Posts Tagged ‘ciência e arte’

A origem: cinema e tecnologia, imaginação e arte, subconsciente e geometria, efeitos especiais e inteligência.

agosto 18, 2010

Na semana passada assisti ao filme: “Inception” intitulado no Brasil: A origem e estrelado por Leonardo DiCaprio. O filme foi escrito, produzido e dirigido por   Christopher Nolan,  o mesmo diretor  dos novos filmes do Batman: “Batman Begins” e “O cavaleiro das trevas”. Nolan também é roteirista do excelente Memento (no Brasil: Amnésia ) de 2000.

A origem pode ser classificado como um filme de ficção científica, na mesma linha de Matrix. Inclusive a temática é parecida, a grande questão: o que estamos vivendo é a realidade? Também nesse filme, assim como em matrix, os personagens podem entrar numa espécie de mundo virtual, mas nesse caso este mundo pertence ao sonho de alguém.

Em “Mullholand Drive” (No Brasil: Cidade dos sonhos) um drama de 2002 do diretor David Lynch, ficamos perplexos com a confusão que o diretor nos coloca ao transformar o filme num verdadeiro sonho. Agora Nolan nos insere no sonho de um personagem e de dentro do sonho somos enviados a outro sonho e mais outro, como se fosse uma “matrioshka”, aquelas séries de bonecas russas que ficam umas dentro das outras.

Matrioshka - as bonecas russas

É preciso estar bem acordado para ver o filme, mas a complexidade de A Origem de Nolan não chega nem perto da de Cidade dos Sonhos de Lynch. Mesmo assim o filme vale muito a pena, por ter uma idéia inteligente, atores excelentes e imagens impressionantes. O filme ainda pode agradar aos fãs de filmes de ação pois toda a questão sobre sonhos e realidade servem como pano de fundo para um tema bem batido, o crime perfeito. Dentro disso não faltam tiros e perseguições, que a meu ver são a parte fraca do filme. Talvez por saber que os personagens estavam dentro de um sonho, fica dificil “entrar no filme” nas partes que envolvem a ação.

O que mais me agradou no filme, e que me motivou a escrever aqui no blog, é como o filme casa tão bem efeitos especiais e ficção científica. É uma pena que a maior parte dos filmes de efeitos especiais sejam sobre catastrofes, destruições do planeta, ataques de monstros ou alienígenas. A carência de roteiros inteligentes, para filmes que contenham esses efeitos, acaba levando a um preconceito de que efeitos especiais e qualidade são inversamente proporcionais. Mas Nolan já havia mostrado sua competencia em Amnésia. Um filme cujo enredo é muito simples e barato, mas que ao ser montado de tras para frente transformou-o num excelente filme. Lembro-me que ao assisti-lo no cinema pela primeria vez, fui ficando muito incomodado com a confusão inicial, mas quando o filme acabou tudo fez sentido e foi uma sensação ótima de compreensão, como se um enorme quebra cabeça tivesse sido montado em alguns segundos. Engraçado que no filme Cidade dos Sonhos de Lynch a sensação foi exatamente ao contrário, uma imagem que parecia pronta, é despedaçada a medida que o filme vai terminando e quando acaba, a sensação é que faltam peças para montar o quebra cabeça.

Mas voltando ao filme A Origem, outro detalhe que merece destaque aqui são as referencias, não citadas, ao artista gráfico M. C. Escher. Mestre da ilusão de óptica, Escher utiliza, de forma brilhante, elementos da geometria e do infinito para criar cenas impossíveis e perturbadoras, como a água que sempre desce mas que retorna ao ponto de partida ou escadas que sempre sobem. O filme explora bem isso, já que nos sonhos, nosso subconsciente pode criar cenários inusitados.

Vejam abaixo algumas obras de Escher e o video do trailer do filme.

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Matrix e a física – Cinema e ciência

maio 27, 2010

Amanhã as 14:00 horas no colégio OSWALD DE ANDRADE assistiremos ao filme Matrix   de 1999, dirigido pelos irmãos Wachowski e protagonizado por  Keanu Reeves. Em seguida faremos uma conversa onde este que vos fala (ou melhor, escreve) discutirá as relações entre a física e o filme. Na verdade pretendo discutir mais sobre a importância do filme e alguns elementos da ficção científica, do que traçar paralelos entre a física e o filme.

Esta idéia veio de um convite, feito pelo grêmio do colégio, e  pretende retomar uma prática antiga de exibição de filmes com posterior discussão feita por um convidado.

Espero que você possa comparecer e discutir com a gente sobre esse filme tão importante para a ficção científica. Data: 28/05/2010 – 14 horas – Colégio Oswald de Andrade – Endereço: Rua Cerro Corá, 2375 – Alto da Lapa

LOST:QUANDO A FICÇÃO ENCONTRA A FÍSICA.

abril 6, 2010

Quando entrei na graduação de Física quase todos meus colegas eram fãs do seriado Star Trek (no Brasil Jornada nas estrelas). Particularmente eu era exceção, não porque não gostasse, mas porque o horário do seriado coincidia com o da novela e minha mãe não abria mão de assistir ao teledrama.

Hoje a TV a cabo possui vários seriados que fascinam amantes da ciência ou de ficção cientifica. A comédia  “The Big Bang theory” traz no próprio nome a referência de uma teoria da Física. CSI: Crime Scene Investigation (no Brasil CSI: Investigação Criminal) é um show de efeitos especiais e usa várias áreas da ciência para desvendar crimes.  Mas a sensação do momento nos últimos anos é Lost. Mistérios não faltam naquela ilha e as explicações para os mesmos têm levantado as mais variadas discussões em fóruns, blogs, twitter, Orkut e rodas de conversas.

