Os seguidores deste blog sabem que um dos assuntos de que mais gosto é o que está relacionado ao cérebro. Se clicarem na tag cérebro e mente notarão vários posts sobre o tema. Há muito tempo criei uma sequência, que eu chamei de cérebro eletrônico, que procura abordar a questão da inteligência artificial, mas sem se restringir a essa única temática. Assim acabei tocando em outros temas nos posts passados.
Quando falamos em IA (inteligência artificial) surge logo a discussão sobre a grande questão:
As máquinas irão se rebelar contra os seres humanos?
Pode parecer uma pergunta boba, mas não é. Alguns pesquisadores acham que não faz sentido atribuirmos sentimentos humanos para uma máquina. Outros, ao contrário, acreditam que a discussão já deveria ter começado1.
Outras questões importantes são:
Somos apenas um estágio intermediário na evolução?
Supercomputadores ou robôs inteligentes nos sucederão?
Mesmo que a inteligência artificial seja alcançada, ela nunca irá superar a inteligência humana?
Talvez a resposta não seja nem uma coisa nem outra. Nossa tendência em analisar as coisas de forma dicotômica quase sempre nos leva a tomar partido de um lado ou de outro. Normalmente essa atitude impede que outros caminhos sejam analisados e levados em consideração.
O que estou querendo dizer é que talvez, uma fusão homem-máquina, seja a tendência futura. Inúmero são os exemplos onde isso já está acontecendo, mas um artigo a ser publicado nesse mês apresenta um avanço bem interessante, um neurônio artificial que se conecta a células humanas2.
Até hoje a interface cérebro-máquina era feita através de sensores e é então enviada a algum tipo de aparelho que possa interpretar esses resultados. Esse novo artigo apresenta outra forma de conexão do sistema nervoso humano a uma máquina e vice-versa.
Segundo o artigo, um neurônio artificial é capaz de receber sinais químicos e produz sinais elétricos, funcionando portanto, como um tradutor para uma interface entre o sistema biológico e um sistema eletrônico.
Uma das primeiras aplicações, pensadas pelos autores do artigo, é no uso de terapias neurológicas. As aplicações ainda estão muito distantes, até mesmo por uma questão física, o neurônio artificial é muito grande e precisa ser miniaturizado. Espera-se que através dele seja possível a comunicação entre neurônios que estejam separados por uma lesão por exemplo. O estudo com células tronco é uma promessa para esse tipo de terapia, mas talvez uma solução artificial surja primeiro que a biológica.
Muito tempo se passou desde que a primeira pessoa usou um óculos, ou uma bengala. Hoje temos avançadas próteses, que substituem membros, e até sensores auditivos e visuais. Mas para o sistema nervoso ainda são poucos os avanços.
Um neurônio artificial, que possa ser interligado a um sistema nervoso, poderá ser um passo gigantesco, não apenas para as terapias neurológicas, mas também para a evolução da inteligência artificial.
Os ciborgues (meio homem meio máquina) poderão ser uma realidade em breve, não como agentes especiais (quem nasceu na década de setenta deve se lembrar do famoso “homem de seis bilhões de dólares”, ou da “mulher biônica”) nem como exterminadores do futuro.
Há pouco mais de cinquenta anos o primeiro marcapasso foi implantado. Esse aparelho monitora o batimento cardíaco e fornece, quando necessária, uma corrente elétrica para garantir que o coração bata em um ritmo adequado. Obviamente que não dá para comparar a complexidade do cérebro com a simplicidade do coração, mas acredito que bem antes dos próximos cinquenta anos teremos muitos ciborgues entre nós.
2 -An organic electronic biomimetic neuron enables auto-regulated neuromodulation
Daniel T. Simon, Karin C. Larsson, David Nilsson, Gustav Burström, Dagmar Galter, Magnus Berggren, Agneta Richter-Dahlfors
Biosensors and Bioelectronics
Vol.: 71, 15 September 2015, Pages 359-364
DOI: 10.1016/j.bios.2015.04.058
Lendo a matéria publicada na revista Trip, sobre a proposta do arquiteto Alexandre Delijaicov, de transformar São Paulo numa cidade fluvial, me lembrei de que sempre pergunto aos meus alunos : “E se lá atrás, antes de Ford desenvolver a linha de montagem, tivéssemos pensado em todos os problemas que o automóvel nos traria? Será que não teríamos optado por um transporte público? Será que não teríamos dito “não” ao transporte individual?”.
