Posts Tagged ‘cérebro’

Cérebro Eletrônico V

setembro 3, 2015

impulsos-nervosos-3

Os seguidores deste blog sabem que um dos assuntos de que mais gosto é o que está relacionado ao cérebro. Se clicarem na tag cérebro e mente notarão vários posts sobre o tema. Há muito tempo criei uma sequência, que eu chamei de cérebro eletrônico, que procura abordar a questão da inteligência artificial, mas sem se restringir a essa única temática. Assim acabei tocando em outros temas nos posts passados.

Quando falamos em IA (inteligência artificial) surge logo a discussão sobre a grande questão:

As máquinas irão se rebelar contra os seres humanos?

Pode parecer uma pergunta boba, mas não é. Alguns pesquisadores acham que não faz sentido atribuirmos sentimentos humanos para uma máquina. Outros, ao contrário, acreditam que a discussão já deveria ter começado1.

Outras questões importantes são:

Somos apenas um estágio intermediário na evolução?

Supercomputadores ou robôs inteligentes nos sucederão?

Mesmo que a inteligência artificial seja alcançada, ela nunca irá superar a inteligência humana?

Talvez a resposta não seja nem uma coisa nem outra. Nossa tendência em analisar as coisas de forma dicotômica quase sempre nos leva a tomar partido de um lado ou de outro. Normalmente essa atitude impede que outros caminhos sejam analisados e levados em consideração.

O que estou querendo dizer é que talvez, uma fusão homem-máquina, seja a tendência futura. Inúmero são os exemplos onde isso já está acontecendo, mas um artigo a ser publicado nesse mês apresenta um avanço bem interessante, um neurônio artificial que se conecta a células humanas2.

Até hoje a interface cérebro-máquina era feita através de sensores e é então enviada a algum tipo de aparelho que possa interpretar esses resultados. Esse novo artigo apresenta outra forma de conexão do sistema nervoso humano a uma máquina e vice-versa.

Segundo o artigo, um neurônio artificial é capaz de receber sinais químicos e produz sinais elétricos, funcionando portanto, como um tradutor para uma interface entre o sistema biológico e um sistema eletrônico.

Uma das primeiras aplicações, pensadas pelos autores do artigo, é no uso de terapias neurológicas. As aplicações ainda estão muito distantes, até mesmo por uma questão física, o neurônio artificial é muito grande e precisa ser miniaturizado. Espera-se que através dele seja possível a comunicação entre neurônios que estejam separados por uma lesão por exemplo. O estudo com células tronco é uma promessa para esse tipo de terapia, mas talvez uma solução artificial surja primeiro que a biológica.

Muito tempo se passou desde que a primeira pessoa usou um óculos, ou uma bengala. Hoje temos avançadas próteses, que substituem membros, e até sensores auditivos e visuais. Mas para o sistema nervoso ainda são poucos os avanços.

Um neurônio artificial, que possa ser interligado a um sistema nervoso, poderá ser um passo gigantesco, não apenas para as terapias neurológicas, mas também para a evolução da inteligência artificial.

Os ciborgues (meio homem meio máquina) poderão ser uma realidade em breve, não como agentes especiais (quem nasceu na década de setenta deve se lembrar do famoso “homem de seis bilhões de dólares”, ou da “mulher biônica”) nem como exterminadores do futuro.

Há pouco mais de cinquenta anos o primeiro marcapasso foi implantado. Esse aparelho monitora o batimento cardíaco e fornece, quando necessária, uma corrente elétrica para garantir que o coração bata em um ritmo adequado. Obviamente que não dá para comparar a complexidade do cérebro com a simplicidade do coração, mas acredito que bem antes dos próximos cinquenta anos teremos muitos ciborgues entre nós.

Referências bibliográficas:

1 Robôs Assassinos – Jacó I. Moura – Blog 12 Dimensão – 15 de julho de 2014- Disponível em: https://12dimensao.wordpress.com/category/cerebro-e-mente/

2 -An organic electronic biomimetic neuron enables auto-regulated neuromodulation
Daniel T. Simon, Karin C. Larsson, David Nilsson, Gustav Burström, Dagmar Galter, Magnus Berggren, Agneta Richter-Dahlfors
Biosensors and Bioelectronics
Vol.: 71, 15 September 2015, Pages 359-364
DOI: 10.1016/j.bios.2015.04.058

2 – Neurônio artificial conecta-se a células humanas –  Site:Inovação tecnológica. Disponível em: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=neuronio-artificial-conecta-se-celulas-humanas&id=010180150703&ebol=sim#.VZs5SxtViko – Acesso em 08/07/2015

3 – Imagem retirada do site: 5coisas para viver na excelência – curiosidades sobre o corpo humano – disponível em: http://5coisas.org/5-curiosidades-sobre-o-corpo-humano-anatomia/ – Acesso em 03/09/2015

Publicidade

Médico brasileiro está prestes a realizar um grande sonho: Devolver a um paraplégico a sensação de caminhar novamente.

maio 17, 2014

 

O médico brasileiro Miguel Nicolelis, chefe do programa: “Walk again” (andar de novo), divulgou ontem (16 de maio de 2014) um vídeo onde mostra um paciente paraplégico dando os primeiros passos utilizando um exoesqueleto.

O exoesqueleto é um equipamento desenvolvido a partir de uma colaboração internacional entre a Universidade de Duke, nos Estados Unidos, O Instituto de Tecnologia de Lausanne, na Suiça, o Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), além da Universidade da Califórnia, Davis e a Universidade de Kentucky, também nos Estados Unidos.1.

O programa Andar de Novo pretende que o pontapé inicial da abertura da copa do mundo seja dado por um paraplégico utilizando este exoesqueleto. Dessa forma Nicolelis pretende chamar a atenção de todo o mundo e conseguir mais recursos para seu ambicioso projeto.

Aliás a ambição de Nicolelis vai longe, apesar de trabalhar a muito tempo nos EUA, conseguiu recursos financeiros e políticos para criar, juntamente com Sidarta Ribeiro e Claudio Mello, o Instituto Internacional de Neurociências de Natal, na capital do Rio Grande do Norte. Esse instituto foi criado com a intenção de trazer de volta para o país cientistas renomados e incentivar as pesquisas de ponta em nosso país, na área da neurologia e fisiologia.

Mas qual a grande diferença entre o exoesqueleto que está sendo desenvolvido pelo projeto e uma cadeira de rodas motorizada?

O exoesqueleto do projeto é movido por ondas cerebrais enviadas pelo paciente e lido por uma espécie de touca, que capta e interpreta esses sinais, enviando então ao aparelho os comandos para o movimento. A touca tenta restabelecer a conexão entre o cérebro e os músculos que foi perdida por algum trauma, mas quem produz o movimento é a máquina. O objetivo final desse estudo é poder restabelecer essa conexão perdida e dispensar o exoesqueleto, mas enquanto isso ele pode fazer com que o tetraplégico possa caminhar novamente.

