrever um post sobre uma revolução que deve acontecer na área da computação, graças à obtenção de um novo tipo de processador. Mas resolvi adiar este post por mais alguns dias depois de me informar melhor sobre esse terrível acidente que aconteceu no golfo do México: a explosão da plataforma de petróleo Deepwater Horizon, ocorrida no dia 20 de abril. A explosão matou 11 pessoas e o derramamento de óleo é calculado em cerca de 5 mil barris por dia o que equivale a cerca de 800 mil litros de petróleo.

A mancha de óleo representa atualmente uma área de 74,1 mil quilômetros quadrados o que equivale a 50 vezes a área da cidade de São Paulo, segundo a BBC, e é maior que a área da Jamaica segundo a CNN.

O pior é que já faz treze dias desde a explosão e nenhum dos três vazamentos foi fechado. A utilização de robôs para tentar fechar possíveis válvulas não deu certo. Pensa-se agora em colocar um bloco de concreto de 70 toneladas a uma profundidade de 1500 m, algo nunca tentado antes. Outra possível solução que começou a ser feita ontem, é a perfuração de outro poço próximo ao local do vazamento para reduzir a pressão e conseguir selar de vez o rompimento, mas isso pode levar várias semanas.

Em tempos de crise financeira não é fácil assumir uma perda de 430.000 dólares, jogados diariamente no mar (considerando o valor de 86 dólares o barril de petróleo), mais o custo de 350 milhões de dólares da plataforma e o dobro disto para sua substituição, seis milhões de dólares diários para tentar conter o vazamento e as perdas provocadas pela suspensão da pesca local que devem chegar a 2,4 bilhões de dólares.

Mas como contabilizar a perda de vidas humanas e o real alcance de um desastre ecológico dessa proporção?

Em meu post: Uma dimensão a mais…comentei sobre a relação dúbia que a ciência e a tecnologia têm conosco. Acidentes como esse, ou como a  explosão da usina nuclear de Chernobyl, ocorrida em 26 de abril de 1986 são exemplos de como a tecnologia pode causar impactos ambientais enormes, ainda que sua probabilidade de ocorrência seja mínima.

A relação dúbia surge porque não podemos abrir mão do conforto de nossos carros, do calor dos aquecedores residenciais, da produção de energia elétrica (em usinas termoelétricas), dos plásticos todos que estão a nossa volta, do gás de cozinha que produz nossos alimentos. Enfim, somos muito dependentes desse óleo negro.

Calma leitor, não pretendo transferir mais esta culpa, para a já enorme lista de culpas que possuímos. Não sabemos ainda as causas da explosão e talvez nunca venhamos a saber ao certo. Mas convido-o para uma reflexão.

Precisamos de energia de tipos mais variados, mas toda forma de transformar energia em outra, causa algum tipo de impacto ambiental. Não existe a tão propagada “energia limpa”. A palavra da moda agora é sustentabilidade. O uso racional dos recursos naturais de forma a não comprometer as gerações futuras.

Lembro-me que ao completar dezoito anos eu estava ansioso por ter meu carro. Fui à auto-escola no mesmo dia do meu aniversário e em algumas semanas já estava com minha carteira de habilitação. Não demorou muito para conseguir comprar um carro, mas pela falta de condições financeiras não era, como posso dizer…bem.. UM CARRO, mas um carro, com dez anos de uso. Sem dinheiro para a manutenção, nem mesmo para pneus novos, movia-me por toda a cidade e até fora dela sem as mínimas condições de segurança, mas eu tinha um carro. Felizmente fui “ajudado” pela estatística e nada de mal me aconteceu (os micos quando o carro me deixava na mão, não contam).

O que essa história tem a ver com a explosão da plataforma de petróleo? Chamamos isso, em física da relatividade do referencial. É uma questão de escala. Se 1% da população brasileira jogar meio litro de óleo pelo ralo teremos um derramamento de óleo equivalente ao da plataforma que explodiu. O que quero dizer é que a explosão concentra o que às vezes é feito de forma diluída.

Sempre me pergunto o que teria acontecido se, logo após a invenção do automóvel, a sociedade não tivesse feito a opção do uso pessoal  do automóvel. O que teria acontecido se tivéssemos optado somente pelo transporte coletivo, como aconteceu com os aviões (estou ignorando os poucos que possuem um avião particular). Mas agora é tarde, não temos mais a chance de voltar atrás nessa decisão.

A questão é se continuaremos a seguir deixando que toda invenção tecnológica decida, quase que por si só, se ela deve ser utilizada em massa ou não. Regulada por “entes” como “mercado” e “demanda”. Será que não somos capazes de fazer previsões e evitar colapsos futuros?

Infelizmente também não sei a resposta. Mas acredito que manter uma atitude crítica em relação às inovações tecnológicas é fundamental. Ter a noção de que somos agentes dos processos de produção e consumidores vorazes de energia já é um passo.

Me perdoem o clichê do clichê.  Sei que não voltaremos a usar velas e lamparinas. Mas também não devemos usar uma tecnologia se não estamos preparados para ela. É eu sei o que você está pensando e concordo (eu não devia ter comprado um carro aos dezoito anos).