Hoje não dá para saber qual teria sido o resultado dessa opção, mas sabemos o resultado da opção que foi tomada: Só o transito brasileiro mata, sozinho, mais do que qualquer guerra, congestionamentos imensos que roubam preciosas horas de nossos dias, poluição monstruosa responsável também por mortes “silenciosas”, e tantos outros problemas.
Não podemos voltar no tempo e consertar isso, mas podemos tentar inverter a lógica e no caso de São Paulo (e acredito que em várias outras cidades brasileiras) abrir rios e córregos onde hoje está uma grande avenida.
Essa é a proposta desse arquiteto, leiam a matéria e opinem aqui no blog:
Estou lendo um livro que recomendo fortemente: O andar do bêbado de Leonard Mlodinow – Editora Zahar, O subtítulo já dá uma boa explicação do que é tratado no livro: Como o acaso determina nossas vidas.
Mlodinow discorre em 232 páginas sobre probabilidade e estatística e como nosso desconhecimento nessas áreas faz com que tomemos decisões equivocadas, inclusive pessoas que julgamos serem especialistas, como médicos e advogados e acabam nos orientando de forma errada, ao fazerem uma leitura equivocada de um exame ou de uma pesquisa.
O interessante no livro é que o autor conta diversos casos e vai mesclando o desenvolvimento histórico da probabilidade e da estatística, com pitadas de explicação do conceito matemático envolvido. Confesso que não simpatizei muito com o estilo do autor, às vezes acho que ele poderia explicar de forma menos confusa, mas pode ser implicância minha.
Uma coisa boa do autor é que ele consegue ser cômico em muitos momentos, o que deixa a leitura bem leve e que pode atrair aos que fogem do assunto: MATEMÁTICA.
Logo no primeiro parágrafo do prólogo o autor nos conta:
Alguns anos atrás, um homem ganhou na loteria nacional espanhola com um bilhete que terminava em 48. Orgulhoso por seu “feito”, ele revelou a teoria que o levou à fortuna. “Sonhei com o número 7 por 7 noites consecutivas”, disse, “e 7 vezes 7 é 48”. Quem tiver melhor domínio da tabuada talvez ache graça no erro, mas todos nós criamos um olhar próprio sobre o mundo e o empregamos para filtrar e processar nossas percepções, extraindo significados do oceano de dados que nos inunda diariamente. E cometemos erros que, ainda que menos óbvios, são tão significativos quanto esse.1
O título do post faz referência ao famoso físico e matemático francês Jules-Henri Poincaré precursor, junto com Lorentz da Teoria da Relatividade de Albert Einstein. Segundo o livro de Mlodinov, Poincaré empregou uma analise estatística para mostrar que o padeiro onde ele comprava pão estava enganando seus clientes. Ao “pesar” seus pães, percebeu que eles tinham em média 950 g e não 1000 g, como o que era vendido. Após reclamar com a polícia passou a receber pães maiores. No entanto Poincaré continuou a medir a massa dos pães e constatou que a média não flutuava para cima e para baixo de 1000 g, todos os pães estavam sempre acima de 1000 g, o que contraria a lei da distribuição normal da estatística. Conclusão: o padeiro não tinha parado de enganar seus clientes, ele continuava assando pães com uma massa menor, apenas destinava os mais pesados a Poincaré. Após uma nova queixa à polícia o problema foi resolvido.