É bastante claro que a intenção dos autores é mesclar mistério, ficção e ciência. Eletromagnetismo, viagens no tempo, armas  nucleares, professores de Química e até uma referência direta a um dos maiores físicos experimentais, Michael Faraday, que empresta seu sobrenome a um dos personagens, Daniel Faraday, que não por acaso é um físico que vai parar na ilha em busca de testar suas teorias. Agora, na última temporada da série mais uma área exótica da Física: os universos paralelos.

O seriado conquistou muita gente, aficionados ou não de ciência. Muitos alunos vêm me perguntar sobre a física de Lost e até propor uma aula sobre a série, pois acreditam que a Física possa responder aos inúmeros mistérios da ilha, inclusive a enigmática fumaça preta que desde a primeira temporada intriga a todos.

Em 2008 o seriado foi abordado à luz da Física moderna no trabalho de tese do Colégio Oswald de Andrade  intitulado Física não é só para nerds.  Os rótulos atribuídos àqueles que se dedicam à ciência. Apesar de ser um trabalho do ensino médio,  a aluna Maria Fernanda Sader Basile discute as relações da Teoria da Relatividade e da Física Quântica com os mistérios da ilha. A abordagem do trabalho não era sobre o que está errado ou certo no seriado, até porque o seriado não tem nenhuma obrigação de ser fisicamente correto, a crítica foi sobre o pré-conceito que os amantes da ciência sofrem, como se gostar de Física ou Matemática fosse sinônimo de pessoas que são completos bitolados como mostram alguns filmes caricatos. Em Lost é possível perceber como a ciência pode ser instigante e desafiadora, como um suspense de Hitchcock.

Uma crítica que pode ser feita ao seriado é o uso que se faz do eletromagnetismo. No final do século XIX, quando o mundo começava a conhecer as aplicações do eletromagnetismo, muitos fenômenos dessa área da Física eram apresentados como números de mágica ou atrações circenses. Estranhamente parece que esse modismo voltou. Palmilhas magnéticas, colchões magnéticos, garrafas térmicas magnéticas, e até calcinhas magnéticas são anunciadas para venda. O magnetismo parece estar associado a milagres impressionantes. O manual da garrafa magnética, por exemplo, diz que o magnetismo quebra as moléculas de água e com isso propriedades terapêuticas são obtidas. Bem, confesso que não sei se é possível quebrar as moléculas de água usando campos magnéticos tão fracos quanto os produzidos pelos ímãs da garrafa, mas, ainda que isto seja possível, quando estou com sede quero beber água (H2O com sais minerais) e não uma molécula de água “quebrada” (o que seria uma “molécula quebrada” de água? Hidrogênio? Oxigênio? Água oxigenada? Na dúvida fiquei com meu filtro de barro mesmo).

Por ser uma série tão inteirada com as novidades científicas, achei estranho que os autores de Lost fizessem uso justamente do eletromagnetismo como fonte de energia para provocar as viagens no tempo e outros efeitos. Autores tão imaginativos deveriam ter buscado inspiração em outras fontes de energia, mas, como já disse, o seriado é uma ficção e, portanto, não possui nenhum compromisso com as verdades científicas.

Apesar deste detalhe, a série é muito intrigante, principalmente pelas amarrações que vão acontecendo entre os personagens desde a primeira temporada. Parece que o sucesso da série foi tanto, que os autores decidiram adicionar mais uma temporada. Com isso algumas amarrações ficaram embaralhadas e confusas. A expectativa agora é saber se eles vão conseguir atar esses nós e ainda por cima solucionar todos os mistérios.  Mas para mim o principal já foi conseguido, mostrar que a ciência, principalmente a Física, não precisa ser enfadonha e cheia de fórmulas incompreensíveis. Ainda que o seriado não seja sobre ciência, ela serve como um pequeno pano de fundo para uma aventura instigante.

Um dos capítulos de que mais gostei foi o episódio 5 da quarta temporada, quando o personagem Desmond está enlouquecendo pois sua mente está viajando no tempo. Ele fica revendo momentos do passado juntamente com o presente e isso vai levá-lo ao colapso. Segundo o físico Daniel Faraday, sua única chance é encontrar uma constante para deter as viagens. Desmond então conversa por telefone com sua amada Penny e assim consegue estabilizar-se no presente. Achei genial a idéia de ser necessária uma constante para frear as viagens incessantes que caminhavam para o infinito. Na teoria do caos existe algo assim: são os chamados atratores, pontos para os quais uma série infinita pode convergir. Não importa se os autores tenham se inspirado nisso ou não, o que importa é que a forma como eles criaram esse episódio foi muito emocionante.

Arte e ciência vivem se encontrando e flertando uma com a outra. Ainda que tão diferentes na forma de operar, podem, quando na dose certa, nos brindar com uma excelente história. Desde um conto de Borges ou Cortázar a uma história de Asimov. Na literatura de Eça de Queirós ou na pintura de Picasso. Nas alucinantes obras de Escher  ou nos inventos de Da Vinci. Assim como o sal e o açúcar fornecem diferentes gostos à comida quando colocados em pratos separados, misturá-los em um mesmo prato pode nos trazer gratas surpresas.