Estou lendo um livro que recomendo fortemente: O andar do bêbado de Leonard Mlodinow – Editora Zahar, O subtítulo já dá uma boa explicação do que é tratado no livro: Como o acaso determina nossas vidas.
Mlodinow discorre em 232 páginas sobre probabilidade e estatística e como nosso desconhecimento nessas áreas faz com que tomemos decisões equivocadas, inclusive pessoas que julgamos serem especialistas, como médicos e advogados e acabam nos orientando de forma errada, ao fazerem uma leitura equivocada de um exame ou de uma pesquisa.
O interessante no livro é que o autor conta diversos casos e vai mesclando o desenvolvimento histórico da probabilidade e da estatística, com pitadas de explicação do conceito matemático envolvido. Confesso que não simpatizei muito com o estilo do autor, às vezes acho que ele poderia explicar de forma menos confusa, mas pode ser implicância minha.
Uma coisa boa do autor é que ele consegue ser cômico em muitos momentos, o que deixa a leitura bem leve e que pode atrair aos que fogem do assunto: MATEMÁTICA.
Logo no primeiro parágrafo do prólogo o autor nos conta:
Alguns anos atrás, um homem ganhou na loteria nacional espanhola com um bilhete que terminava em 48. Orgulhoso por seu “feito”, ele revelou a teoria que o levou à fortuna. “Sonhei com o número 7 por 7 noites consecutivas”, disse, “e 7 vezes 7 é 48”. Quem tiver melhor domínio da tabuada talvez ache graça no erro, mas todos nós criamos um olhar próprio sobre o mundo e o empregamos para filtrar e processar nossas percepções, extraindo significados do oceano de dados que nos inunda diariamente. E cometemos erros que, ainda que menos óbvios, são tão significativos quanto esse.1
O título do post faz referência ao famoso físico e matemático francês Jules-Henri Poincaré precursor, junto com Lorentz da Teoria da Relatividade de Albert Einstein. Segundo o livro de Mlodinov, Poincaré empregou uma analise estatística para mostrar que o padeiro onde ele comprava pão estava enganando seus clientes. Ao “pesar” seus pães, percebeu que eles tinham em média 950 g e não 1000 g, como o que era vendido. Após reclamar com a polícia passou a receber pães maiores. No entanto Poincaré continuou a medir a massa dos pães e constatou que a média não flutuava para cima e para baixo de 1000 g, todos os pães estavam sempre acima de 1000 g, o que contraria a lei da distribuição normal da estatística. Conclusão: o padeiro não tinha parado de enganar seus clientes, ele continuava assando pães com uma massa menor, apenas destinava os mais pesados a Poincaré. Após uma nova queixa à polícia o problema foi resolvido.
Escolhi contar justamente essa história por um simples motivo. É muito comum que eu encontre alunos na fila do cinema ou em algum parque. Normalmente a primeira pergunta do encontro é: “Professor! O que está fazendo aqui?”, como se nós professores não fizéssemos outra coisa a não ser dar aula e corrigir provas (será mesmo que eles estão enganados?). Outra situação é aquela quando, entre amigos, um deles se vira e diz: “Então calcula aí a velocidade do vento e determina qual a força etc…e tal…”. Físico é um “bicho estranho” então ele deve estar condenado a passar o resto de sua vida fazendo cálculos e imerso em equações.
Esse caso de Poincaré mostra que essa visão do físico não está tão distante da realidade não é mesmo?
1 – MLODINOW, LEONARD – O andar do bêbado: Como o acaso determina nossas vidas – Tradução: Diego Alfaro; consultoria Samuel Jurkiewicz – Rio de Janeiro: Zahar, 2009. Página: 7