Prometi a vários alunos que, neste fim de semana que passou, iria escrever um post sobre uma revolução que deve acontecer na área da computação, graças à obtenção de um novo tipo de processador. Mas resolvi adiar este post por mais alguns dias depois de me informar melhor sobre esse terrível acidente que aconteceu no golfo do México: a explosão da plataforma de petróleo Deepwater Horizon, ocorrida no dia 20 de abril. A explosão matou 11 pessoas e o derramamento de óleo é calculado em cerca de 5 mil barris por dia o que equivale a cerca de 800 mil litros de petróleo.

A mancha de óleo representa atualmente uma área de 74,1 mil quilômetros quadrados o que equivale a 50 vezes a área da cidade de São Paulo, segundo a BBC, e é maior que a área da Jamaica segundo a CNN.

O pior é que já faz treze dias desde a explosão e nenhum dos três vazamentos foi fechado. A utilização de robôs para tentar fechar possíveis válvulas não deu certo. Pensa-se agora em colocar um bloco de concreto de 70 toneladas a uma profundidade de 1500 m, algo nunca tentado antes. Outra possível solução que começou a ser feita ontem, é a perfuração de outro poço próximo ao local do vazamento para reduzir a pressão e conseguir selar de vez o rompimento, mas isso pode levar várias semanas.


Em tempos de crise financeira não é fácil assumir uma perda de 430.000 dólares, jogados diariamente no mar (considerando o valor de 86 dólares o barril de petróleo), mais o custo de 350 milhões de dólares da plataforma e o dobro disto para sua substituição, seis milhões de dólares diários para tentar conter o vazamento e as perdas provocadas pela suspensão da pesca local que devem chegar a 2,4 bilhões de dólares.
Mas como contabilizar a perda de vidas humanas e o real alcance de um desastre ecológico dessa proporção?
Em meu post: Uma dimensão a mais…comentei sobre a relação dúbia que a ciência e a tecnologia têm conosco. Acidentes como esse, ou como a explosão da usina nuclear de Chernobyl, ocorrida em 26 de abril de 1986 são exemplos de como a tecnologia pode causar impactos ambientais enormes, ainda que sua probabilidade de ocorrência seja mínima.
A relação dúbia surge porque não podemos abrir mão do conforto de nossos carros, do calor dos aquecedores residenciais, da produção de energia elétrica (em usinas termoelétricas), dos plásticos todos que estão a nossa volta, do gás de cozinha que produz nossos alimentos. Enfim, somos muito dependentes desse óleo negro.
Calma leitor, não pretendo transferir mais esta culpa, para a já enorme lista de culpas que possuímos. Não sabemos ainda as causas da explosão e talvez nunca venhamos a saber ao certo. Mas convido-o para uma reflexão.
Precisamos de energia de tipos mais variados, mas toda forma de transformar energia em outra, causa algum tipo de impacto ambiental. Não existe a tão propagada “energia limpa”. A palavra da moda agora é sustentabilidade. O uso racional dos recursos naturais de forma a não comprometer as gerações futuras.
Lembro-me que ao completar dezoito anos eu estava ansioso por ter meu carro. Fui à auto-escola no mesmo dia do meu aniversário e em algumas semanas já estava com minha carteira de habilitação. Não demorou muito para conseguir comprar um carro, mas pela falta de condições financeiras não era, como posso dizer…bem.. UM CARRO, mas um carro, com dez anos de uso. Sem dinheiro para a manutenção, nem mesmo para pneus novos, movia-me por toda a cidade e até fora dela sem as mínimas condições de segurança, mas eu tinha um carro. Felizmente fui “ajudado” pela estatística e nada de mal me aconteceu (os micos quando o carro me deixava na mão, não contam).
O que essa história tem a ver com a explosão da plataforma de petróleo? Chamamos isso, em física da relatividade do referencial. É uma questão de escala. Se 1% da população brasileira jogar meio litro de óleo pelo ralo teremos um derramamento de óleo equivalente ao da plataforma que explodiu. O que quero dizer é que a explosão concentra o que às vezes é feito de forma diluída.
Sempre me pergunto o que teria acontecido se, logo após a invenção do automóvel, a sociedade não tivesse feito a opção do uso pessoal do automóvel. O que teria acontecido se tivéssemos optado somente pelo transporte coletivo, como aconteceu com os aviões (estou ignorando os poucos que possuem um avião particular). Mas agora é tarde, não temos mais a chance de voltar atrás nessa decisão.
A questão é se continuaremos a seguir deixando que toda invenção tecnológica decida, quase que por si só, se ela deve ser utilizada em massa ou não. Regulada por “entes” como “mercado” e “demanda”. Será que não somos capazes de fazer previsões e evitar colapsos futuros?
Infelizmente também não sei a resposta. Mas acredito que manter uma atitude crítica em relação às inovações tecnológicas é fundamental. Ter a noção de que somos agentes dos processos de produção e consumidores vorazes de energia já é um passo.
Me perdoem o clichê do clichê. Sei que não voltaremos a usar velas e lamparinas. Mas também não devemos usar uma tecnologia se não estamos preparados para ela. É eu sei o que você está pensando e concordo (eu não devia ter comprado um carro aos dezoito anos).