Quem nunca recebeu uma desilusão amorosa?
Quem nunca sofreu por amor?
Quem já passou por isso sabe como dói, mesmo que não possamos dizer onde a dor está acontecendo. Basta lembrar-se da pessoa amada. Na verdade, na fase mais aguda não é preciso lembrar, pois nunca a esquecemos, raros são os momentos em que não estamos pensando nela.
Quem já passou por situações traumáticas também sabe como é viver com essas lembranças.
E se lhe fosse oferecida a chance de apagar essas lembranças? De uma forma tão simples como tomar uma pílula?
Pois é, não estou falando de um filme, ou de um livro. Essas drogas já existem.
Vários estudos estão mostrando que é possível apagar lembranças, de forma seletiva, e garantir que novas lembranças possam ser registradas.
Já em 2007, o site O globo noticiava reportagem do “Journal of Psychiatric Research”, onde pesquisadores das universidades de Harvard e McGill, em Montreal testaram o uso da droga propanolol em conjunto com psicoterapia, para amenizar os sintomas de estresse pós-traumático em 19 pacientes que sofreram acidentes ou abuso sexual.
Em 2009 outra droga chamada ZIP foi testada por cientistas americanos e israelenses, apenas em ratos, e se mostrou eficiente na eliminação de memórias “ruins”.
Os cientistas descobriram que as lembranças são armazenadas por redes de neurônios, cujas sinapses (conexões entre os neurônios) são fortalecidas quando essas lembranças são reforçadas constantemente. Esse fortalecimento acontece pelo acúmulo de um tipo de molécula chamada PKMzeta na ponta das sinapses. A droga ZIP interrompe esse processo quando é aplicada diretamente no local onde essas lembranças devem-se formar.
Em um determinado estudo, ratos foram treinados a sentirem-se estressados ao ouvirem dois tons de um determinado som (após esses dois tons específicos eles recebiam um choque). Ao ouvirem esses tons os ratos já se preparavam para o choque. Após a injeção da droga o estresse não acontecia ao se ouvir som.
Em outro estudo, ratos aprendiam a evitar determinado alimento. Após a droga, esqueciam disso e se alimentavam desse alimento, passando mal em seguida.
Em um estudo mais recente, ratos ficaram viciados em cocaína. Qualquer estímulo era suficiente para que os mesmos buscassem a droga. Essa memória fica armazenada no centro de recompensa do cérebro. Após a injeção da droga, os ratos ficaram livres do vício.
Reportagem do dia 22 de agosto de 2011 do jornal Folha de São Paulo comenta artigo publicado na revista “Nature” (uma das mais conceituadas revistas científicas do mundo) do advogado Adam Kolber de Nova York, que defende o uso dessas drogas para testes em seres humanos. A reportagem também argumenta que vários bioeticistas são contrários a esse uso. Eles argumentam que ao invés de buscar a solução em uma pílula, deveriam “transformar más experiências em coisas boas”.
Em 2004, foi lançado o filme “Brilho eterno de uma mente sem lembranças” ((Eternal Sunshine of the Spotless Mind) do genial roteirista: Charlie Kaufman, roteirista dos filmes:
- Quero ser John Malkovich ) (1999)
- Human Nature (A Natureza Quase Humana) (2001)
- Adaptation (Adaptação) (2002)
- Confessions of a Dangerous Mind (Confissões de uma Mente Perigosa) (2002)
Em Brilho eterno de uma mente sem lembranças, estrelado por Jim Carrey (o máscara) e Kate Winslet (Titanic), e participação de Elijah Wood (Frodo, Senhor dos anéis) e Kirsten Dunst (homem aranha), o personagem de Jim Carrey (que nesse filme consegue se livrar das insistentes caretas) sofre uma desilusão amorosa e decide apagar da memória as lembranças de sua amada. O método utilizado no filme é bem diferente de tomar uma droga, mas a forma como o filme é conduzido é muito legal.
E você? Usaria um remédio desses? Evitaria o sofrimento atacando o “mal” pela raiz?
Eu confesso que não usaria. Além do medo de que me apaguem lembranças importantes, penso que por mais que o amor possa nos causar sofrimento, acho que é esse sofrimento que nos faz crescer. É o amor que torna nossas vidas significantes, quer ele seja correspondido ou não. Ter a lembrança de um grande amor, mesmo que essa lembrança seja sofrida, é sentir-se vivo.
Em tempo: A TNT vai exibir o filme: Brilho eterno de uma mente sem lembranças na terça feira 27 de setembro as 22 horas!
Referências bibliográficas:
http://www.abc.org.br/article.php3?id_article=1360 acesso em 22/09/2011
http://oglobo.globo.com/ciencia/mat/2007/07/02/296600724.asp acesso em 22/09/2011
http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2011/07/pesquisadores-isralenses-combatem-vicio-em-drogas-com-testes-em-ratos.html acesso em 22/09/2011
http://www.universitario.com.br/noticias/noticias_noticia.php?id_noticia=3864 acesso em 22/09/2011