O programa de Nicolelis já havia conseguido diversos progressos com animais (ratos e macacos), mas somente agora ele divulga os testes com humanos.

Se você não tinha motivos para torcer nessa copa, espero que essa notícia tenha lhe dado um motivo para torcer por esse brasileiro e seu grupo.

Veja o vídeo

Para saber mais:

 

IINN- ELS – Site official: http://www.natalneuro.org.br/

1 – Portal G1 – http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/05/video-publicado-por-nicolelis-mostra-paciente-andando-com-exoesqueleto.html – acesso em 17/05/2014

Porta Terra – http://noticias.terra.com.br/ciencia/pesquisa/paciente-volta-a-andar-com-exoesqueleto-de-nicolelis,773cb10b64706410VgnVCM3000009af154d0RCRD.html – acesso em 17/05/2014

Nicolelis, Miguel – Muito além do nosso eu – A nova neurociência que une cérebro e máquinas – e como ela pode mudar nossas vidas .  Cia das Letras

 

Nosso mundo pode ser somente um jogo?

outubro 24, 2012

Recebi esse link de um aluno Raphael Vieira (Valeu Raphinha), ainda não li a fonte original do trabalho mas resolvi indicar a matéria desse blog pois gostei dele. É uma discussão muito interessante: O que é a realidade? Somos apenas personagens de alguem que está em um jogo muito avançado? Vivemos em um matrix?

O que vocês acham?

copie o link abaixo e cole no seu navegador:

http://literatortura.com/2012/10/23/fisicos-encontram-evidencias-de-que-realidade-pode-ser-uma-mera-simulacao-virtual/

 

Leia mais em

http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=cientistas-querem-testar-se-vivemos-matrix&id=010130121106&ebol=sim

 

Lendo Mentes

julho 22, 2012

Quantas vezes você ouviu a frase?

“O que você está pensando?”

E ficou feliz por saber que ninguém pode saber o que se passa por sua mente. Em um mundo onde a privacidade está se tornando cada vez mais rara é um conforto saber que pelo menos há lugares onde vai ser impossível colocar uma câmara não é mesmo? Nossos pensamentos estarão sempre em segurança. Mas por quanto tempo?

No seriado “True Blood” exibido pela HBO, seres humanos e vampiros convivem em uma quase harmonia. A personagem principal Sookie Starkhouse é uma garçonete que se apaixona por um vampiro e possui um dom curioso, ela consegue “ouvir” o pensamento de outros seres humanos. No filme e desenho dos X-men o professor Xavier é um poderoso telepata.

Mas a telepatia não é algo recente, nem na ficção nem na ciência. Não tenho conhecimento sobre esse assunto, mas sei que há bastante tempo diversos pesquisadores tentam comprovar cientificamente a possibilidade de transmissão de informação por telepatia.

Mas outro tipo de telepatia começa a ganhar ajuda da tecnologia. O jornal Folha de São Paulo publicou no caderno “Saúde +ciência”, no dia 29 de junho de 2012 matéria sobre um aparelho que ajuda a escrever com a mente. A matéria foi escrita com base em um artigo publicado na revista “Current Biology”, de pesquisadores holandeses e alemães.

Esse aparelho não é algo revolucionário, trata-se de uma máquina de ressonância magnética. Além disso ela não faz a leitura direta da mente, cria-se um código de “escrita mental” para que a máquina possa “ler”.

A ideia consiste em fazer com que a pessoa submetida à máquina pense em algumas coisas e isso ative certas áreas do cérebro que possam ser detectadas pelo aparelho. Criando-se um código que deve ser decorado pela pessoa, torna-se possível uma espécie de comunicação entre a pessoa e os pesquisadores.

O código foi criado usando-se três atividades mentais diferentes e três tipos de duração para cada atividade. As atividades eram: “falar” consigo mesmo, fazer um cálculo mental ou pensar em um movimento. As durações eram feitas através de um atraso no pensamento, podendo ser: 0 segundo de atraso, 10 segundos de atraso ou 20 segundos de atraso. Após essa escolha ela deveria ainda escolher mais três tempos diferentes (10, 20, ou 30 segundos) para cada ação escolhida.

Temos então um total de 33 = 27 combinações, o que permite associar 26 letras mais a tecla de espaço. Por exemplo: para sinalizar a letra E, a pessoa deveria imaginar um movimento (mexer uma parte do corpo) esperando 10 segundos para começar a pensar e depois manter o pensamento por 30 segundos. Haja paciência e concentração, (principalmente porque a pessoa está dentro daquelas máquinas claustrofóbicas).

Isso está bem longe do “cérebro”, a máquina do professor Xavier do X-men. Nem podemos dizer que se trata de uma leitura direta do pensamento. As pessoas precisam aprender e treinar um código, e ainda assim a precisão é de 82% para coisas simples como: a resposta de onde passou as férias. Mas a tecnologia evolui exponencialmente, o que podemos esperar para daqui a 50 anos?

 

“O pensamento é mais que um direito; é o próprio alento do homem.”
(Victor Hugo)

“Onde está o pensamento, está a força. É tempo de os gênios passarem à frente dos heróis.”

(Victor Hugo)

“Somos senhores dos nossos pensamentos; mas é-nos alheia a execução deles.”
(William Shakespeare)

“Quando não há, entre os homens, liberdade de pensamento, não há liberdade.”

(Voltaire)

“Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Como nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo.”

 (Buda)

“Os sábios criam novos pensamentos, e os tolos os divulgam.”

(Heinrich Heine)

“Nossos pensamentos são as sombras de nossos sentimentos – sempre mais obscuros, mais vazios, mais simples que estes.”

(Friedrich Nietzsche)

“A independência de pensamento é a mais orgulhosa das aristocracias.”

(Anatole France)

 

 

Apagando a memória

setembro 23, 2011

Quem nunca recebeu uma desilusão amorosa?

Quem nunca sofreu por amor?

Quem já passou por isso sabe como dói, mesmo que não possamos dizer onde a dor está acontecendo.   Basta lembrar-se da pessoa amada. Na verdade, na fase mais aguda não é preciso lembrar, pois nunca a esquecemos, raros são os momentos em que não estamos pensando nela.

Quem já passou por situações traumáticas também sabe como é viver com essas lembranças.

E se lhe fosse oferecida a chance de apagar essas lembranças? De uma forma tão simples como tomar uma pílula?

Pois é, não estou falando de um filme, ou de um livro. Essas drogas já existem.

Vários estudos estão mostrando que é possível apagar lembranças, de forma seletiva, e garantir que novas lembranças possam ser registradas.

Já em 2007, o site O globo noticiava reportagem do “Journal of Psychiatric Research”, onde pesquisadores das universidades de Harvard e McGill, em Montreal testaram o uso da droga propanolol em conjunto com psicoterapia, para amenizar os sintomas de estresse pós-traumático em 19 pacientes que sofreram acidentes ou abuso sexual.