Escolhi contar justamente essa história por um simples motivo. É muito comum que eu encontre alunos na fila do cinema ou em algum parque. Normalmente a primeira pergunta do encontro é: “Professor! O que está fazendo aqui?”, como se nós professores não fizéssemos outra coisa a não ser dar aula e corrigir provas (será mesmo que eles estão enganados?). Outra situação é aquela quando, entre amigos, um deles se vira e diz: “Então calcula aí a velocidade do vento e determina qual a força etc…e tal…”. Físico é um “bicho estranho” então ele deve estar condenado a passar o resto de sua vida fazendo cálculos e imerso em equações.
Esse caso de Poincaré mostra que essa visão do físico não está tão distante da realidade não é mesmo?
1 – MLODINOW, LEONARD – O andar do bêbado: Como o acaso determina nossas vidas – Tradução: Diego Alfaro; consultoria Samuel Jurkiewicz – Rio de Janeiro: Zahar, 2009. Página: 7
Como tem sido divulgado ao longo dessa semana o premio Nobel de 2013 foi concedido aos cientistas: François Englert e Peter Higgs pela teoria que preve a existência do campo de Higgs e sua partícula correspondente, o bóson de Higgs, também apelidado de partícula de Deus, detectado no ano passado no grande acelerador de partículas LHC.
Como já tinha escrito dois post sobre o assunto acho melhor colocá-los aqui novamente ao inves de ficar repetindo o que já disse.
Os post não sao tão grandes e pretendem dar uma ideia do que seja um bóson, do que seja o boson de Higgs, de que porque ela é apelidado de partícula de Deus e qual a importância dele para a física. Espero que eles possam ajudar a esclarecer um pouco.
O primeiro post foi feito em 2012, antes do anuncio da descoberta e o segundo logo após o anuncio.
Eliane Brum é uma jornalista que escreve muito bem e costuma questionar o “poder” que é dado à ciência e aos cientistas. Mais uma vez ela aborda um caso bem curioso, cientistas condenados a seis anos de prisão por homicídio culposo (sem intenção de matar) por não terem conseguido prever a ocorrência de um terrremoto na itália. O texto é longo, mas muito interessante.
No último dia 08 de junho o CERN divulgou a conclusão sobre o experimento que alegava que neutrinos poderiam ter atingido velocidade acima da velocidade da luz.
Quem costuma entrar semanalmente aqui no Décima Segunda Dimensão sabe que sou um defensor do pensamento cético e da importância do saber científico. Não poderia ser diferente, uma vez que escolhi a profissão de professor de uma área científica. No entanto procuro sempre me policiar para não passar uma visão errada de como a ciência trabalha. Busco deixar claro que a ciência não é a dona da verdade, que ciência trabalha com modelos e não com verdades absolutas. Que não há um porta voz da ciência, que para algumas teorias ou hipóteses pode haver um grande consenso, mas que isso não é uma regra geral, há inúmeras teorias que são conflitantes e inúmeros debates na ciência.
É assim que a ciência funciona, pelo debate, pelo eterno questionamento, pela dúvida. Dúvida que se estende até mesmo às teorias já consolidadas. Mesmo depois de quase trezentos anos do domínio de Newton na mecânica, sua teoria foi derrubada pela Relatividade de Einstein. A única certeza que temos na ciência é que suas verdades são provisórias. Mas isso não faz com que tudo seja relativo, isso não significa que não possamos emitir opiniões e de afirmarmos como as coisas funcionam, ou não proíbe que previsões sejam feitas (e muitas inclusive se verificam).
Na semana passada um cientista da área de climatologia apareceu no programa do Jô Soares e fez afirmações bem polêmicas. Como acabei de afirmar nos parágrafos acima, a polêmica é um dos ingredientes que movem a ciência, junto com a curiosidade é a responsável pelas grandes descobertas. Mas não concordo com o modo como esse cientista fez essas afirmações.
Ao ser apresentado como especialista em climatologia e professor da USP, sua autoridade não tem como ser questionada no programa, por isso acredito que ele deveria ter agido com mais responsabilidade.
Mas o que foi que essa pessoa afirmou que me indignou tanto?
