Lendo a matéria publicada na revista Trip, sobre a proposta do arquiteto Alexandre Delijaicov, de transformar São Paulo numa cidade fluvial, me lembrei de que sempre pergunto aos meus alunos : “E se lá atrás, antes de Ford desenvolver a linha de montagem, tivéssemos pensado em todos os problemas que o automóvel nos traria? Será que não teríamos optado por um transporte público? Será que não teríamos dito “não” ao transporte individual?”.
Hoje não dá para saber qual teria sido o resultado dessa opção, mas sabemos o resultado da opção que foi tomada: Só o transito brasileiro mata, sozinho, mais do que qualquer guerra, congestionamentos imensos que roubam preciosas horas de nossos dias, poluição monstruosa responsável também por mortes “silenciosas”, e tantos outros problemas.
Não podemos voltar no tempo e consertar isso, mas podemos tentar inverter a lógica e no caso de São Paulo (e acredito que em várias outras cidades brasileiras) abrir rios e córregos onde hoje está uma grande avenida.
Essa é a proposta desse arquiteto, leiam a matéria e opinem aqui no blog:
Quem costuma entrar semanalmente aqui no Décima Segunda Dimensão sabe que sou um defensor do pensamento cético e da importância do saber científico. Não poderia ser diferente, uma vez que escolhi a profissão de professor de uma área científica. No entanto procuro sempre me policiar para não passar uma visão errada de como a ciência trabalha. Busco deixar claro que a ciência não é a dona da verdade, que ciência trabalha com modelos e não com verdades absolutas. Que não há um porta voz da ciência, que para algumas teorias ou hipóteses pode haver um grande consenso, mas que isso não é uma regra geral, há inúmeras teorias que são conflitantes e inúmeros debates na ciência.
É assim que a ciência funciona, pelo debate, pelo eterno questionamento, pela dúvida. Dúvida que se estende até mesmo às teorias já consolidadas. Mesmo depois de quase trezentos anos do domínio de Newton na mecânica, sua teoria foi derrubada pela Relatividade de Einstein. A única certeza que temos na ciência é que suas verdades são provisórias. Mas isso não faz com que tudo seja relativo, isso não significa que não possamos emitir opiniões e de afirmarmos como as coisas funcionam, ou não proíbe que previsões sejam feitas (e muitas inclusive se verificam).
Na semana passada um cientista da área de climatologia apareceu no programa do Jô Soares e fez afirmações bem polêmicas. Como acabei de afirmar nos parágrafos acima, a polêmica é um dos ingredientes que movem a ciência, junto com a curiosidade é a responsável pelas grandes descobertas. Mas não concordo com o modo como esse cientista fez essas afirmações.
Ao ser apresentado como especialista em climatologia e professor da USP, sua autoridade não tem como ser questionada no programa, por isso acredito que ele deveria ter agido com mais responsabilidade.
Mas o que foi que essa pessoa afirmou que me indignou tanto?
Na verdade não foram suas afirmações. Não foi o fato de ele afirmar que não há aquecimento global, não existe efeito estufa, não existe camada de ozônio, que se a floresta Amazônica for destruída completamente se recupera em vinte anos, e que as ações do homem são todas insignificantes e contidas a uma mudança local, sem impacto no planeta como um todo. Acho importante que existam pesquisadores que façam o contraponto, que pesquisem e apontem erros naquilo que quase todos estão certos. A unanimidade é burra já dizia Nelson Rodrigues. O problema, como já disse, foi a forma COMO ele fez essas afirmações.
Ao fazer essas afirmações, o dito professor não deixou margem a dúvidas. Fez parecer que há uma grande conspiração para enganar todas as pessoas do planeta, sobre as previsões climatológicas. Eco-92, IPCC, Rio +20 essas reuniões todas de cientistas e especialistas não passam de conspiração para que novos produtos sejam inventados e para que se mantenha o consumo desenfreado.
Com ironia e sem apresentar trabalhos técnicos atuais ele simplesmente disse que os “cientistas sérios” não acreditam nessas previsões alarmistas. Mas ele não disse quem são os cientistas sérios, acusou os outros de “cientistas chapa-branca” financiados por governantes desses países que querem manter a produção desenfreada.