Em 2009 outra droga chamada ZIP foi testada por cientistas americanos e israelenses, apenas em ratos, e se mostrou eficiente na eliminação de memórias “ruins”.

Os cientistas descobriram que as lembranças são armazenadas por redes de neurônios, cujas sinapses (conexões entre os neurônios) são fortalecidas quando essas lembranças são reforçadas constantemente. Esse fortalecimento acontece pelo acúmulo de um tipo de molécula chamada PKMzeta na ponta das sinapses. A droga ZIP interrompe esse processo quando é aplicada diretamente no local onde essas lembranças devem-se formar.

Em um determinado estudo, ratos foram treinados a sentirem-se estressados ao ouvirem dois tons de um determinado som (após esses dois tons específicos eles recebiam um choque). Ao ouvirem esses tons os ratos já se preparavam para o choque. Após a injeção da droga o estresse não acontecia ao se ouvir som.

Em outro estudo, ratos aprendiam a evitar determinado alimento. Após a droga, esqueciam disso e se alimentavam desse alimento, passando mal em seguida.

Em um estudo mais recente, ratos ficaram viciados em cocaína. Qualquer estímulo era suficiente para que os mesmos buscassem a droga. Essa memória fica armazenada no centro de recompensa do cérebro. Após a injeção da droga, os ratos ficaram livres do vício.

Reportagem do dia 22 de agosto de 2011 do jornal Folha de São Paulo comenta artigo publicado na revista “Nature” (uma das mais conceituadas revistas científicas do mundo) do advogado Adam Kolber de Nova York, que defende o uso dessas drogas para testes em seres humanos. A reportagem também argumenta que vários bioeticistas são contrários a esse uso. Eles argumentam que ao invés de buscar a solução em uma pílula, deveriam “transformar más experiências em coisas boas”.

Em 2004, foi lançado o filme “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” ((Eternal Sunshine of the Spotless Mind) do genial roteirista: Charlie Kaufman, roteirista dos filmes:

Em Brilho eterno de uma mente sem lembranças, estrelado por Jim Carrey (o máscara) e Kate Winslet (Titanic), e participação de Elijah Wood (Frodo, Senhor dos anéis) e Kirsten Dunst (homem aranha), o personagem de Jim Carrey (que nesse filme consegue se livrar das insistentes caretas) sofre uma desilusão amorosa e decide apagar da memória as lembranças de sua amada. O método utilizado no filme é bem diferente de tomar uma droga, mas a forma como o filme é conduzido é muito legal.

E você? Usaria um remédio desses? Evitaria o sofrimento atacando o “mal” pela raiz?

Eu confesso que não usaria. Além do medo de que me apaguem lembranças importantes, penso que por mais que o amor possa nos causar sofrimento, acho que é esse sofrimento que nos faz crescer. É o amor que torna nossas vidas significantes, quer ele seja correspondido ou não. Ter a lembrança de um grande amor, mesmo que essa lembrança seja sofrida, é sentir-se vivo.

Em tempo: A TNT vai exibir o filme: Brilho eterno de uma mente sem lembranças na terça feira 27 de setembro as 22 horas!

 

Referências bibliográficas:

http://www.abc.org.br/article.php3?id_article=1360 acesso em 22/09/2011

http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2007/07/02/296600724.asp acesso em 22/09/2011

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/07/pesquisadores-isralenses-combatem-vicio-em-drogas-com-testes-em-ratos.html acesso em 22/09/2011

http://www.universitario.com.br/noticias/noticias_noticia.php?id_noticia=3864 acesso em 22/09/2011

Viagem no tempo III e Cérebro eletrônico IV: Fazendo nossa mente viajar no tempo

julho 19, 2011


Quando pensamos em uma máquina do tempo logo nos vem à mente a possibilidade de consertar erros do passado ou de fazermos escolhas diferentes. A grande questão (que já foi mencionada nos outros posts sobre o assunto) é sobre a possibilidade, ou não, de alterar o passado.

Mas podemos pensar em outra possibilidade, em que os paradoxos não precisam acontecer: uma viagem ao passado sem interferência, apenas de observação.

Existem momentos vividos por mim que eu gostaria de reviver, ou de pelo menos passar novamente pela experiência. Nossa memória é impressionante, mas não é perfeita, não consegue reter a experiência com exatidão (nem poderia, esquecer é algo essencial), além disso, podemos ter recordações que não são reais, que foram distorcidas ou confundidas por sonhos ou relatos de outras pessoas.

Mesmo que a lembrança pudesse estar intacta, ainda assim gostaria de vivenciá-las novamente, só recordar não basta.

Imagine uma máquina do tempo que pudesse nos levar para um momento passado como observador, como se estivéssemos vendo um filme, mas o nosso filme, sendo visto de dentro. Reviver emoções incríveis, que lembramos com saudades, ou até mesmo aquelas que não recordamos mais, como o momento de nosso nascimento, nossos primeiros passos, o sorriso de nossos pais quando dissemos: mamãe ou papai, o primeiro beijo.

No filme de ação: Déjà Vu ( 2006 ) com Denzel Washington e Paula Carlin e direção de Tony Scott, a ideia inicial é justamente uma máquina que permite ver o que aconteceu no passado. Uma espécie de máquina do tempo só de observação, mas entre a ficção científica e o filme de ação, a opção foi a segunda e o filme acabou se transformando em apenas mais um filme de entretenimento, uma boa ideia que foi desperdiçada.

Nos dois primeiros posts sobre viagem no tempo comecei a abordar, pelo lado da física, a possibilidade teórica de se viajar no tempo. Nenhum físico pode ainda provar que uma máquina do tempo pode ser construída, assim como nenhum físico pode ainda provar que ela não possa ser construída.

Mas o tipo de viagem no tempo que mencionei no começo deste post pode ser possível, não através de uma máquina do tempo, mas de outra forma, tão surpreendente quanto esta, típica das histórias de ficção científica, mas tecnicamente possível em um futuro não muito distante.

O neurocirurgião brasileiro Miguel Nicolelis que, segundo a prestigiada revista Scientific American, é um dos vinte maiores cientistas da atualidade, nos conta logo no primeiro capítulo do seu mais recente livro: Muito além do nosso eu – Companhia das Letras, como esse tipo de experiência que eu relatei poderia se tornar realidade.

Nicolelis lidera um grupo de neuroengenharia na Universidade Duke na Carolina do Norte (EUA). Suas pesquisas ganharam fama mundial e ele já foi cotado várias vezes ao prêmio Nobel de medicina. Entre seus feitos estão o desenvolvimento de uma cirurgia que minimiza os efeitos do mal de Parkinson e dispositivos intracranianos, que implantados no cérebro de uma macaca, fizeram a mesma mover um braço robótico apenas com a “força” do pensamento.