Na verdade não foram suas afirmações. Não foi o fato de ele afirmar que não há aquecimento global, não existe efeito estufa, não existe camada de ozônio, que se a floresta Amazônica for destruída completamente se recupera em vinte anos, e que as ações do homem são todas insignificantes e contidas a uma mudança local, sem impacto no planeta como um todo. Acho importante que existam pesquisadores que façam o contraponto, que pesquisem e apontem erros naquilo que quase todos estão certos. A unanimidade é burra já dizia Nelson Rodrigues. O problema, como já disse, foi a forma COMO ele fez essas afirmações.
Ao fazer essas afirmações, o dito professor não deixou margem a dúvidas. Fez parecer que há uma grande conspiração para enganar todas as pessoas do planeta, sobre as previsões climatológicas. Eco-92, IPCC, Rio +20 essas reuniões todas de cientistas e especialistas não passam de conspiração para que novos produtos sejam inventados e para que se mantenha o consumo desenfreado.
Com ironia e sem apresentar trabalhos técnicos atuais ele simplesmente disse que os “cientistas sérios” não acreditam nessas previsões alarmistas. Mas ele não disse quem são os cientistas sérios, acusou os outros de “cientistas chapa-branca” financiados por governantes desses países que querem manter a produção desenfreada.
Dessa forma a impressão que ele passou, e pude constatar isso através de alunos que assistiram ao programa, foi que somos um bando de otários preocupados com a ação do homem sobre a natureza, sendo que essa ação seria muito pequena. Estamos sendo enganados ao defender um desenvolvimento sustentável, que cause menos impacto ao meio ambiente.
Como se tratava de uma entrevista em um programa que é mais de humor do que informativo devemos dar um desconto à atitude do cientista. Jô Soares é mestre em interromper o entrevistador e de não deixá-lo concluir um assunto, emendando uma pergunta na outra e ridicularizando muitas vezes a explicação. Nem que para isso ele finja desinformação (eu duvido que o Jô Soares não saiba que a Amazônia não é o “pulmão do mundo”). Mas enfim, muita coisa foi dita e muitos assuntos foram misturados de tal forma que ficou tudo muito confuso.
Deixe-me dar um exemplo de duas coisas diferentes que no programa se misturaram: O aquecimento global e o efeito estufa. Há uma enorme confusão entre esses dois conceitos.
Efeito estufa existe sim, e é graças a ele que temos uma temperatura média no planeta que permite a existência de formas de vida como a nossa. Nosso planeta possui uma atmosfera formada basicamente de nitrogênio e oxigênio, 70% de nitrogênio e 29% de oxigênio. Os outros 1% restantes são formados por diversos gases, o vapor de água, o metano, o dióxido de carbono (CO2), o enxofre, entre outros. O vapor de água, o metano e o dióxido de carbono são os principais gases estufa da atmosfera. Eles permitem a entrada da luz solar e dificultam a saída do infravermelho, radiação emitida pelos corpos que foram aquecidos por essa luz solar. Esse fenômeno acontece em uma escala bem menor no interior de um carro que está com os vidros fechados sob o Sol. Se não fosse o efeito estufa nosso planeta seria como a Lua, que durante o dia pode atingir 70oC e a noite −20oC (a presença de água em nosso planeta também é importante para diminuir essa flutuação térmica).
Chamamos de aquecimento global a elevação da temperatura média do planeta. Esse aumento de temperatura pode ser provocado por vários motivos e ao longo da história evolutiva de nosso planeta há períodos de aquecimento global e períodos de resfriamento global.
Não há dúvida sobre esses dois conceitos. Há diversas maneiras de se estimar qual era a temperatura do nosso planeta em eras passadas, e esses períodos de aquecimento e resfriamento podem ser comprovados. A grande discórdia ocorre sobre qual seria o impacto da ação do ser humano no clima do planeta como um todo, o chamado aquecimento global antropogênico.
Concordo que há um exagero nas consequências de um possível aquecimento global. Um catastrofismo exacerbado que procura através do medo, despertar a consciência ecológica das pessoas. Esse tratamento ocorre principalmente na mídia em geral. Sempre com matérias sensacionalistas, grandes inundações, secas, tempestades, furacões. Nos filmes então, melhor nem começar a falar sobre isso.