Dessa forma a impressão que ele passou, e pude constatar isso através de alunos que assistiram ao programa, foi que somos um bando de otários preocupados com a ação do homem sobre a natureza, sendo que essa ação seria muito pequena. Estamos sendo enganados ao defender um desenvolvimento sustentável, que cause menos impacto ao meio ambiente.
Como se tratava de uma entrevista em um programa que é mais de humor do que informativo devemos dar um desconto à atitude do cientista. Jô Soares é mestre em interromper o entrevistador e de não deixá-lo concluir um assunto, emendando uma pergunta na outra e ridicularizando muitas vezes a explicação. Nem que para isso ele finja desinformação (eu duvido que o Jô Soares não saiba que a Amazônia não é o “pulmão do mundo”). Mas enfim, muita coisa foi dita e muitos assuntos foram misturados de tal forma que ficou tudo muito confuso.
Deixe-me dar um exemplo de duas coisas diferentes que no programa se misturaram: O aquecimento global e o efeito estufa. Há uma enorme confusão entre esses dois conceitos.
Efeito estufa existe sim, e é graças a ele que temos uma temperatura média no planeta que permite a existência de formas de vida como a nossa. Nosso planeta possui uma atmosfera formada basicamente de nitrogênio e oxigênio, 70% de nitrogênio e 29% de oxigênio. Os outros 1% restantes são formados por diversos gases, o vapor de água, o metano, o dióxido de carbono (CO2), o enxofre, entre outros. O vapor de água, o metano e o dióxido de carbono são os principais gases estufa da atmosfera. Eles permitem a entrada da luz solar e dificultam a saída do infravermelho, radiação emitida pelos corpos que foram aquecidos por essa luz solar. Esse fenômeno acontece em uma escala bem menor no interior de um carro que está com os vidros fechados sob o Sol. Se não fosse o efeito estufa nosso planeta seria como a Lua, que durante o dia pode atingir 70oC e a noite −20oC (a presença de água em nosso planeta também é importante para diminuir essa flutuação térmica).
Chamamos de aquecimento global a elevação da temperatura média do planeta. Esse aumento de temperatura pode ser provocado por vários motivos e ao longo da história evolutiva de nosso planeta há períodos de aquecimento global e períodos de resfriamento global.
Não há dúvida sobre esses dois conceitos. Há diversas maneiras de se estimar qual era a temperatura do nosso planeta em eras passadas, e esses períodos de aquecimento e resfriamento podem ser comprovados. A grande discórdia ocorre sobre qual seria o impacto da ação do ser humano no clima do planeta como um todo, o chamado aquecimento global antropogênico.
Concordo que há um exagero nas consequências de um possível aquecimento global. Um catastrofismo exacerbado que procura através do medo, despertar a consciência ecológica das pessoas. Esse tratamento ocorre principalmente na mídia em geral. Sempre com matérias sensacionalistas, grandes inundações, secas, tempestades, furacões. Nos filmes então, melhor nem começar a falar sobre isso.
Meu amigo e professor de geografia do Colégio Oswald, Amadeu, me indicou um documentário feito pela BBC: A grande farsa do aquecimento global (The Great Global Warming Swindle) produzido por Martin Durkin e exibido pela produtora britânica Channel 4.
Como o próprio Amadeu havia me adiantado há visões bem conservadoras e neoliberalistas no documentário. Ele é totalmente parcial, e denuncia uma espécie de complô para tornar o aquecimento global um fato inquestionável, defendido por toda comunidade científica. O filme entrevista diversos cientistas que se opõem a essa visão e afirmam serem perseguidos por essas opiniões. Ele apresenta dados históricos para explicar de onde essa idéia surgiu e argumenta que não há evidências científicas que comprovem um aquecimento global provocado pela ação do ser humano, afirmando que a transformação do CO2 em vilão é um absurdo. A provável causa do aquecimento (em outras eras e também no século XX) seria o Sol (aumento das explosões solares). O interessante é que eles condenam a transformação do CO2 em vilão e fazem a mesma coisa com o Sol.