Grosseiramente falando, a técnica de Nicolelis consiste em conseguir, através de dispositivos que ele chama de interfaces cérebro-máquina (ICM), fazer uma “leitura” dos sinais nervosos enviados pelo cérebro. Em seguida, esses sinais são convertidos em sinais elétricos, através de um software, que comandam um sistema robótico. O sonho de Nicolelis é conseguir fazer com que paraplégicos possam usar essa tecnologia para mover uma espécie de exoesqueleto robótico e dessa forma voltar a andar. E num futuro próximo comandar diretamente, através do pensamento, próteses biônicas.

Mas Nicolelis pensa muito mais longe, acreditando que isso é só o começo de uma grande revolução. Num futuro um pouco mais distante será possível, segundo ele, dispensar o mouse, o teclado ou qualquer outro dispositivo de comando para se acessar o computador, poderemos inclusive acessar a internet apenas pensando, o que ele chama de “brainet” (brain = cérebro, em inglês). Nas palavras de Nicolelis:

Se esse exemplo não é suficientemente sedutor, imagine se você de repente pudesse experimentar toda gama de sensações despertadas por um simples toque na superfície arenosa de um outro planeta, milhões e milhões de quilômetros distante daqui, sem ao menos sair de sua sala de estar. Ou ainda melhor, como você se sentiria caso lhe fosse dado acesso a um banco de memórias de seus ancestrais remotos, de modo que pudesse, num mero instante, recuperar os pensamentos, emoções e recordações de cada um desses seus entes queridos, criando assim, por meio de impressões e sensações vividas, um encontro de gerações que jamais seria possível de outra forma? 1

Veja que não está se falando de simplesmente ter acesso a essas emoções como se fosse um filme. Essas emoções e pensamentos, registrados na forma de sinais elétricos, poderiam ser gravados e depois enviados aos nossos cérebros, de tal maneira que teríamos a exata sensação de estar vivendo aquilo, como acontece em um sonho.

A base da tecnologia já existe. Em seus experimentos Nicolelis mostrou que o cérebro da macaca reconheceu o movimento do braço mecânico, enviado através de sinais elétricos por eletrodos implantados no cérebro, como se fosse ela mesma que estivesse movendo diretamente com seu braço. No início, a macaca fazia o movimento através de um joystick, mas depois percebeu que não era preciso realizar o movimento, bastava pensar.

Infelizmente, mesmo que essa espécie de viagem no tempo venha a se tornar realidade, ela não me permitirá reviver minhas emoções de criança, simplesmente porque eu não as gravei nesse banco de memórias. A menos que seja possível, e aí já é viagem minha, recuperar essas memórias de algum jeito, mas a forma como o cérebro armazena nossas memórias ainda é um mistério.

Mais uma vez parece que a vida imita a arte. Se você não viu, veja o excelente filme “Vanilla Sky” de 2001 de Cameron Crowe, estrelado por Tom Cruise, Cameron Dias e Penélope Cruz. Esse filme é na verdade uma refilmagem do também excelente “Abre los ojos” (1997) de Alejandro Amenábar e Mateo Gil, estrelado por Eduardo Noriega e a mesma Penélope Cruz. Após assisti-lo você entenderá onde estou querendo chegar.

Referência Bibliográfica:

1 – Nicolelis, Miguel  – Muito além do nosso eu – Companhia da Letras – 2011 – páginas 25 e 26.


Cérebro Eletrônico III : Se sei escrever, então também consigo ler, certo? Não é bem assim.

julho 5, 2011

No post Cérebro eletrônico parte II eu prometi falar sobre a implantação de chips em humanos, nas próteses neurológicas, etc. Muita coisa aconteceu desde esse post, inclusive novos avanços nessa área. Talvez o que de melhor tenha acontecido é que a grande mídia brasileira descobriu Miguel Nicolelis, um neurologista brasileiro muito respeitado no exterior. Cotado, mais de uma vez,  para o premio Nobel de medicina. Mas nossa imprensa tem muitas notícias importantes a serem  veiculadas, talvez por isso Nicolelis aparecia apenas em revistas especializadas como a revista Pesquisa FAPESP  ou Scientific American Brasil. Mas enfim ele foi “descoberto”, começou a aparecer em vários programas de televisão e acaba de lançar um livro no Brasil: Muito além do nosso eu, pela Companhia das Letras.

Deixarei então para falar sobre implantes cerebrais e próteses após ler o livro do Nicolelis, agora vou falar sobre Oliver Sacks, um neurologista britânico, famoso pelos excelentes livros que escreve, alguns deles tornaram-se Best Sellers e um deles “Tempo de despertar” virou filme.

Ao falarmos em cérebro, mente e na forma como pensamos, somos obrigados a levar em consideração os inúmeros casos dos pacientes relatados por Oliver Sacks. Em seu livro: O homem que confundiu sua mulher com um chapéu – Companhia das Letras (1997) ele nos conta casos curiosíssimos de problemas neurológicos, surgidos em pessoas que eram, como se costuma dizer, “normais”.  Alguns casos são clássicos como os de “membros fantasmas”, pessoas que após terem algum membro amputado, continuam a sentir dor e coceira, como se o membro continuasse a fazer parte de seu corpo. Outras doenças são tão estranhas que parecem ter saído de um livro de ficção, como o que dá título ao livro. O paciente em questão começou a perder a capacidade de reconhecer fisionomias, era um professor e percebeu que não conseguia mais distinguir seus alunos uns dos outros. Depois ele foi perdendo a capacidade de reconhecer objetos de uso cotidiano. Sacks nos conta que esse paciente chegou ao seu escritório acompanhado de sua esposa e ao se levantar para ir embora, pegou a cabeça dela e tentou vestir como se fosse seu chapéu.

Em seu último livro: O olhar da mente – Companhia das Letras (2010) há um capítulo intitulado “Um homem de letras”, onde ele discute sobre Howard Engel, um escritor canadense que ao acordar certo dia, não conseguia ler seu jornal, as letras pareciam as mesmas, mas a linguagem lhe era diferente, como se fosse outra língua. Ele havia sofrido um AVC (acidente vascular cerebral), mais conhecido como derrame. Entre as várias sequelas que um AVC pode causar, a alexia (incapacidade para a leitura) é uma delas. O mais curioso é que Howard conseguia ainda escrever, mas era incapaz de ler o que escrevia.

