Archive for the ‘Tecnologia e meio ambiente’ Category

Black Mirror – a mais imperdível das séries

janeiro 26, 2017

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Leitores queridos, mil desculpas por deixar o blog tanto tempo parado. Nesse ano novidades acontecerão: Trarei convidados para me ajudarem a manter o blog mais ativo.

Resolvi abrir o ano falando sobre essa série, que não posso considerar como a melhor série de todos os tempos porque seria uma tremenda injustiça com Game of Thrones.

Por que falar sobre séries em um blog de ciência e tecnologia?

Porque o tema de Black Mirror é justamente um olhar crítico sobre a tecnologia. É uma série que pode ser vista com calma (não há aquele risco de “não consigo parar de ver”), cada episódio é independente um do outro. Nem mesmo os atores são os mesmos. A única coisa que liga um episódio ao outro é a questão da tecnologia um pouco avançada (em alguns episódios talvez bastante avançada). Apesar de ser de ficção científica a série não é ambientada em um futuro muito distante.

A distopia está presente em praticamente todos episódios. Mais do que uma crítica, é uma espécie de alarme: “olhe onde podemos chegar”, “estamos caminhando para isso?”

Black Mirror foi criada pela TV britânica Zeppotron em 2011, por Charllie Brooker, que lançou duas temporadas, cada uma com apenas três episódios e então foi adquirida pela Netflix que produziu a terceira temporada com seis episódios.

Apesar de estar situada um pouco no futuro, com avanços tecnológicos que hoje ainda não existem, os episódios acertam em cheio em questões bem atuais e nos dramas que nossa sociedade enfrenta: superexposição, necessidade de aceitação, banalização dos direitos humanos, invasão de privacidade, os reality shows e as redes sociais.

Pensei em contar um pouco sobre alguns episódios, mas é impossível descrever o sentimento que nos toma após o término de cada episódio. Talvez por isso seja uma série pra se ver devagar, pensando sobre o que acabamos de ver, e que nos perturbou tanto. Não é uma perturbação por ser violenta ou por causar medo do sobrenatural, é uma incômoda porque nos reconhecemos naquelas atitudes, ou porque percebamos que nossa sociedade está caminhando para aquilo, uma caminhada bem preocupante.

Não é preciso dizer como o celular causou impacto em nossa sociedade. A série explora a possibilidade de outras tecnologias (algumas que até já existem) impactarem ainda mais. Muito difícil terminar de ver um episódio e não desejar discutir com alguém sobre aquilo.

Fica o convite para que você assista e volte aqui e deixe seu comentário. Diga qual episódio gostou mais. Podemos falar também sobre o quão distante está aquela tecnologia.

O episódio que eu mais tinha gostado foi justamente o primeiro que assisti: Episódio 3 da primeira temporada:  “The entire history of you”: Toda sua história. Vi fora da ordem, não há nenhuma necessidade de ver na ordem.

Mas após assistir à terceira temporada completa, meu preferido se tornou o episódio 6 desta última: “Hated in the Nation”: Odiados pela nação.

Se você gosta de um bom drama (não melodrama), gosta de tecnologia, ou não gosta de tecnologia. Então gostará de Black Mirror.

 

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O óleo voltou a vazar (parte IV)

novembro 25, 2011

No dia 20 de abril de 2010 ocorreu o maior vazamento de óleo no mar. Foram mais de três meses para que o vazamento fosse controlado.

https://12dimensao.wordpress.com/2010/05/05/o-oleo-esta-vazando/

Agora é aqui no Brasil, Bahia de Campos, detectada pela Petrobras no dia 8 de novembro e informada a empresa Chevron, responsável pela perfuração.

Foram três posts sobre o vazamento do ano passado. Pensei que não falaria mais sobre esse assunto. E acho que não tenho nada a dizer  mesmo.