Mas é importante assistir ao documentário justamente para se criar a dúvida, para manter-se alerta, para aprender a ser cético. Uma afirmação interessante feita é a justificativa da grande adesão de vários cientistas à defesa da visão catastrófica do aquecimento global antropogênico. O motivo seria o fato disso render dinheiro na forma de financiamento de suas pesquisas. Isto é muito sério, pois é evidente que pode distorcer os resultados ou pelo menos criar um viés em quem faz a pesquisa (se estou sendo pago para combater o aquecimento global é importante mostrar o perigo que ele pode trazer). Na verdade essa prática na ciência é muito comum. Vários projetos científicos começaram com interesses militares. A ciência está cheia de exemplos de imposturas1.
Mas diferentemente da entrevista do programa brasileiro, o documentário possibilita, ainda que de forma tendenciosa, a compreensão de como a ciência trabalha:
a) Existem dados que são obtidos de experimentos (normalmente já direcionados para certa investigação).
b) Esses dados são interpretados a partir de modelos criados.
c) Essas interpretações são divulgadas (ou não! Como o documentário denuncia).
d) Essas interpretações são compreendidas (ou não) pela sociedade.
Portanto, fica claro que as afirmações feitas pelos cientistas não são verdades absolutas. São afirmações baseadas em modelos. Na entrevista do programa do Jô, o cientista entrevistado combateu o alarmismo sobre o aquecimento global antropogênico, utilizando a mesma tática que ele criticava. Usando sua “voz de autoridade” fazia afirmações contundentes de que tudo era besteira, e de que nenhum cientista sério levava aquilo tudo em consideração.
A impressão que eu tive é que ele estava mais preocupado em gozar seus quinze minutos de fama do que em esclarecer, e é por esse motivo que não menciono o nome dele aqui.
Levantar polêmicas e ir contra o senso comum são maneiras de se ter o nome divulgado, de ser comentado. Em agosto de 2008 “Um grupo de cientistas apresentou uma denúncia perante o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em Estrasburgo, para que seja paralisado o teste do Grande Colisor de Hádrons (LHC), da Organização Europeia para Pesquisa Nuclear (Cern), diante do risco de que um buraco negro seja gerado.”2. Há grupos de médicos, jornalistas e ativistas que afirmam que a AIDS não é uma doença contagiosa e/ou que não há relação entre o vírus HIV e a AIDS. É comum também a afirmação em diversos sites de que o homem nunca tenha ido a Lua, que tudo não passou de uma farsa.
O entrevistado do programa não me pareceu um ativista pró-teoria da conspiração, mas como cientista e professor, principalmente sendo de uma escola pública, ele tem deveres para com a sociedade e deveria tomar mais cuidado ao fazer suas afirmações. Suas convicções pessoais não podem prevalecer sobre sua responsabilidade para com a verdade científica. Se não há provas contundentes sobre a ação do homem no clima do planeta, também não há provas de que essa ação seja irrisória. E mesmo que essas ações não sejam suficientes para uma proporção global, sabemos muito bem que localmente elas já estão causando muitos males. Ou será que ele duvida também do mal que a poluição das grandes cidades faz ao ser humano?
A única ressalva que ele fez foi dizer que, ao negar que a ação humana seja tão destrutiva como se propaga, ele não está dando licença para que as árvores sejam derrubadas. Acho que foi muito pouco. Ele estava falando na maior rede de televisão do país. É obvio que suas declarações podem ser usadas para justificar um maior desmatamento, o descontrole de emissão de poluentes.
Sim, o capitalismo fez com a ecologia aquilo que ele faz com tudo, transformou em mercadoria. Sim, sustentabilidade virou moda. Muito discurso e pouca ação. Banco sustentável? Parece piada.
Ainda assim prefiro a ecologia como mercadoria do que sua não existência. Se os créditos de carbono são uma mentira eu não sei, mas acho importante que florestas sejam preservadas e que árvores sejam plantadas.