Oliver Sacks passa então a discutir nesse capítulo como o cérebro faz as relações que permitem a leitura e a escrita, e defende que esses processos são distintos no cérebro. A leitura faz uso do que ele chama de área de formação visual, que deve ter evoluído de uma habilidade para o reconhecimento das formas do ambiente a nossa volta, de imagens importantes como rostos conhecidos. O reconhecimento visual de objetos depende dos milhões de neurônios do córtex inferotemporal, e segundo Sacks nos conta  ler vem da plasticidade que esses neurônios tem de se adaptar:  Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia

“fizeram uma análise por computador de mais de uma centena de sistemas de escrita antigos e modernos, inclusive sistemas alfabéticos e ideogramas chineses. Mostraram que todos eles, embora geometricamente muito diferentes, têm em comum certas semelhanças topológicas básicas. (…) Changizi et al . encontraram invariantes topológicas semelhantes em um conjunto de cenários naturais, o que os levou a supor que as formas das letras “foram selecionadas” para lembrar as conglomerações de contornos encontradas em cenas naturais (…) 1

O paciente de Sacks, Howard, não conseguiu se curar da alexia, mas graças a uma enorme força de vontade, descobriu como conseguir alguma rapidez para a leitura. Ele percebeu que ao escrever o contorno da letra com o dedo no ar, ele conseguia memorizar mais facilmente a letra e isso auxiliava a sua leitura, além dos dedos, Howard começou a mover a língua, traçando a forma da letra no céu da boca e nos dentes, ele estava substituindo a leitura por uma espécie de escrita, lendo com a língua, como diz Sacks.

Esse capítulo todo do livro de Oliver Sacks me fez pensar se um software de computador poderia agir assim. Nosso cérebro é produto de milhões de anos de adaptação e evolução. Sua forma de operar é bem diferente dos algoritmos que criamos em um programa.

Podemos imaginar que isso possa ser copiado e reproduzido por um software que se adapte. Mas o interessante de se pensar é que a evolução não busca a perfeição. Ela busca meios de se adaptar a um problema que surge. A saída encontrada não é, necessariamente, a melhor saída, apenas uma saída. Por exemplo: Para sobreviver a variações de temperatura, alguns seres desenvolveram penas, outros pelos, outros uma grossa camada de gordura.

Portanto na procura de tentar imitar o cérebro humano, uma inteligência artificial pode encontrar varias outras possibilidades. Um tipo diferente de inteligência. Nem melhor nem pior, mas diferente. Como seria esse ser?

Referencia Bibliográfica:

1 – Sacks Oliver – O olhar da mente – Companhia das Letras (2010)- página: 73

A origem: cinema e tecnologia, imaginação e arte, subconsciente e geometria, efeitos especiais e inteligência.

agosto 18, 2010

Na semana passada assisti ao filme: “Inception” intitulado no Brasil: A origem e estrelado por Leonardo DiCaprio. O filme foi escrito, produzido e dirigido por   Christopher Nolan,  o mesmo diretor  dos novos filmes do Batman: “Batman Begins” e “O cavaleiro das trevas”. Nolan também é roteirista do excelente Memento (no Brasil: Amnésia ) de 2000.

A origem pode ser classificado como um filme de ficção científica, na mesma linha de Matrix. Inclusive a temática é parecida, a grande questão: o que estamos vivendo é a realidade? Também nesse filme, assim como em matrix, os personagens podem entrar numa espécie de mundo virtual, mas nesse caso este mundo pertence ao sonho de alguém.

Em “Mullholand Drive” (No Brasil: Cidade dos sonhos) um drama de 2002 do diretor David Lynch, ficamos perplexos com a confusão que o diretor nos coloca ao transformar o filme num verdadeiro sonho. Agora Nolan nos insere no sonho de um personagem e de dentro do sonho somos enviados a outro sonho e mais outro, como se fosse uma “matrioshka”, aquelas séries de bonecas russas que ficam umas dentro das outras.

Matrioshka - as bonecas russas

É preciso estar bem acordado para ver o filme, mas a complexidade de A Origem de Nolan não chega nem perto da de Cidade dos Sonhos de Lynch. Mesmo assim o filme vale muito a pena, por ter uma idéia inteligente, atores excelentes e imagens impressionantes. O filme ainda pode agradar aos fãs de filmes de ação pois toda a questão sobre sonhos e realidade servem como pano de fundo para um tema bem batido, o crime perfeito. Dentro disso não faltam tiros e perseguições, que a meu ver são a parte fraca do filme. Talvez por saber que os personagens estavam dentro de um sonho, fica dificil “entrar no filme” nas partes que envolvem a ação.

O que mais me agradou no filme, e que me motivou a escrever aqui no blog, é como o filme casa tão bem efeitos especiais e ficção científica. É uma pena que a maior parte dos filmes de efeitos especiais sejam sobre catastrofes, destruições do planeta, ataques de monstros ou alienígenas. A carência de roteiros inteligentes, para filmes que contenham esses efeitos, acaba levando a um preconceito de que efeitos especiais e qualidade são inversamente proporcionais. Mas Nolan já havia mostrado sua competencia em Amnésia. Um filme cujo enredo é muito simples e barato, mas que ao ser montado de tras para frente transformou-o num excelente filme. Lembro-me que ao assisti-lo no cinema pela primeria vez, fui ficando muito incomodado com a confusão inicial, mas quando o filme acabou tudo fez sentido e foi uma sensação ótima de compreensão, como se um enorme quebra cabeça tivesse sido montado em alguns segundos. Engraçado que no filme Cidade dos Sonhos de Lynch a sensação foi exatamente ao contrário, uma imagem que parecia pronta, é despedaçada a medida que o filme vai terminando e quando acaba, a sensação é que faltam peças para montar o quebra cabeça.

Mas voltando ao filme A Origem, outro detalhe que merece destaque aqui são as referencias, não citadas, ao artista gráfico M. C. Escher. Mestre da ilusão de óptica, Escher utiliza, de forma brilhante, elementos da geometria e do infinito para criar cenas impossíveis e perturbadoras, como a água que sempre desce mas que retorna ao ponto de partida ou escadas que sempre sobem. O filme explora bem isso, já que nos sonhos, nosso subconsciente pode criar cenários inusitados.

Vejam abaixo algumas obras de Escher e o video do trailer do filme.

Cérebro Eletrônico? (Parte II)

julho 15, 2010

Já faz certo tempo desde que escrevi a parte I, esperava lançar a parte II no máximo em duas semanas, mas fui atropelado não só pelos afazeres diários, mas por muitas outras notícias interessantes e que julguei serem mais rápidas, ou que necessitavam de divulgação quase imediata. Entre essas notícias algumas surpreendentes, até mais do que a invenção do chip que deu origem a este tópico. A célula sintética, por exemplo, a criação de uma forma de vida artificial (apesar do uso de uma célula natural) foi algo que surpreendeu a todos e chamou bastante a atenção da mídia. Pretendo escrever sobre esse assunto em breve, agora voltemos à questão do cérebro eletrônico.

Na parte I mencionei a criação de um dispositivo eletrônico que parece imitar a forma de processamento do cérebro humano. Diferentemente dos circuitos digitais comuns que operam em série, esse dispositivo opera em paralelo, podendo com isso resolver vários problemas de uma só vez, assim como nosso cérebro. A questão que ficou em aberto é se esse invento vai permitir a criação da verdadeira IA (inteligência artificial).