Deixemos que as imagens falem por si

http://g1.globo.com/economia/fotos/2011/11/veja-fotos-do-vazamento-de-petroleo-na-bacia-de-campos.html#F306740

Um “remédio” para o aquecimento global.

setembro 25, 2010

 

Na semana passada assisti a um programa no Discovery Channel “Ideias para salvar o planeta – Salvação no mar” em que dois cientistas testavam com sucesso uma ideia para atenuar o aquecimento global. John Lathan, físico inglês aposentado, especialista em nuvens e Stephen  Salter, professor emérito de engenharia da Edimburg University, propõem pulverizar as nuvens com água do mar, aumentando assim a reflexão da luz solar em cerca de 10%, reduzindo, dessa maneira, a temperatura do planeta.

A ideia é até bem simples, utilizando-se de navios controlados por controle remoto e movidos a algum tipo de energia não poluente (um barco a vela, por exemplo) seriam aspergidas gotículas de água e sal, que através das correntes de convecção (correntes de ar quente) seriam elevadas até a altitude de 300m onde formariam nuvens baixas. Segundo os cientistas este tipo de nuvem conhecida pelo nome de estrato-cúmulus cobrem cerca de 25% dos oceanos. Aumentando-se a área e tornando as nuvens mais brancas, elas passarão a irradiar, de volta para o espaço, uma parte da radiação solar.

A proposta mostrou-se viável, e não apenas em teoria, segundo o programa uma tentativa foi realizada na costa Oeste da Africa do Sul, e uma grande nuvem foi formada a cerca de 300m onde antes havia apenas um céu limpo. Medidas realizadas em um avião confirmaram a presença das gotículas de água e sal.

Fazendo uma pesquisa rápida, descobri uma matéria publicada na revista Scientific American Brasil de dezembro de 2008, nela são apresentadas algumas ideias para tentar conter o aquecimento global. No que está sendo chamado de geoengenharia, espera-se poder reverter a previsão de aumento da temperatura global da Terra, e a ideia de Lathan e Sarter é comentada com mais detalhes. Mas outras propostas são apresentadas pela revista, como a liberação de milhões de toneladas de dióxido de enxofre por ano na estratosfera, até a incrível ideia, de instalar uma espécie de guarda sol gigante no espaço que atenuasse a radiação solar.

As medidas propostas são bem ousadas e controversas, além de caríssimas. De todas, a que parece mais razoável, é a de clarear as nuvens com partículas de sal, mas segundo os próprios autores da proposta seriam necessários cerca de 1500 navios movidos a energia limpa, a um custo de 3 a 5 bilhões de dólares para compensar a duplicação do CO2 que será lançado na atmosfera.

Mas o projeto enfrenta a objeção de vários climatologistas que alertam que é muito difícil prever, através de modelos, que alterações podem ocorrer no clima. Corre-se o risco de termos regiões muito frias em um local e muito quentes em outra. A quantidade de chuvas também seria alterada, além da formação de ventos.

No meu ponto de vista acho importante que tenhamos estratégias para tentar reverter, de forma rápida, o aquecimento global ocasionado pela ação humana, ou até mesmo por ação natural como a erupção de vulcões. Isso poderia minimizar os enormes efeitos danosos ocasionados principalmente pela elevação do nível dos oceanos.

Mas por outro lado, corremos um sério perigo de criarmos um remédio apenas para o sintoma. Como um paciente que sofre de infecção e toma remédio apenas para diminuir a febre.

O aquecimento global não é mais somente uma previsão, o último Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) publicado em 2007, não deixou dúvidas de que os efeitos já estão ocorrendo e a previsão é que esses efeitos continuarão aumentando, mesmo que a emissão de gases estufa seja reduzida.  

Vários países mostraram-se preocupados com o relatório e medidas para diminuição da emissão de poluentes, principalmente de gases estufas, estão sendo debatidas e colocadas em prática.

Encontrar um remédio para reverter o aquecimento pode ser um bom paliativo,  enquanto as medidas de redução dos gases estufas não surtem efeito. Isso poderia minimizar os estragos, principalmente nos países mais pobres, como os africanos, onde estima-se que mais de um milhão de pessoas serão afetadas.