Referências:
1- A Impostura Científica Em Dez Lições – Michel De Pracontal – Editora: UNESP
O tema ainda é tempo relativo, e agora vai uma indicação de um ex aluno e amigo, André Botelho.
“Das Rad” é um curta metragem alemão de apenas 8 minutos, escrito e dirigido por Chris Stenner, Arvid Uibel e Wittlinger Heidi. Concorreu ao Oscar de 2003, na categoria Curta de Animação. Recebeu vários prêmios em outros festivais.
A ideia é genial, a passagem do tempo do ponto de vista de duas pedras (tempo geológico). Como ele é incomensuravelmente maior que o tempo humano, tudo acontece de forma muito rápida e em alguns momentos há uma passagem para o tempo humano.
O final dá o que pensar.
Garanto que vão gostar. Um grande exemplo de unir ciência e arte.
Na semana que vem, dia 15, completará um ano e quatro meses do incêndio que causou a morte de 15 animais e a destruição do maior acervo de cobras, aranhas e escorpiões para pesquisa do mundo, o incêndio de um dos prédios do Instituto Butantan.
No dia 30 de junho ficou pronto o laudo final, que fez com que o ministério público considerasse criminoso o incêndio. Cinco pessoas, todas funcionárias e ex funcionárias do instituto foram consideradas culpadas pelo crime de incêndio culposo, sem intenção de provocá-lo, mas sendo responsáveis por ele, por imperícia ou negligência.
A provável causa do incêndio foi o superaquecimento do depósito, provocado por aquecedores inadequados, colocados próximos a diversos materiais inflamáveis como, papéis, madeira e milhares de litros de álcool. Além disso, o prédio havia sido reformado e não possuía alvará.
A coleção destruída teve início há mais de 120 anos e era referência mundial para diversos outros institutos. Mais de 80 mil serpentes, muitas delas já em extinção foram consumidas pelo fogo. Entre os aracnídeos, aranhas e escorpiões, a baixa foi de mais de 450 mil espécies. Uma perda irreparável para a pesquisa da biodiversidade. De acordo com Francisco Franco, curador da coleção:
“Foi uma perda total e isso é uma perda pra humanidade. Desde o começo do Instituto Butantan o Vital Brasil começou a guardar cobras para serem pesquisadas. E essas cobras que foram sendo acumuladas serviam de fundamento para as pesquisas e o aumento do conhecimento da biodiversidade de serpentes. Essas cobras todas foram perdidas, hoje não temos mais nada.” 1
Imagine se sua casa sofresse um incêndio sem vitimas, mas que todas as fotos, impressas ou digitadas fossem destruídas. Você consegue imaginar qual seria essa perda? Conseguiria traduzir em valores financeiros? Agora imagine um acervo que além de ter um valor como peça de museu, é objeto de pesquisa para mestrados, doutorados e muitos outros estudos.
Pela declaração do antigo presidente do Butantã, Isaias Raw, podemos entender como algo de tanto valor pode ter sido tão negligenciado. Em 20 de maio de 2010 ele declarou ao jornal Folha de São Paulo que guardar cobras é bobagem e que a pesquisa que era feita com elas era de quinta categoria:
“Aquilo [o acervo] é uma bobagem medieval. Você acha que a função do Butantan é cuidar de cobra guardada em álcool ou fazer a vacina para as crianças?”, disse. Para ele, “não dá para cuidar das duas coisas”.2
Na mesma reportagem da folha há outra declaração de Paulo Vanzolini, o mais importante zoólogo brasileiro vivo, dizendo que a pesquisa pode ser de baixa qualidade científica, mas que a coleção tinha grande valor científico.
Não é de espantar que a ciência e os museus sejam tratados assim no Brasil. Se o país do futebol, primeiro tri campeão do mundo, não conseguiu guardar em segurança a taça Jules Rimet do tri campeonato mundial, roubada da sede da CBF e derretida, em 1983 , imagine então cuidar do acervo de um museu científico. Ainda mais quando o próprio presidente do museu acha que aquilo tudo é bobagem.