Na edição de julho deste ano, a matéria de capa da revista Scientific Amererican Brasil traz o seguinte título: “Doze eventos que mudarão tudo”. Entre eventos prováveis, improváveis, e quase certos estão: Clonagem humana, criação da vida, derretimento das calotas polares, guerra nuclear entre outros. A criação de máquinas autoconscientes é um desses eventos e classificada pela revista como provável. Segundo Larry greenemeier (autor desta parte da matéria) “Pesquisadores de inteligência artificial (IA) não tem dúvidas de que o desenvolvimento de computadores e robôs altamente inteligentes que consigam se autorreplicar, ensinar uns aos outros e se adaptar a diferentes condições vai transformar o mundo. Quando isso vai acontecer, até que ponto chegará e o que deveremos fazer, entretanto, é motivo de debate.”

Uma questão que preocupa é a rapidez com a qual uma máquina pode se replicar, produzindo cópias melhoradas de si mesma. Em menos de uma geração humana, poderíamos ter uma população de máquinas com alguma forma de  superinteligência  habitando nosso mundo. Será isso ameaçador?

Não há consenso sobre isso. O psicólogo cognitivo Steven Pinker, autor do livro “Como a mente funciona” (já mencionado na primeira parte) ridiculariza essa fobia. Segundo ele, achar que os robôs se rebelariam contra os humanos, é projetar características humanas em algo não humano. Violência, raiva, ódio, amor, saudades, são sentimentos humanos e provavelmente uma máquina não os teria. Ele ainda completa ironizando, o que uma máquina iria exigir? Mais espaço de memória? Liberdade para sua impressora?

Concordo em partes com Pinker, temos a mania de projetar nossos sentimentos, defeitos e qualidades em outros seres. Basta assistir a qualquer programa sobre animais da Discovery Channel para perceber como eles são narrados, os tubarões são feras assassinas, máquinas de matar. Os predadores são espertos, inteligentes, e insensíveis.  Alguns programas exageram tanto na humanização dos bichos que um documentário sobre o Pingüim Imperador acabou fazendo muito sucesso no cinema, pois o documentário acabou virando uma verdadeira novela, com narração e tudo.

Por que os robôs, ou máquinas inteligentes, se rebelariam contra os humanos? Por acaso nós nos rebelamos contra os macacos?

Não nos rebelamos contra eles, mas os pusemos em jaula, você poderia argumentar. Além disso, a inteligência de um primata não é suficiente a ponto de causarem uma competição conosco. Os robôs poderiam competir conosco por algo essencial, energia.

Além disso, o neurocientista  Antônio Damásio, defende uma idéia interessante em seu livro: “O erro de Descartes”. Analisando diversos casos clínicos de doenças neurológicas,  ou de pessoas que sofreram acidentes no cérebro, ele propõe que os sentimentos possuem uma importância muito grande na inteligência humana. Pessoas que perderam, ou que tiveram seus sentimentos comprometidos, também perderam parte de seu raciocínio lógico.

Se Damásio estiver certo, os robôs inteligentes teriam que desenvolver uma espécie de sentimento e por que não a inveja, o ódio, a ganância?

O contra-argumento é óbvio. Por que desenvolveriam somente sentimentos “ruins”? A compaixão, a solidariedade, o amor, também são sentimentos humanos. Provavelmente teríamos robôs que iriam se opor a guerra e à  servidão humana.

Em filmes como “O exterminador do futuro” e Matrix as máquinas se rebelaram contra os humanos e nenhuma ficou do nosso lado. Na versão II do exterminador do futuro, há uma do nosso lado, mas porque foi reprogramada para isso, não foi iniciativa própria. Em “2001 uma odisséia no espaço”, do brilhante Stanley Kubrick e do físico Arthur C. Clarck, há um computador inteligente que se rebela contra os humanos, mas o roteiro é mais inteligente, HAL (o nome do computador, que alguns especularam que seria a sigla IBM subtraída uma casa na ordem do abecedário) volta-se contra os humanos, não por um sentimento ou competição, mas por analisar que essa seria a decisão mais correta para cumprir aquilo para o qual foi programado, chegar até Jupiter. Já no filme Cult “Blade Runner – O caçador de andróides” há uma discussão filosófica bem interessante. O filme se desenrola como um mero filme de ação, o robô parece estar lutando por sua preservação. Mas no final do filme (não vou contar o final pode ficar tranqüilo) somos surpreendidos por um discurso bem diferente, o robô é movido por um sentimento bem humano: a procura do sentido da vida.

O físico e escritor de ficção científica Isaac Asimov, famoso pelos contos e romances sobre robôs criou as conhecidas leis da robótica, que garantiriam a segurança dos humanos, pois seriam programadas em todos os robôs autoconscientes. São elas:

Primeira Lei: Um robô não pode ferir um ser humano, ou por omissão permitir que um ser humano sofra algum mal.

Segunda Lei: Um robô deve obedecer as ordens de um ser humano a não ser que o cumprimento dessa implique em violar a primeira lei.

Terceira Lei: Um robô deve proteger a si mesmo a menos que o cumprimento dessa lei implique em violar a primeira lei ou a segunda lei.

 Alguns pesquisadores acham que um dispositivo desse tipo pode mesmo garantir nossa segurança, uma vez que ainda somos nós que programamos os computadores. Mas o próprio Asimov mostrou, em algumas histórias, que há formas  de se violar as leis, além disso, sendo os robôs autoconscientes, que garantias teríamos que eles não poderiam se reprogramar?

Outra situação perigosa pode acontecer se a um robô inteligente forem adicionadas armas. Isto não é improvável, uma vez que as forças armadas sempre estão à procura de uma arma que forneça vantagem em relação ao inimigo. Aviões “invisíveis”, binóculos de visão noturna, coletes a prova de balas, “ mísseis “inteligentes”, armas nucleares. Muitos são os exemplos,  e não é difícil que uma inteligência artificial surja inicialmente com fins militares, uma vez que muitos países investem pesado em novos armamentos.

Será que a humanidade seria tão idiota a ponto de criar um soldado robô? Ou pior um exército de soldados robôs? Que apesar de serem pré-programados poderiam tomar atitudes independentes? Que aprenderiam com os erros? Que evoluiriam?

As questões são muito especulativas e isso se deve ao fato de não termos nenhum critério de comparação, somos únicos no planeta. Mesmo sabendo que primatas podem aprender a linguagem dos sinais, que golfinhos possuem estratégia de caça muito inteligente e que um polvo pode prever com 100% de acerto os resultados dos jogos da Alemanha e o resultado da partida final da copa de 2010, ainda assim não há nada comparável a inteligência humana. Nenhum outro ser modificou, de forma consciente, o ambiente em que vive (infelizmente essa modificação as vezes é para pior). Nenhum outro ser criou a arte, a matemática, as ciências a tecnologia.

Não quero dizer que somos o suprasumo da evolução. Estamos ainda em fase de adaptação. Acabamos de chegar ao planeta. Não temos nem 200 mil anos de existência como espécie. O tubarão, o jacaré, as formigas e vários outros bichos estão há muito mais tempo no mundo, adaptados há milhões de anos como a mesma espécie.

