Na semana que vem, dia 15, completará um ano e quatro meses do incêndio que causou a morte de 15 animais e a destruição do maior acervo de cobras, aranhas e escorpiões para pesquisa do mundo, o incêndio de um dos prédios do Instituto Butantan.
No dia 30 de junho ficou pronto o laudo final, que fez com que o ministério público considerasse criminoso o incêndio. Cinco pessoas, todas funcionárias e ex funcionárias do instituto foram consideradas culpadas pelo crime de incêndio culposo, sem intenção de provocá-lo, mas sendo responsáveis por ele, por imperícia ou negligência.
A provável causa do incêndio foi o superaquecimento do depósito, provocado por aquecedores inadequados, colocados próximos a diversos materiais inflamáveis como, papéis, madeira e milhares de litros de álcool. Além disso, o prédio havia sido reformado e não possuía alvará.
A coleção destruída teve início há mais de 120 anos e era referência mundial para diversos outros institutos. Mais de 80 mil serpentes, muitas delas já em extinção foram consumidas pelo fogo. Entre os aracnídeos, aranhas e escorpiões, a baixa foi de mais de 450 mil espécies. Uma perda irreparável para a pesquisa da biodiversidade. De acordo com Francisco Franco, curador da coleção:
“Foi uma perda total e isso é uma perda pra humanidade. Desde o começo do Instituto Butantan o Vital Brasil começou a guardar cobras para serem pesquisadas. E essas cobras que foram sendo acumuladas serviam de fundamento para as pesquisas e o aumento do conhecimento da biodiversidade de serpentes. Essas cobras todas foram perdidas, hoje não temos mais nada.” 1
Imagine se sua casa sofresse um incêndio sem vitimas, mas que todas as fotos, impressas ou digitadas fossem destruídas. Você consegue imaginar qual seria essa perda? Conseguiria traduzir em valores financeiros? Agora imagine um acervo que além de ter um valor como peça de museu, é objeto de pesquisa para mestrados, doutorados e muitos outros estudos.
Pela declaração do antigo presidente do Butantã, Isaias Raw, podemos entender como algo de tanto valor pode ter sido tão negligenciado. Em 20 de maio de 2010 ele declarou ao jornal Folha de São Paulo que guardar cobras é bobagem e que a pesquisa que era feita com elas era de quinta categoria:
“Aquilo [o acervo] é uma bobagem medieval. Você acha que a função do Butantan é cuidar de cobra guardada em álcool ou fazer a vacina para as crianças?”, disse. Para ele, “não dá para cuidar das duas coisas”.2
Na mesma reportagem da folha há outra declaração de Paulo Vanzolini, o mais importante zoólogo brasileiro vivo, dizendo que a pesquisa pode ser de baixa qualidade científica, mas que a coleção tinha grande valor científico.
Não é de espantar que a ciência e os museus sejam tratados assim no Brasil. Se o país do futebol, primeiro tri campeão do mundo, não conseguiu guardar em segurança a taça Jules Rimet do tri campeonato mundial, roubada da sede da CBF e derretida, em 1983 , imagine então cuidar do acervo de um museu científico. Ainda mais quando o próprio presidente do museu acha que aquilo tudo é bobagem.
Referências:
2 – http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u737834.shtml