O modismo de criar bichos exóticos em casa pode custar caro à biodiversidade de alguns lugares. Na flórida, Estados Unidos, região dos Everglades (parque nacional norte americano), grandes serpentes introduzidas no lugar pelo ser humano estão ameaçando a biodiversidade local, segundo reportagem de março desse ano da revista Scientific American Brasil número 94. Como não pertencem a esse habitat, esses predadores que podem chegar a 6 metros de comprimento e 90kg de massa, são capazes de produzir até 100 filhotes em cada ninhada, e por estarem no topo da cadeia alimentar não possuem inimigos naturais expandindo seu território a cada ano. Em 2000 duas pítons birmanesas foram capturadas no parque americano, em 2008 foram capturadas 343, mas dezenas de milhares devem estar vivendo no parque segundo os biólogos.
Além das pítons, jiboias e quatro espécies de sucuris começaram a aparecer e não estão ficando apenas na região do parque.
Em seu habitat natural, as cobras possuem predadores, no caso das píton, que vivem no sudoeste da Ásia, chacais, lagartos-monitores, doenças e parasitas limitam o crescimento da espécie. Mas no Everglades as cobras devoram até crocodilos de 1,2 m, embora prefiram pequenos mamíferos e pássaros.
Os biólogos sabem por experiência própria que a introdução de uma nova espécie em um habitat pode ocasionar um grande desequilíbrio, como aconteceu com a ilha americana de Guam, onde uma cobra-arbórea-marrom invadiu a ilha logo após a segunda guerra mundial e acabou com 10 espécies de aves nativas das 12 que havia, a maioria da população dos morcegos foi dizimada e metade de seus lagartos desapareceram.
Mais uma vez ações individuais, aparentemente inocentes, comprometem o meio ambiente e a biodiversidade. Nas grandes cidades, os pombos estão se transformando numa verdadeira praga, sendo foco de transmissão de várias doenças. Cães e gatos são tratados como entes familiares, mas quando dão cria os filhotes são, muitas vezes, abandonados em qualquer lugar.
Por que criar em casa um animal selvagem? Por que não se contentar com um cachorro, um gato, um pássaro, um peixe? Bom, se for amor aos animais, então é melhor pensar melhor nas implicações de suas ações para com eles.
A petrolífera BP afirmou que finalmente conteve o vazamento de petróleo no golfo do México. Após mais de três meses jorrando diretamente para a superfície do mar, devido a uma explosão da plataforma “Deepwater Horizon”, estima-se que cerca de 5 milhões de barris de petróleo tenham vazado, o que equivale a aproximadamente 780 milhões de litros, contaminando mais de 4 estados americanos.
Mesmo sendo da área de exatas, e por isso ter facilidade de lidar com números, fico sem saber ao certo a dimensão desses números. 780 milhões de litros! Daria para encher o tanque de 15,6 milhões de automóveis (considerando-se um média de 50 litros cada). A frota da cidade de são Paulo é de seis milhões e oitocentos mil em junho de 2010, e no estado todo cerca de vinte milhões. Para se ter uma idéia do tamanho da mancha veja sua imagem se comparada ao mapa de São Paulo. A mancha cobriria toda a grande São Paulo, alcançando o interior e o litoral.
Apesar de o vazamento ter sido contido, a limpeza do oceano está longe de ter acabado. O governo Americano afirma que vai cobrar multas pesadas da companhia responsável, a qual afirma já ter gasto 6,1 bilhões de dólares com o vazamento.
As imagens são impressionantes e terríveis desse que foi o maior acidente ecológico com vazamento de petróleo. O maior derramamento ocorreu de forma intencional quando na guerra do golfo de 1991 as forças iraquianas despejaram no golfo pérsico cerca de 5 a 10 milhões de barris.
Mas derramamentos de óleo são uma constante em nossos mares. Hoje mesmo temos notícia de um navio panamenho que colidiu com outra embarcação no mar arábico e encontra-se virado, a guarda costeira tenta conter o vazamento de óleo. Ontem algumas praias de Búzios no Rio de Janeiro amanheceram com manchas de óleo, ainda não se sabe a origem do vazamento.