E não somos, tão pouco, os seres dominantes do planeta. As bactérias são muito mais numerosas e estão praticamente em todo lugar. Se há uma espécie dominante no mundo eu não sei, mas as bactérias concorrem a esse posto, com certeza.

 Não acredito numa revolução das máquinas, esse complexo de Frankstein é mais uma das neuroses humanas. Acho mais provável acontecer uma espécie de simbiose entre os humanos e as máquinas. A adaptação de máquinas no corpo humano está em um estágio muito avançado, e a conexão de chips e neurônios já existe. Ratos e insetos controlados de forma remota através de circuitos eletrônicos já são uma realidade. Será que teremos uma entrada USB em nossas cabeças? Esse é um assunto para Cérebro eletrônico parte III.

Referências Bibliográficas:

Massively parallel computing on an organic molecular layer
Anirban Bandyopadhyay, Ranjit Pati, Satyajit Sahu, Ferdinand Peper, Daisuke Fujita
Nature Physics
25 April 2010
Vol.: Published online before print
DOI: 10.1038/nphys1636

 Site: Inovação Tecnológica – Tudo o que acontece na fronteira do conhecimento http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=processador-molecular-imita-cerebro-humano&id=010150100426 – Acesso em 26/04/2010

Pinker, S. “Como a mente funciona” – Companhia das Letras – 2001

Scientific American Brasil, no. 98, ano 8 – Julho 2010

Damásio, A. “O erro de Descartes” – Copanhia das Letras – 2001

Os Cinquenta livros que mais gostei na área de ciência e tecnologia

junho 13, 2010

Seguem algumas sugestões de leitura na área de ciência e tecnologia. A maioria é não ficção, mas indico também alguns de ficção ou romance que gostei bastante dentro dessa área. Coloquei um tema geral sobre os principais assuntos do livro. Em seguida temos o título, autor e editora. Pretendo ir atualizando a lista à medida que for lembrando de outros livros que li. Obs: Os que estão em vermelho são os que considero que não podemos morrer sem ter lido.

Tema: A importância da ciência, o perigo do analfabetismo científico, Discussão sobre pseudociência.

O Mundo Assombrado pelos demônios – A ciência vista como uma vela no escuro. (Carl Sagan, Cia das Letras)

Desvendando o arco-íris – (Richard Dawkins – Cia das letras)

Obs.: Este livro do Sagan é quase obrigatório para todos aqueles que trabalham com ciências ou com o ensino de ciências. Além de ser extremamente claro faz uma defesa apaixonada da ciência. São vários artigos independentes, que podem ser lidos fora da ordem. Pretendo em breve fazer um post sobre Carl Sagan, mas se quiser conhecer um pouco mais sobre seu legado procure no youtube (ou na locadora) a série cosmos, apresentada por ele. Apenas uma pequena demonstração nesse vídeo de 3,57 minutos:

Tema: Charlatanismo e erros na ciência

A impostura científica em 10 lições (Michel de Pracontal, Unesp) – Os cientistas também erram, as vezes sem querer, as vezes por conveniência. Discute vários casos famosos ou não. Se não dispõe de muito tempo, leia pelo menos o caso da disputa da descoberta do vírus da Aids. Uma briga pela patente foi responsável por milhares de contaminações que poderiam ter sido evitadas.

Tema: Divulgação de conhecimentos científicos e concepções de ciência.

Viagens no tempo e o cachimbo do vovô Joe (Alan Lightman, Cia das Letras).

As coisas são assim, um pequeno repertório científico das coisas que nos cercam (John Brokman e Katinka Matson, Cia das Letras). Este é um pequeno livro muito agradável de ler, que traz ensaios curtos e super didáticos sobre teoria da relatividade, teoria da evolução, cérebro e mente, matemática. Escrito por grandes nomes da ciência como: Stephen Jay Gould, Lee Smolin, LynnMargulis, Richard Dawkins e outros. Cada ensaio não tem mais de 4 páginas.

Tema: história da ciência, evolucionismo e conhecimentos científicos em geral.

A dança do universo – Dos mitos de criação ao big bang ( Marcelo Gleiser – Cia das letras) – traz um relato muito interessante sobre a vida de vários cientistas, ressaltando principalmente o lado humano.

O sorriso do Flamingo (Stephen Jay Gould – Matins Fontes) – No mesmo nível de Carl Sagan como divulgador de ciência e ainda paleontólogo, biólogo evolucionista e historiador da ciência, Jay Gould traz uma escrita fluente e riquíssima. Possui diversos livros maravilhosos. Este é uma coletânea de ensaios.

O gene egoísta (Richard Dawkins – Cia das letras) – O Neodarwinismo descrito de forma clara e surpreendente.

A Tripla Hélice – GeneOrganismo – Ambiente ( Richard C. LewontinEdições 70)
de forma extremamente didática Lewontin vai questionar profundamente o determinismo genético (defendido ferrenhamente por Dawkins). Difícil é tomar uma posição depois de ler esses dois.

Grandes debates da ciência (Hal Hellman, Unesp)  – Para aqueles que ainda acham que existe “a visão da ciência” como se sempre houvesse um consenso, este livro traz debates históricos sempre entre dois cientistas eminentes com visões opostas.

– Uma breve história do infinito – Dos paradoxos de Zenão ao universo quântico (Richard Morris – Jorge Zahar)

– A Ciência Através dos Tempos ( Attico Chassot – Moderna) – é um pouco curto demais, mas por outro lado rápido de ler.

– Além do bem e do mal  (Friedrich Nietzsche – Cia das Letras) – Apesar de ser um livro de filosofia, Nietzsche faz uma crítica aguda da ciência e tecnologia da época.

– Retalhos Cósmicos (Marcelo Gleiser – Cia das letras) – Uma coletânea de sua coluna do caderno mais da folha de São Paulo.

Tema: O poder e a beleza da quantificação (matemática) conservação ambiental, aborto, religião

Bilhões e bilhões reflexões e morte na virada do milênio ( Carl Sagan – Cia das Letras)

Tio Tungstênio – Memórias de uma infância química (Oliver Sacks – Cia das Letras)

Tema: Formação da vida, uma ligação interessante entre biologia, física e química.

O quinto milagre Em busca da origem da vida ( Paul Davies – Cia da letras)

– Entre o cristal e a fumaça – Ensaio sobre a organização do ser vivo ( Henri Atlan – Jorge Zahar).

Tema: Física moderna: Relatividade, Física quântica, espaço tempo, origem e fim do universo, bombas nucleares e energia atômica.

O tecido do cosmoO espaço, o tempo e a textura da realidade (Brian Greene – cia das letras)

O universo elegante – (Brian Greene – Cia das letras)

Obs: Em minha opinião esses dois são os melhores livros sobre a teoria da relatividade que já li. Brian Greene consegue a façanha de simplificar usando analogias muito criativas e engraçadas, mas sempre tomando o cuidado de mostrar as falhas que o excesso de simplificação traz.

