Uma mistura de medo e fascinação. É assim que muitos de nós nos sentimos frente às tempestades. Lembro-me de um dia em que, viajando do interior para São Paulo, durante uma tempestade, como estava na segurança do ônibus e a tempestade estava longe, pude contemplar o espetáculo que os raios, sem o incômodo do ruído dos trovões, exibiam: Quanta luz! Quanta energia! Quanta beleza!
Apesar de transmitir uma enorme quantidade de energia, um raio é imprevisível. Não sabemos nem onde nem quando acontecerá. Como então aproveitar tamanha energia?
Os famoso físicos Nikola Tesla e Lord Kelvin foram alguns dos cientistas que tentaram construir dispositivos que pudessem absorver essa energia elétrica disponível no ar na forma de eletricidade, mas suas tentativas não obtiveram sucesso.
No dia 25 de agosto deste ano, durante a reunião da American Chemical Society (ACS), realizada em Boston, Estados Unidos, o professor Fernando Galembeck, da Unicamp apresentou um trabalho revolucionário. Ele e sua equipe conseguiram explicar como essa eletricidade é produzida e descarregada na atmosfera.
Simulando em laboratório a ação de gotas de água com partículas normalmente suspensas no ar, como sílica e fosfato de alumínio, os cientistas provaram que a água pode adquirir carga elétrica e transferir essa carga para as partículas. Segundo eles a sílica torna-se negativamente carregada e o fosfato de alumínio positivamente carregado quando na presença de alta umidade.
Os autores do trabalho denominaram de higroeletricidade a energia retirada diretamente do ar úmido: eletricidade da umidade.
Assim como painéis solares coletam a energia da radiação solar e podem transformar em calor ou diretamente em eletricidade, painéis higroelétricos poderiam coletar a energia do ar úmido e transformar em eletricidade que alimentaria baterias e ou aparelhos eletrônicos.
Mais interessante ainda, é que ao coletar essa energia da atmosfera, estaremos reduzindo a chance da formação de raios, diminuindo assim as mortes provocadas por esses fenômenos naturais. O Brasil é o país campeão nesse tipo de acidente fatal, no ano de 2007 foram 47 vítimas fatais e em 2008 o número aumentou para 75, segundo o Inpe (Instituto Nacional de pesquisas espaciais).
Apesar da importância do trabalho, a mídia brasileira não parece ter dado muito destaque à notícia. Quem sabe agora que estamos na semana da pátria algum jornal procure exaltar o nacionalismo e faça uma matéria sobre o assunto.
Segue abaixo uma foto de Fernando Galembeck apresentando o trabalho em Boston e algumas frases suas:
“Nossa pesquisa pode abrir o caminho para transformar a eletricidade da atmosfera em uma fonte de energia alternativa para o futuro,”
“Assim como a energia solar está liberando algumas residências de pagar contas de energia elétrica, esta nova e promissora fonte de energia poderá ter um efeito semelhante.”
Referências:
Charge Partitioning at Gas?Solid Interfaces: Humidity Causes Electricity Buildup on Metals
Telma R. D. Ducati, Luís H. Simões, Fernando Galembeck
Langmuir
August 12, 2010
Vol.: Article ASAP
DOI: 10.1021/la102494k