Ao mesmo tempo fico preocupado que, em posse desse remédio, a redução desses poluentes deixe de ser uma das prioridades, e assim teríamos dado um passo para frente e dois para trás.

 Impedir as pesquisas ou a aplicação tecnológica de medidas de redução da temperatura global não cabe a nós, mas impedir que voltemos a ter um descaso com a emissão desses poluentes é sim missão nossa, e devemos ficar alertas.

Para saber mais sobre essas medidas consulte a referencia abaixo.

http://www2.uol.com.br/sciam/reportagens/um_guarda-sol_para_refrescar_a_terra.html

E o óleo parou de vazar. Parou? (Parte III)

agosto 9, 2010

A petrolífera BP afirmou que finalmente conteve o vazamento de petróleo no golfo do  México. Após mais de três meses jorrando diretamente para a superfície do mar, devido a uma explosão da plataforma “Deepwater Horizon”, estima-se que cerca de 5 milhões de barris de petróleo tenham vazado,  o que equivale a aproximadamente 780 milhões de litros, contaminando mais de 4 estados americanos.

Mesmo sendo da área de exatas, e por isso ter facilidade de lidar com números, fico sem saber ao certo a dimensão desses números. 780 milhões de litros! Daria para encher o tanque de 15,6 milhões de automóveis (considerando-se um média de 50 litros cada). A frota da cidade de são Paulo é de seis milhões e oitocentos mil em junho de 2010, e no estado todo cerca de vinte milhões. Para se ter uma idéia do tamanho da mancha veja sua imagem se comparada ao mapa de São Paulo. A mancha cobriria toda a grande São Paulo, alcançando o interior e o litoral.

Apesar de o vazamento ter sido contido, a limpeza do oceano está longe de ter acabado. O governo Americano afirma que vai cobrar multas pesadas da companhia responsável, a qual afirma já ter gasto 6,1 bilhões de dólares com o vazamento.

As imagens são impressionantes e terríveis desse que foi o maior acidente ecológico com vazamento de petróleo. O maior derramamento ocorreu de forma intencional quando na guerra do golfo de 1991 as forças iraquianas despejaram no golfo pérsico cerca de 5 a 10 milhões de barris.

Mas derramamentos de óleo são uma constante em nossos mares. Hoje mesmo temos notícia de um navio panamenho que colidiu com outra embarcação no mar arábico e encontra-se virado, a guarda costeira tenta conter o vazamento de óleo. Ontem algumas praias de Búzios no Rio de Janeiro amanheceram com manchas de óleo, ainda não se sabe a origem do vazamento.

A continuar assim a expressão “uma gota d água no oceano” vai perder o sentido. 

 

E o óleo continua vazando

junho 2, 2010

Já faz 40 dias desde o acidente com a plataforma de petróleo Deepwater Horizon e o vazamento de petróleo no golfo do México ainda não foi contido. Em 5 de maio postei um artigo aqui https://12dimensao.wordpress.com/2010/05/05/o-oleo-esta-vazando/ comentando sobre esse desastre ecológico, que hoje já é o mais grave derramamento de óleo da história e o pior acidente ecológico nos Estados Unidos.

Na quinta feira (27/05)  a companhia responsável pela plataforma British Petroleum (BP), havia anunciado que uma tentativa inédita parecia ter dado certo, a injeção de lama e posterior cobertura com cimento. Mas a própria companhia anunciou no sábado dia (26/05) que o plano não deu certo e agora tentarão deter o vazamento usando outra técnica, serrar o cano e cobrir com uma cúpula.

Até agora já foram derramados no mar cerca de 80 milhões de litros de óleo, que estão contaminando as praias da Louisiana e matando peixes e aves.

Imagem de satélite da mancha de óleo no golfo do méxico

Na edição de sábado do New York Times há uma denúncia de que em junho de 2009 a própria companhia já havia sido alertada pelos seus técnicos de que o revestimento de metal utilizado poderia não agüentar sob a forte pressão. Mas a companhia ignorou o aviso.