Meu amigo e professor de geografia do Colégio Oswald, Amadeu, me indicou um documentário feito pela BBC: A grande farsa do aquecimento global (The Great Global Warming Swindle) produzido por Martin Durkin e exibido pela produtora britânica Channel 4.
Como o próprio Amadeu havia me adiantado há visões bem conservadoras e neoliberalistas no documentário. Ele é totalmente parcial, e denuncia uma espécie de complô para tornar o aquecimento global um fato inquestionável, defendido por toda comunidade científica. O filme entrevista diversos cientistas que se opõem a essa visão e afirmam serem perseguidos por essas opiniões. Ele apresenta dados históricos para explicar de onde essa idéia surgiu e argumenta que não há evidências científicas que comprovem um aquecimento global provocado pela ação do ser humano, afirmando que a transformação do CO2 em vilão é um absurdo. A provável causa do aquecimento (em outras eras e também no século XX) seria o Sol (aumento das explosões solares). O interessante é que eles condenam a transformação do CO2 em vilão e fazem a mesma coisa com o Sol.
Mas é importante assistir ao documentário justamente para se criar a dúvida, para manter-se alerta, para aprender a ser cético. Uma afirmação interessante feita é a justificativa da grande adesão de vários cientistas à defesa da visão catastrófica do aquecimento global antropogênico. O motivo seria o fato disso render dinheiro na forma de financiamento de suas pesquisas. Isto é muito sério, pois é evidente que pode distorcer os resultados ou pelo menos criar um viés em quem faz a pesquisa (se estou sendo pago para combater o aquecimento global é importante mostrar o perigo que ele pode trazer). Na verdade essa prática na ciência é muito comum. Vários projetos científicos começaram com interesses militares. A ciência está cheia de exemplos de imposturas1.
Mas diferentemente da entrevista do programa brasileiro, o documentário possibilita, ainda que de forma tendenciosa, a compreensão de como a ciência trabalha:
a) Existem dados que são obtidos de experimentos (normalmente já direcionados para certa investigação).
b) Esses dados são interpretados a partir de modelos criados.
c) Essas interpretações são divulgadas (ou não! Como o documentário denuncia).
d) Essas interpretações são compreendidas (ou não) pela sociedade.
Portanto, fica claro que as afirmações feitas pelos cientistas não são verdades absolutas. São afirmações baseadas em modelos. Na entrevista do programa do Jô, o cientista entrevistado combateu o alarmismo sobre o aquecimento global antropogênico, utilizando a mesma tática que ele criticava. Usando sua “voz de autoridade” fazia afirmações contundentes de que tudo era besteira, e de que nenhum cientista sério levava aquilo tudo em consideração.
A impressão que eu tive é que ele estava mais preocupado em gozar seus quinze minutos de fama do que em esclarecer, e é por esse motivo que não menciono o nome dele aqui.
Levantar polêmicas e ir contra o senso comum são maneiras de se ter o nome divulgado, de ser comentado. Em agosto de 2008 “Um grupo de cientistas apresentou uma denúncia perante o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em Estrasburgo, para que seja paralisado o teste do Grande Colisor de Hádrons (LHC), da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern), diante do risco de que um buraco negro seja gerado.”2. Há grupos de médicos, jornalistas e ativistas que afirmam que a AIDS não é uma doença contagiosa e/ou que não há relação entre o vírus HIV e a AIDS. É comum também a afirmação em diversos sites de que o homem nunca tenha ido a Lua, que tudo não passou de uma farsa.
O entrevistado do programa não me pareceu um ativista pró-teoria da conspiração, mas como cientista e professor, principalmente sendo de uma escola pública, ele tem deveres para com a sociedade e deveria tomar mais cuidado ao fazer suas afirmações. Suas convicções pessoais não podem prevalecer sobre sua responsabilidade para com a verdade científica. Se não há provas contundentes sobre a ação do homem no clima do planeta, também não há provas de que essa ação seja irrisória. E mesmo que essas ações não sejam suficientes para uma proporção global, sabemos muito bem que localmente elas já estão causando muitos males. Ou será que ele duvida também do mal que a poluição das grandes cidades faz ao ser humano?
