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Física Para Poetas – Marcelo Gleiser e a Divulgação Científica

setembro 3, 2020

Em um momento tão difícil para ciência no Brasil e no mundo, com corte de verbas e um tremendo negacionismo científico o físico brasileiro Marcelo Gleiser abre mão de seu valioso tempo como professor, pesquisador e escritor para abrir e apresentar um canal no youtube, o “Física para poetas”: https://www.youtube.com/watch?v=BpBJLbbpR3w

Nesse canal ele dá um curso sobre a história da Física através dos filósofos e físicos que participaram das mais importantes ideias que ajudaram a construir essa área tão importante da Ciência.

Em momentos de tanta notícia falsa, de tantos canais ruins e bobos, ter algo de qualidade é muito importante.

Os temas das aulas não são novidades para quem leu seu livro “A dança do universo”, elas são baseadas diretamente nele, mas com uma certa atualização e o melhor: uma aula é quase sempre muito mais rica do que a leitura do livro, pois nela há um ser humano interagindo, lembrando de coisas, tecendo comentários e estabelecendo relações que no livro nem sempre é possível fazer.

Segue abaixo a descrição de Marcelo Gleiser tirada da wikipedia:

Marcelo Gleiser (Rio de Janeiro, 19 de março de 1959) é um físicoastrônomoprofessorescritor e roteirista brasileiro, atualmente pesquisador e professor da Faculdade de Dartmouth, nos Estados Unidos. É membro e ex-conselheiro geral da American Physical Society.

Conhecido nos Estados Unidos por suas aulas e pesquisas científicas, no Brasil é mais popular por suas colunas de divulgação científica no jornal Folha de S.Paulo.[1] Escreveu oito livros e publicou três coletâneas de artigos. Participou de programas de televisão dos Estados Unidos, da Inglaterra e do Brasil, entre eles, Fantástico.

Marcelo recebeu o Prêmio Jabuti em 1998, pelo livro A Dança do Universo, e em 2002 por O Fim da Terra e do Céu. Em 2007, foi eleito membro da Academia Brasileira de Filosofia. Em março de 2019, tornou-se o primeiro latino-americano a ser contemplado com o Prêmio Templeton,[2] tido informalmente como o “Nobel da espiritualidade”.[3]

Wikipédia: Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Marcelo_Gleiser – Acesso em 02/09/2020

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Celular e câncer – Ciência e jornalismo – Falta de divulgação e sensacionalismo

junho 7, 2011

Na semana passada a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a larc (Agência Internacional para Pesquisa em Câncer), mudaram a classificação do uso do telefone celular. A nova categoria agora é do tipo 2B, indica que há evidências limitadas para associação entre uso do telefone celular e câncer de cérebro. A categoria 2A sugere evidências mais fortes, indicando elementos provavelmente cancerígenos. Na categoria 1 os estudos apontam para elementos que possuem evidências suficientes para afirmar que eles são cancerígenos, como o tabaco e o amianto. Na categoria 2B, além dos celulares está o café.

As duas organizações fizeram uma analise nos estudos com dados até 2004, e segundo esses estudos, há um aumento de 40% no risco de gliomas (um tipo de câncer cerebral) entre usuários freqüentes, isto é, que utilizam em média 30 minutos por dia, em um período de dez anos.

Dita isoladamente, e sem explicação essa alta porcentagem assusta e pode gerar interpretações errôneas. Se é tão alta assim porque classificá-la como evidência limitada?

É aqui que muitos veículos de informação pecam. Matérias sensacionalistas chamam muito mais atenção do grande público, e parece que espalhar o terror ainda é preferível para esses veículos ditos de informação.

O que muitos jornais não fizeram foi explicar do que se trata exatamente o estudo. O trabalho aponta uma “associação positiva” ou correlação entre a exposição ao agente (uso do celular) e o câncer. Correlação é bem diferente de relação causa-efeito. Vamos a um exemplo: Suponha que um determinado estudo, feito com um número significativo de pessoas que tenham sinusite, aponte para o fato de que 60% delas bebam água com gás. Isso é uma correlação, não quer dizer, de forma nenhuma, que água com gás provoca sinusite.

A correlação é uma forma de tentar isolar as variáveis para daí então verificar se existe de fato uma relação de causa efeito. Por exemplo: No exemplo esdrúxulo, os cientistas fariam estudos em laboratório tentando descobrir que tipo de efeito a água com gás poderia causar na região dos seios da face. Vários testes seriam necessários, e uma abordagem teórica consistente teria que ser formulada para comprovar a relação causa-efeito.