Segundo o governo americano e a própria empresa não há mais esperança de uma contenção imediata do vazamento. A melhor estimativa parece ficar para agosto.

Parece inacreditável que tenhamos uma tecnologia incrível para perfurar em profundezas absurdas, e até em camadas como o pré-sal, mas não temos tecnologia para conter um vazamento. Imagine se uma torneira de sua casa arrebentasse e durante 40 dias a água vazasse sem parar. Desesperador não? Agora imagine se dessa torneira saísse óleo e não água. Bem pior.

Não podemos pensar nesse acidente como um problema americano. É o oceano que está sendo contaminado. E não foi um navio que vazou, não é uma quantidade fixa derramada. Trata-se de um poço inteiro vindo à tona.

O que podemos fazer além de torcer para que esse problema seja logo resolvido? É muito frustrante olhar para as imagens que mostram esse óleo sendo derramado. O ouro preto saindo pelo ralo. Mas não podemos esquecer que, em termos ecológicos, a emissão desse poluente no mar é apenas uma questão de desvio de rota. Após ser queimado, esse óleo iria contaminar o ambiente do mesmo jeito, claro que não de forma concentrada como agora, não teríamos animais sendo mortos dessa maneira, mas respirando aos poucos a poluição de forma diluída. Dá o que pensar.

Urânio Enriquecido

maio 19, 2010

                Nos últimos dias vários jornais estão comentando o papel do Brasil como mediador das negociações entre Irã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A questão é que a AIEA quer que o Irã pare de enriquecer urânio, com medo de que este seja usado para fabricação de bombas nucleares. Mas o que é urânio enriquecido?

            O urânio é um elemento químico de número atômico 92 (possui 92 prótons em seu núcleo) e número de massa 238 (soma do número de prótons com o número de nêutrons). Na verdade esse é o número de massa de seu isótopo mais abundante. Para quem não lembra, isótopo é o nome que damos para elementos químicos que possuem o mesmo número atômico, mas com diferente número de massa. No caso do urânio natural temos basicamente dois isótopos: 238 e 235. Há ainda um terceiro (234), mas cuja porcentagem é muito pequena: 0,0054%. A porcentagem do urânio 238 é de aproximadamente 99,27% e do 235 é de 0,72%. Isso significa que para cada 1000 átomos de urânio encontrado na natureza, apenas 7, são de urânio 235. Portanto a diferença de massa entre esses dois isótopos está na quantidade de nêutrons. O urânio 238 tem três nêutrons a mais e isso muda muita coisa.

            O interesse no urânio se deve ao fato dele ser um átomo instável, e por isso radioativo. Quando o urânio 235 absorve um nêutron, ele sofre fissão, partindo-se em dois outros elementos e liberando de dois a três nêutrons em média. Como entra um e saem dois (ou três) nêutrons, cada um desses nêutrons que saíram pode fissionar outros átomos de urânio, criando assim uma reação em cadeia. Mas para que isso aconteça, o urânio atingido deve ter número de massa 235 e não 238, pois esse último não é um elemento físsil, isto é, não sofre fissão. Quando absorve um nêutron, ele vira urânio 239.

            Enriquecer urânio, portanto, é aumentar a porcentagem de urânio 235 em relação ao urânio natural, 238. Para a produção de uma bomba nuclear faz-se necessário um enriquecimento acima de 90% de urânio 235. Já para um reator nuclear de uma usina termoelétrica, o enriquecimento não deve ultrapassar 20% de 235.

            A tecnologia necessária para enriquecer urânio é extremamente complicada e um segredo guardado a sete chaves, mesmo quando um país “compra” essa tecnologia de outro, como no acordo nuclear Brasil Alemanha, assinado em 1975 durante a ditadura militar. Esse acordo  envolvia a construção de oito usinas nucleares e a transferência da tecnologia de enriquecimento do urânio.