O incrível mundo da física moderna – George Gamow – Ibrasa (fora de catálogo, mas possível de encontrar na livraria do instituto de física, ou em sebos). Este é outro especialista em conseguir simplificar de forma didática e engraçada, mas com um bom rigor científico. Gamow foi um dos físicos que criaram o modelo do Big Bang.

ABC da relatividade ( Bertrand Russell – Jorge Zahar) O grande filósofo e matemático Bertrand Russel divulgando ciência, um clássico.

O futuro do espaço-tempo ( Stephen Hawking; kip S. Thorne; Igor Novikov; Timothy Ferris; Alan Lightman; Richard Price – Cia das Letras). Seis artigos muito interessantes, cada um escrito por um dos pesquisadores acima. Finalmente li algo interessante do Hawking, minha dica para os não iniciados em física é: fujam do Stephen Hawking e de seus Best Sellers: “Uma breve história sobre o tempo” e “O universo em uma casca de noz” não são livros para leigos. Em minha opinião ele não consegue explicar um conceito físico de forma clara e vários conceitos são simplismente introduzidos sem explicação alguma.

Conversas sobre o invisível – Especulações sobre o universo ( Jean Audouze – Michel Casse e Jean Claude Carrière  editora brasiliense). – Um bate papo sobre física moderna (relatividade, quântica e nuclear) entre dois físicos e um roteirista dos filmes de Luis Buñel (Jean Claude Carrièrre) escrito na forma de diálogos mesmo.

O enigma do tempo ( Paul Davies – Ediouro)

A face oculta da natureza – O novo mundo da física quântica – (Anton Zeilinger – Globo Editora) – Um livro fantástico e atual sobre quântica, escrito por um pesquisador importante desta ciência intrigante.

A evolução da física – (Albert Einstein e Leopold Infild- Jorge Zahar) – Que tal aprender relatividade com quem criou a teoria? Claro que não se trata do artigo original da teoria da relatividade, mas de um livro de divulgação científica que explica não só relatividade mas outras áreas importantes da física.

– Física em seis lições (Richard P. Feynman – Ediouro) – Outro livro escrito por um grande físico (o mais famoso dos EUA), é uma versão resumida de uma coleção bem maior.

– Física e filosofia (Werner Heisenberg – Editora: UNB) – Ler teorias descritas pelos próprios autores é outra história.

SCHRÖDINGER & HEISENBERG   A física além do senso comum – (Antônio F.R. de Toledo Piza – Odysseus ) A história de dois jovens pesquisadores que criaram o formalismo matemático da mais incompreensível teoria física de todos os tempos, a física quântica. De forma completamente independente, e usando cada um, seu próprio formalismo matemático, chegaram quase ao mesmo tempo, em duas teorias perfeitamente equivalentes.

Conceitos de física quântica vol 1 – ( Osvaldo Pessoa Junior – editora livraria da física) Um livro mais rico em detalhes sobre os experimentos quânticos e que discute os conceitos apresentando diferentes interpretações, porém não é um livro propriamente para leigos, exige um certo conhecimento inicial.

O Tao da física – (Fritjof Capra – Cultrix) – Um paralelo entre a física moderna e a filosofia oriental, feito bem antes de “Quem somos nós?” e “ o segredo” deturparem completamente essas idéias. Trata-se de um bom livro de divulgação da quântica e totalmente despretensioso, traçando paralelos bem interessantes entre as visões científicas e filosóficas e até religiosas do oriente.

Espaço-tempo e além (Bob Toben Fred Alan Wolf – Cultrix) – Esse livro é muito maluco e exagerado, mas no final dele há uma explicação detalhada sobre conceitos quânticos de forma precisa.

O que é a teoria da relatividade ( L. Landau e Y. Rumer – Hemus) – Escrito pelo maior físico teórico da Rússia e premio Nobel de física. Landau ficou famoso por sua coleção completa sobre física adotada por várias universidades no mundo todo. Esse é um livro popularização da relatividade, escrita para um público leigo.

O estranho caso do gato da Sra. Hudson – E outros mistérios da ciência resolvidos por Sherlock Holmes ( Colin Bruce – gradiva) – Usando como personagem o famoso detetive criado por Conan Doyle, Colin Bruce procura explicar fenômenos da física moderna.

Tema: Cérebro, mente, neurologia

Como a mente funciona – Steven Pinker (Cia das letras) – Uma livro enorme, não só no tamanho mas também no conteúdo, discute o funcionamento do cérebro humano comparando-o com o funcionamento de um computador.

Os dragões do éden (Carl Sagan – Gradiva) – Discute a evolução do cérebro humano e põe por terra mitos como dizer que o ser humano usa menos de 10% da capacidade cerebral.

O erro de Descartes ( Antônio Damásio – Cia das letras) – O neurologista discute doenças neurológicas e a importância dos sentimentos na cognição.

O homem que confundiu sua mulher com um chapéu – Oliver Sacks – O também neurologista Oliver Sacks possui vários Best Sellers, neste discorre por vários casos curiosos de doenças neurológicas.

Tema: Tecnologia futura

Infinito em todas direções (Freeman Dyson – Cia das Letras)

– Mundos Imaginados (Freeman Dyson – Cia das Letras)

O terceiro Planeta (Arthur C. Clarke – Humus) O escritor do conto que se transformou no  famoso filme “2001 uma odisséia no espaço”, dirigido e escrito conjuntamente por Stanley Kubrick, faz previsões futuristas para o ano 2000, em meados da década de sessenta. Muito interessante verificar  se Clarke conseguiu prever com exatidão alguma coisa que para nós é presente hoje e quais previsões não se concretizaram.

Tema: Ficção científica, romances, contos

– O jardim dos caminhos que se bifurcam

Ficções

– Aleph

( Jorge Luis Borges ) Na verdade são três livros. Cada um deles é um livro de contos e cada titulo é o titulo de um conto do mesmo nome, dependendo da editora os contos podem se repetir. Quem gosta de contos fantásticos e paradoxos, relações com o tempo e o espaço não pode deixar de ler Borges, nem Cortázar.

Todos os fogos o fogo ( Julio Cortázar) – Assim como Borges, é imperdível.

Contato ( Carl Sagan  – Cia das Letras) – Um romance cheio de ciência e discussões sobre ceticismo e fé.

Os robôs

– O homem bicentenário

– Fim da eternidade

(Isaac Asimov) três livros, cada um melhor que o outro. Os dois primeiros a respeito de robótica e o último uma ficção incrível sobre como seria viajar no tempo e a teoria do caos.

– Sonhos de Einstein (Alan Ligthman – Cia das Letras) – O físico e poeta Alan Ligthman escreve de forma poética vários universos possíveis imaginados por Eisntein em sonhos.

Bom por enquanto é isso, a medida que for lembrando de outros importantes livros da área que mereçam um destaque criarei um novo post “os 60 mais”, “os 70 mais….”