O que os estudos apontaram, portanto, foi que do total de pessoas pesquisadas, portadoras desse tipo de câncer, 40% delas utilizavam o celular por mais de dez anos, numa média de 30 minutos por dia. O próprio anúncio da OMS e da larc afirmam que não podem excluir outros fatores no desenvolvimento desse tumor.

Além disso, os estudos são inconclusivos, pois estão baseados na informação dada pelas próprias pessoas, e fica difícil quantificar o real tempo de uso do aparelho.

Antes desse anuncio, os celulares estavam na categoria 3, que significa que nenhuma correlação podia ser associada, entre câncer e uso do celular. Com a nova classificação, significa que a comunidade cientifica, deve ficar alerta e realizar mais testes, mais pesquisas. Enquanto isso devemos moderar o uso, da mesma forma que devemos moderar nossa exposição ao Sol. Quase ninguém deixa de ir à praia porque os raios solares podem provocar câncer de pele, e essa evidência já está comprovada.

Os raios solares emitem toda a gama do espectro de ondas eletromagnéticas, desde as de baixa energia, formada pelas ondas de rádio e infravermelho, passando pela luz visível, que possui uma energia intermediária, até as de alta energia, como o ultravioleta, raio x e raio gama.

Os aparelhos celulares só emitem radiação de baixa energia, ondas com freqüências que estão abaixo da luz visível, e acima das freqüências de transmissão de FM. Essas radiações interagem com a matéria gerando, em sua maioria, o aquecimento da mesma. As radiações de alta energia, como o ultravioleta e raio x, são ionizantes, isto é, conseguem arrancar elétrons dos átomos e por isso podem causar danos as células.

Portanto se há algum efeito provocado pelos celulares ele deve ser devido ao aumento de temperatura na região da cabeça, e isso vem sendo estudado há anos, sem nenhum resultado conclusivo.  Mas ainda é cedo para afirmar alguma coisa, pois se constatar uma relação de causa efeito é difícil, dado o número de variáveis, comprovar que NÃO HÁ relação é praticamente impossível, pois exigiria um número infinito de experimentos.

As variáveis para um estudo de causa-efeito são muitas. Mudam com o tempo de exposição, com a potência do aparelho, com a proximidade do aparelho, além de ser muito difícil isolar as outras possíveis fontes que poderiam gerar o tumor.

Espero que vocês não achem que esse é um post para defender as companhias de celulares, afinal elas nem precisam disso, possuem poderosos advogados para isso. Esse é um post para criticar a forma como o jornalismo científico é tratado. Excetuando-se, alguns poucos casos de boa cobertura, normalmente é feita uma chamada bem sensacionalista (“Celular dá câncer”, diz OMS), uma apresentação rápida da matéria, e um especialista fazendo um comentário, sempre pessoal, pior ainda, o comentário do especialista é sempre editado de forma grosseira, geralmente corta-se o que ele está dizendo no meio, sem que a frase seja completada.

Um bom cientista é, na maioria das vezes, muito contido e quase sempre faz ressalvas, do tipo: Mas o estudo não é conclusivo, ainda é preciso investigar mais, correlação não é relação de causa efeito, isso não significa… Essas afirmações parecem não agradar aos jornalistas, ou aos editores chefes, dá uma impressão de falta de confiança, e o jornal TEM QUE MOSTRAR CONFIANÇA, TEM QUE CONVENCER O LEITOR, OU TELEESPECTADOR. Isso pode ser verdade para noticiar fatos, mas não funciona assim para a ciência. A ciência não funciona assim, não há certezas incontestáveis, nem verdades absolutas.

Isso não significa que devemos nos render ao relativismo total, do tipo: Ah tudo dá câncer! Daqui a pouco vem alguém e diz que tava tudo errado. Etc. Mas isso é assunto para outro post sobre ciência e divulgação científica.

Referências Bibliográficas: (acessos em 04 de junho de 2011)

http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI5159386-EI8147,00-OMS+classifica+celular+como+possivel+causa+de+cancer+cerebral.html

http://noticias.terra.com.br/ciencia/noticias/0,,OI5162373-EI8147,00-Estudo+que+associa+celular+e+cancer+pode+influenciar+Justica.html

http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2011/06/estudos-sobre-relacao-entre-celulares-e-cancer-sao-contraditorios.html

http://super.abril.com.br/saude/celular-pode-provocar-cancer-cerebral-ou-nao-580946.shtml