A única ressalva que ele fez foi dizer que, ao negar que a ação humana seja tão destrutiva como se propaga, ele não está dando licença para que as árvores sejam derrubadas. Acho que foi muito pouco. Ele estava falando na maior rede de televisão do país. É obvio que suas declarações podem ser usadas para justificar um maior desmatamento, o descontrole de emissão de poluentes.
Sim, o capitalismo fez com a ecologia aquilo que ele faz com tudo, transformou em mercadoria. Sim, sustentabilidade virou moda. Muito discurso e pouca ação. Banco sustentável? Parece piada.
Ainda assim prefiro a ecologia como mercadoria do que sua não existência. Se os créditos de carbono são uma mentira eu não sei, mas acho importante que florestas sejam preservadas e que árvores sejam plantadas.
Referências:
1- A Impostura Científica Em Dez Lições – Michel De Pracontal – Editora: UNESP
No dia 12 de dezembro de 2011 o jornal Folha de São Paulo publicou no caderno The New York Times o texto “Questionando a tecnologia como professor” de Kevin Delaney. Fiquei feliz ao ler esse artigo, pois ele aponta discordância nesse modismo que é acreditar que melhorar o ensino é investir em tecnologia, principalmente na área da informática. Segundo o texto até mesmo Steve Jobs e Bill Gates concordaram que os computadores tinham tido até agora, pouco impacto nas escolas.
Outra citação interessante do texto, que eu concordo plenamente:
“Ensinar é uma experiência humana”, disse ao Times Paul Thomas, professor associado de educação na Universidade Furman, na Carolina do Sul. “A tecnologia é uma distração quando precisamos de alfabetização, raciocínio matemático e pensamento crítico.”
É claro que uma escola bem aparelhada pode facilitar e diversificar o tipo de aula para o professor. Com diversos recursos como: datashow, rede wirelles, lousa digital, tablets, etc. Mas tudo isso são apenas “ferramentas”. Elas não fazem o trabalho sozinhas. E não digo isso para concluir que o problema é que os professores não estão capacitados para usarem esses recursos. Eu garanto a vocês que aprender a usar qualquer um desses recursos é muitas vezes mais fácil do que aprender física, matemática, história, literatura, enfim qualquer disciplina de nosso currículo. Um grave problema da educação é que temos muitos professores com formação deficiente na própria disciplina que ele ministra.
Outro grave problema é que a cada dia os alunos vão se tornando cada vez mais desinteressados. E aí entra a falácia: “Com esses recursos os alunos vão ficar mais estimulados, pois terão um aprendizado mais moderno, mais desafiador, mais parecido com o mundo atual.” Ledo engano. Os alunos não estão desinteressados pela lousa e pelo giz. Estão desinteressados pelo SABER. Esses recursos não vão tornar as aulas “mais interessantes” para um aluno que não valoriza o conhecimento. Ele vai querer usar o tablet para acessar o facebook ou o youtube e não para rodar um software educacional.
Para melhorar a educação devemos começar em casa, incentivando nossas crianças a valorizarem o conhecimento, que não é a mesma coisa que valorizar boas notas. Todo pai e mãe se consideram um bom incentivador da educação do filho, pois dizem pra ele estudar, às vezes até o obrigam a fazer as lições. Mas muitos desses pais, quando estão de frente à TV são incapazes de assistir a um programa cultural da TV Cultura. Quantos não assinam canais pagos e continuam viciados em novelas e programas imbecis? Quantos dão livros de presente e incentivam a leitura, procurando ler também e trocar informações com as crianças?
Numa sociedade voltada ao consumo, equipar uma escola com todas essas tecnologias parece, muitas vezes, se render a essa lógica do consumo: “Minha escola precisa adotar os tablets, pois aquela outra escola também adotou.” Como um adolescente que “precisa ter” um modelo novo de celular.