            Das oito usinas apenas uma foi construída, Angra II, Angra III ainda está na fundação e não sabemos se será construída algum dia. A transferência de tecnologia no enriquecimento utilizaria o enriquecimento de urânio usando uma técnica chamada de jatos centrífugos. Após obtenção do gás UF6 (hexafluoreto de urânio) faz-se este gás passar por paredes porosas e dessa forma o urânio 238 vai ficando para trás, enquanto o urânio 235 passaria. Essa técnica mostrou-se um verdadeiro fiasco e se dependêssemos dela para alimentar nossos reatores, eles já estariam parados.

            Mas o acordo também incluía cursos, ministrados por alemães, aqui no Brasil, e a visita de vários pesquisadores brasileiros na Alemanha. Com isso o Brasil acabou aprendendo outra técnica de enriquecimento. Nessa outra técnica, são utilizadas  ultracentrífugas. O hexafluoreto de urânio gira nessa ultracentrífuga a uma velocidade incrível, e por ser mais pesado, o 238 vai se acumulando nas extremidades, enquanto o 235 vai ficando no centro. Apesar de parecer um método simples, não podemos esquecer que a diferença de massa se dá em somente três nêutrons, portanto é algo extremamente complicado.

            Em 1993 o Brasil conseguiu enriquecer urânio pela primeira vez. Com isso passou a fazer parte do seleto grupo de países que domina todas as etapas de fabricação do “combustível nuclear” (coloquei as aspas em combustível nuclear porque, apesar de ser um termo muito utilizado, a reação que ocorre em um reator, ou em uma bomba nuclear, não é de combustão, mas de fissão nuclear).

            Enriquecer urânio é uma das principais etapas necessárias para a fabricação de uma bomba nuclear. E este é um dos motivos pelos quais países como, Estados Unidos e Inglaterra, não querem que o Irã dê continuidade ao seu programa nuclear.

            Assim como o Brasil, o Irã é signatário do tratado de não proliferação nuclear. Segundo este tratado os países que o assinam se comprometem, em não desenvolver, e não transferir armamentos nucleares, com exceção dos que já tinham: EUA, Reino Unido, URSS (hoje Rússia), França e China. O tratado não proíbe que se utilize a energia nuclear para fins pacíficos, mas nesse caso, os países devem submeter suas instalações à inspeção da AIEA. O Irã não está de acordo com todas essas inspeções, e por isso o impasse.

            O curioso deste acordo é que ele se baseia em uma desigualdade de direitos. Quem já possuía armas nucleares tem o direito de continuar tendo, mas quem não tinha fica proibido de construí-las. Nesse caso a igualdade de direito, poderia colocar em cheque nossa sobrevivência como espécie no planeta.  

            E você assinaria esse acordo?

O óleo está vazando

maio 5, 2010

Prometi a vários alunos que, neste fim de semana que passou, iria escrever um post sobre uma revolução que deve acontecer na área da computação, graças à obtenção de um novo tipo de processador. Mas resolvi adiar este post por mais alguns dias depois de me informar melhor sobre esse terrível acidente que aconteceu no golfo do México: a explosão da plataforma de petróleo Deepwater Horizon, ocorrida no dia 20 de abril. A explosão matou 11 pessoas e o derramamento de óleo é calculado em cerca de 5 mil barris por dia o que equivale a cerca de 800 mil litros de petróleo.

A mancha de óleo representa atualmente uma área de 74,1 mil quilômetros quadrados o que equivale a 50 vezes a área da cidade de São Paulo, segundo a BBC, e é maior que a área da Jamaica segundo a CNN.

O pior é que já faz treze dias desde a explosão e nenhum dos três vazamentos foi fechado. A utilização de robôs para tentar fechar possíveis válvulas não deu certo. Pensa-se agora em colocar um bloco de concreto de 70 toneladas a uma profundidade de 1500 m, algo nunca tentado antes. Outra possível solução que começou a ser feita ontem, é a perfuração de outro poço próximo ao local do vazamento para reduzir a pressão e conseguir selar de vez o rompimento, mas isso pode levar várias semanas.