A continuar assim a expressão “uma gota d água no oceano” vai perder o sentido.
Já faz 40 dias desde o acidente com a plataforma de petróleo Deepwater Horizon e o vazamento de petróleo no golfo do México ainda não foi contido. Em 5 de maio postei um artigo aqui https://12dimensao.wordpress.com/2010/05/05/o-oleo-esta-vazando/ comentando sobre esse desastre ecológico, que hoje já é o mais grave derramamento de óleo da história e o pior acidente ecológico nos Estados Unidos.
Na quinta feira (27/05) a companhia responsável pela plataforma British Petroleum (BP), havia anunciado que uma tentativa inédita parecia ter dado certo, a injeção de lama e posterior cobertura com cimento. Mas a própria companhia anunciou no sábado dia (26/05) que o plano não deu certo e agora tentarão deter o vazamento usando outra técnica, serrar o cano e cobrir com uma cúpula.
Até agora já foram derramados no mar cerca de 80 milhões de litros de óleo, que estão contaminando as praias da Louisiana e matando peixes e aves.
Imagem de satélite da mancha de óleo no golfo do méxico
Na edição de sábado do New York Times há uma denúncia de que em junho de 2009 a própria companhia já havia sido alertada pelos seus técnicos de que o revestimento de metal utilizado poderia não agüentar sob a forte pressão. Mas a companhia ignorou o aviso.
Segundo o governo americano e a própria empresa não há mais esperança de uma contenção imediata do vazamento. A melhor estimativa parece ficar para agosto.
Parece inacreditável que tenhamos uma tecnologia incrível para perfurar em profundezas absurdas, e até em camadas como o pré-sal, mas não temos tecnologia para conter um vazamento. Imagine se uma torneira de sua casa arrebentasse e durante 40 dias a água vazasse sem parar. Desesperador não? Agora imagine se dessa torneira saísse óleo e não água. Bem pior.
Não podemos pensar nesse acidente como um problema americano. É o oceano que está sendo contaminado. E não foi um navio que vazou, não é uma quantidade fixa derramada. Trata-se de um poço inteiro vindo à tona.
O que podemos fazer além de torcer para que esse problema seja logo resolvido? É muito frustrante olhar para as imagens que mostram esse óleo sendo derramado. O ouro preto saindo pelo ralo. Mas não podemos esquecer que, em termos ecológicos, a emissão desse poluente no mar é apenas uma questão de desvio de rota. Após ser queimado, esse óleo iria contaminar o ambiente do mesmo jeito, claro que não de forma concentrada como agora, não teríamos animais sendo mortos dessa maneira, mas respirando aos poucos a poluição de forma diluída. Dá o que pensar.
Prometi a vários alunos que, neste fim de semana que passou, iria escrever um post sobre uma revolução que deve acontecer na área da computação, graças à obtenção de um novo tipo de processador. Mas resolvi adiar este post por mais alguns dias depois de me informar melhor sobre esse terrível acidente que aconteceu no golfo do México: a explosão da plataforma de petróleo Deepwater Horizon, ocorrida no dia 20 de abril. A explosão matou 11 pessoas e o derramamento de óleo é calculado em cerca de 5 mil barris por dia o que equivale a cerca de 800 mil litros de petróleo.
A mancha de óleo representa atualmente uma área de 74,1 mil quilômetros quadrados o que equivale a 50 vezes a área da cidade de São Paulo, segundo a BBC, e é maior que a área da Jamaica segundo a CNN.
O pior é que já faz treze dias desde a explosão e nenhum dos três vazamentos foi fechado. A utilização de robôs para tentar fechar possíveis válvulas não deu certo. Pensa-se agora em colocar um bloco de concreto de 70 toneladas a uma profundidade de 1500 m, algo nunca tentado antes. Outra possível solução que começou a ser feita ontem, é a perfuração de outro poço próximo ao local do vazamento para reduzir a pressão e conseguir selar de vez o rompimento, mas isso pode levar várias semanas.