Delaney continua seu artigo citando Alan Eagle, que trabalha na Google: “Na Google e em todos esses lugares fazemos tecnologia tão fácil de usar quanto possível, não há motivo para que as crianças não consigam aprendê-la quando ficarem mais velhas”.
Delaney menciona que a Coréia do Sul está gastando dois bilhões de dólares para modernizar ainda mais sua educação digital até 2015, e que seus alunos se classificam nos níveis mais altos em matemática e ciência em todo mundo. Mas que o preço por isso pode ser caro, pois as crianças coreanas estão exaustas e estressadas e alguns educadores temem que o ensino por repetição, reforçado pelos computadores, esteja produzindo estudantes menos criativos.
No lado oposto está a Finlândia, que também é superinformatizada e cujos estudantes também alcançam o topo dos testes globais, mas diferentemente da Coréia as escolas tem muito pouca tecnologia e os estudantes não são tão pressionados. “Eu não vi um só estudante com um laptop” afirmou o diretor do colégio Brookfield de Connecticut, ao visitar a Finlândia em 2011.
Delaney não é ingênuo e sabe que há vários fatores além desses. Ele termina dizendo que na Finlândia quase não tem pobreza e que os professores são muito bem pagos e altamente respeitados. Sua última citação de um diretor do departamento de educação de Nova York: “certamente há oportunidades que podem ser captadas por meio da tecnologia, mas no centro da educação está a relação entre professor e aluno”.
Parece um contras senso que eu sendo professor de Física e Tecnologia Moderna do Colégio Oswald e professor em uma faculdade de engenharia me posicione contra a tecnologia na educação. Na verdade não sou contra o uso da tecnologia, ao contrário, permito que os alunos da faculdade usem câmeras de vídeo para filmar a aula, sem nenhum problema. Isso facilita pois podem se concentrar melhor na explicação, sem a preocupação com a cópia da lousa. Também fico feliz de estar em uma sala de aula que já possui um datashow instalado e melhor ainda se tiver conexão com a internet. O que estou afirmando é que não podemos nos render ao modismo e ter em mente que esses recursos são apenas ferramentas.
É ótimo ter boas ferramentas, mas é IMPRESCINDÍVEL um bom ferramenteiro e uma boa matéria prima para se trabalhar.
Vamos concentrar nossas forças e nossos recursos em melhorar a formação do professor e valorizar mais o conhecimento.
Em tempo:
1) Durante a apresentação deslumbrante, para professores do interior do Ceará, das maravilhas que se podia fazer com uma lousa digital, um professor levanta a mão e pergunta: “O que eu faço com essa lousa se acabar a luz?”
2) “MEC quer tablets nas escolas, mas programa anterior que entregou laptops chegou a menos de 2% dos alunos”
Ganhadores do premio Nobel de Física de 2011, os norte-americanos Saul Permutter, Adam Riess e Brian Schmidt
No dia 22 de agosto publiquei um post que mencionava que cientistas brasileiros estavam questionando o modelo cosmológico mais aceito, o da energia escura:
Nesse post tentei explicar que isso não significa que o modelo está errado, argumentei que a ciência não é algo pronto e acabado e que a todo tempo, teorias rivais convivem juntas, uma tentando superar a outra. Só o tempo e os dados experimentais podem dizer qual sairá vencedora, se é que existe um vencedor.
Apesar da contestação dos cientistas brasileiros, o modelo que descobriu a energia escura foi premiada nesse ano com a maior condecoração da física, o premio Nobel. Os cientistas americanos: Saul Perlmutter, Brian Schmidt e Adam Riess foram informados em outubro que vão dividir o premio pela descoberta feita em 1998 de que o universo está em expansão em um ritmo acelerado.
Entender o que é a expansão acelerada do universo não é uma tarefa fácil. A começar da complexidade do que é o espaço. Os alunos sempre me perguntam: “mas está se expandindo pra onde? Se o universo é o todo que conhecemos, o que está além dele?”