Em tempos de crise financeira não é fácil assumir uma perda de 430.000 dólares, jogados diariamente no mar (considerando o valor de 86 dólares o barril de petróleo), mais o custo de 350 milhões de dólares da plataforma e o dobro disto para sua substituição, seis milhões de dólares diários para tentar conter o vazamento e as perdas provocadas pela suspensão da pesca local que devem chegar a 2,4 bilhões de dólares.

Mas como contabilizar a perda de vidas humanas e o real alcance de um desastre ecológico dessa proporção?

Em meu post: Uma dimensão a mais…comentei sobre a relação dúbia que a ciência e a tecnologia têm conosco. Acidentes como esse, ou como a  explosão da usina nuclear de Chernobyl, ocorrida em 26 de abril de 1986 são exemplos de como a tecnologia pode causar impactos ambientais enormes, ainda que sua probabilidade de ocorrência seja mínima.

A relação dúbia surge porque não podemos abrir mão do conforto de nossos carros, do calor dos aquecedores residenciais, da produção de energia elétrica (em usinas termoelétricas), dos plásticos todos que estão a nossa volta, do gás de cozinha que produz nossos alimentos. Enfim, somos muito dependentes desse óleo negro.

Calma leitor, não pretendo transferir mais esta culpa, para a já enorme lista de culpas que possuímos. Não sabemos ainda as causas da explosão e talvez nunca venhamos a saber ao certo. Mas convido-o para uma reflexão.

Precisamos de energia de tipos mais variados, mas toda forma de transformar energia em outra, causa algum tipo de impacto ambiental. Não existe a tão propagada “energia limpa”. A palavra da moda agora é sustentabilidade. O uso racional dos recursos naturais de forma a não comprometer as gerações futuras.

Lembro-me que ao completar dezoito anos eu estava ansioso por ter meu carro. Fui à auto-escola no mesmo dia do meu aniversário e em algumas semanas já estava com minha carteira de habilitação. Não demorou muito para conseguir comprar um carro, mas pela falta de condições financeiras não era, como posso dizer…bem.. UM CARRO, mas um carro, com dez anos de uso. Sem dinheiro para a manutenção, nem mesmo para pneus novos, movia-me por toda a cidade e até fora dela sem as mínimas condições de segurança, mas eu tinha um carro. Felizmente fui “ajudado” pela estatística e nada de mal me aconteceu (os micos quando o carro me deixava na mão, não contam).

O que essa história tem a ver com a explosão da plataforma de petróleo? Chamamos isso, em física da relatividade do referencial. É uma questão de escala. Se 1% da população brasileira jogar meio litro de óleo pelo ralo teremos um derramamento de óleo equivalente ao da plataforma que explodiu. O que quero dizer é que a explosão concentra o que às vezes é feito de forma diluída.

Sempre me pergunto o que teria acontecido se, logo após a invenção do automóvel, a sociedade não tivesse feito a opção do uso pessoal  do automóvel. O que teria acontecido se tivéssemos optado somente pelo transporte coletivo, como aconteceu com os aviões (estou ignorando os poucos que possuem um avião particular). Mas agora é tarde, não temos mais a chance de voltar atrás nessa decisão.

A questão é se continuaremos a seguir deixando que toda invenção tecnológica decida, quase que por si só, se ela deve ser utilizada em massa ou não. Regulada por “entes” como “mercado” e “demanda”. Será que não somos capazes de fazer previsões e evitar colapsos futuros?

Infelizmente também não sei a resposta. Mas acredito que manter uma atitude crítica em relação às inovações tecnológicas é fundamental. Ter a noção de que somos agentes dos processos de produção e consumidores vorazes de energia já é um passo.

Me perdoem o clichê do clichê.  Sei que não voltaremos a usar velas e lamparinas. Mas também não devemos usar uma tecnologia se não estamos preparados para ela. É eu sei o que você está pensando e concordo (eu não devia ter comprado um carro aos dezoito anos).