Em tempos de crise financeira não é fácil assumir uma perda de 430.000 dólares, jogados diariamente no mar (considerando o valor de 86 dólares o barril de petróleo), mais o custo de 350 milhões de dólares da plataforma e o dobro disto para sua substituição, seis milhões de dólares diários para tentar conter o vazamento e as perdas provocadas pela suspensão da pesca local que devem chegar a 2,4 bilhões de dólares.
Mas como contabilizar a perda de vidas humanas e o real alcance de um desastre ecológico dessa proporção?
Em meu post: Uma dimensão a mais…comentei sobre a relação dúbia que a ciência e a tecnologia têm conosco. Acidentes como esse, ou como a explosão da usina nuclear de Chernobyl, ocorrida em 26 de abril de 1986 são exemplos de como a tecnologia pode causar impactos ambientais enormes, ainda que sua probabilidade de ocorrência seja mínima.
A relação dúbia surge porque não podemos abrir mão do conforto de nossos carros, do calor dos aquecedores residenciais, da produção de energia elétrica (em usinas termoelétricas), dos plásticos todos que estão a nossa volta, do gás de cozinha que produz nossos alimentos. Enfim, somos muito dependentes desse óleo negro.
Calma leitor, não pretendo transferir mais esta culpa, para a já enorme lista de culpas que possuímos. Não sabemos ainda as causas da explosão e talvez nunca venhamos a saber ao certo. Mas convido-o para uma reflexão.
Precisamos de energia de tipos mais variados, mas toda forma de transformar energia em outra, causa algum tipo de impacto ambiental. Não existe a tão propagada “energia limpa”. A palavra da moda agora é sustentabilidade. O uso racional dos recursos naturais de forma a não comprometer as gerações futuras.
Lembro-me que ao completar dezoito anos eu estava ansioso por ter meu carro. Fui à auto-escola no mesmo dia do meu aniversário e em algumas semanas já estava com minha carteira de habilitação. Não demorou muito para conseguir comprar um carro, mas pela falta de condições financeiras não era, como posso dizer…bem.. UM CARRO, mas um carro, com dez anos de uso. Sem dinheiro para a manutenção, nem mesmo para pneus novos, movia-me por toda a cidade e até fora dela sem as mínimas condições de segurança, mas eu tinha um carro. Felizmente fui “ajudado” pela estatística e nada de mal me aconteceu (os micos quando o carro me deixava na mão, não contam).
O que essa história tem a ver com a explosão da plataforma de petróleo? Chamamos isso, em física da relatividade do referencial. É uma questão de escala. Se 1% da população brasileira jogar meio litro de óleo pelo ralo teremos um derramamento de óleo equivalente ao da plataforma que explodiu. O que quero dizer é que a explosão concentra o que às vezes é feito de forma diluída.
Sempre me pergunto o que teria acontecido se, logo após a invenção do automóvel, a sociedade não tivesse feito a opção do uso pessoal do automóvel. O que teria acontecido se tivéssemos optado somente pelo transporte coletivo, como aconteceu com os aviões (estou ignorando os poucos que possuem um avião particular). Mas agora é tarde, não temos mais a chance de voltar atrás nessa decisão.
A questão é se continuaremos a seguir deixando que toda invenção tecnológica decida, quase que por si só, se ela deve ser utilizada em massa ou não. Regulada por “entes” como “mercado” e “demanda”. Será que não somos capazes de fazer previsões e evitar colapsos futuros?
Infelizmente também não sei a resposta. Mas acredito que manter uma atitude crítica em relação às inovações tecnológicas é fundamental. Ter a noção de que somos agentes dos processos de produção e consumidores vorazes de energia já é um passo.
Me perdoem o clichê do clichê. Sei que não voltaremos a usar velas e lamparinas. Mas também não devemos usar uma tecnologia se não estamos preparados para ela. É eu sei o que você está pensando e concordo (eu não devia ter comprado um carro aos dezoito anos).
Formado em Física pela Universidade Mackenzie com mestrado em Ciências e Tecnologia Nuclear pelo IPEN/USP. Professor de física e tecnologia moderna do Colégio Oswald de Andrade. Professor Adjunto da Unip nos cursos de engenharia.