Mas não precisamos entrar em uma questão tão filosófica como essa da natureza do espaço, a dificuldade está até mesmo em entender o que é aceleração.
A maioria das pessoas confunde aceleração com velocidade. Costumeiramente usamos a apalavra acelerar para dizer que estamos aumentando a velocidade, isso está correto, mas se digo aos meus alunos que estou diminuindo a aceleração, a maioria pensa em diminuição de velocidade, o que não é verdade. Enquanto houver aceleração, agindo no mesmo sentido da velocidade, ela sempre provocará aumento dessa velocidade. Diminuir a aceleração nesse caso, é diminuir a taxa de aumento. Por exemplo, se você tem uma divida de 1000 reais a uma taxa de juros de 1%, ao mês significa que sua divida aumentará 10 reais no primeiro mês; 10 reais e 10 centavos no segundo, 10 reais e 20 centavos no terceiro e assim por diante. Se a taxa de juros diminuir para 0,5% ao mês, a divida continuará a AUMENTAR mas por um fator menor, supondo uma divida de 1000 reais, teremos 5 reais a mais no primeiro mês; 5 reais e 2,5 centavos no segundo e assim por diante, sempre aumentando a divida. Esse exemplo econômico não foi da área da física, mas a ideia é a mesma. A taxa de juros é comparada a velocidade, e a mudança da taxa de juros seria a aceleração.
O “maior erro” de Einstein
O modelo do Big Bang é o modelo científico mais aceito para a explicação de como o universo se formou. Baseia-se nas equações da Teoria da Relatividade de Albert Einstein e conta com diversas provas experimentais. A expansão do universo é uma predição da teoria, mas o próprio Einstein acreditava que o universo era estático e por isso alterou suas equações acrescentando um termo, que ele chamou de constante cosmológica. O papel dessa constante era o de proporcionar uma força de repulsão, para contrabalançar a atração gravitacional.
Em 1929 o astrônomo Edwin Hubble observou que quase todas as galáxias estão se afastando umas das outras e mais que isso, a velocidade de afastamento é maior, quanto mais distante uma galáxia está da outra. Resumindo, o universo estaria se expandindo. Ao saber disso, Einstein disse que cometeu o maior erro de sua vida, pois poderia ter previsto essa expansão com base apenas em sua teoria. Assim ele retirou a constante cosmológica das equações.
Ironicamente, com o trabalho de 1998, os americanos que agora ganharam o premio Nobel, descobriram também através de observações astronômicas, que a aceleração do universo não está diminuindo como seria o previsto, ao contrário, está aumentando. Mas o que estaria provocando esta aceleração? Os cientistas então se valeram da constante cosmológica de Einstein, considerada por ele seu maior erro, para incluir um termo de anti-gravidade, responsável por essa expansão. Nascia assim o conceito de energia escura, algo que não sabemos o que é, mas que além de ser responsável pela expansão acelerada do universo, compreende mais de 70% do universo.
A premiação máxima recebida pelos americanos não significa que a energia escura realmente exista. No outro post, procurei explicar como a ciência funciona, que ela não trabalha com verdades absolutas, mas sim com modelos explicativos. A premiação vem coroar um modelo que está funcionando por mais de 13 anos. Não se trata de uma explicação simples, trata-se de um dos maiores enigmas da ciência atual. Afinal dar um nome, energia escura, não explica muita coisa. De onde vem essa energia? Porque ela existe? O que aconteceria se ela não existisse? Se mais de 70% do universo é formado por ela, porque sabemos tão pouco a seu respeito?
Como sempre acontece na história da ciência a descoberta da expansão acelerada do universo, trouxe muito mais questões do que certezas. Essa é a graça da ciência. A felicidade de uma descoberta dura muito pouco, só o tempo de fecundação da curiosidade das novas questões levantadas.
Formado em Física pela Universidade Mackenzie com mestrado em Ciências e Tecnologia Nuclear pelo IPEN/USP. Professor de física e tecnologia moderna do Colégio Oswald de Andrade. Professor Adjunto da Unip nos cursos de engenharia.